(43) - Dimensão dos Extintos

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"No cenário fúnebre e silencioso após a batalha, abracei a recém revivida, da mesma forma como eu mesma fui salva em outra Era pelos dons sagrados da Matriarca. Meus olhos lacrimejaram e gotas escorreram sobre a lunno que fora trazida de volta dos espíritos.

Me emociono todas as vezes. Sempre com a mesma intensidade.

(...)

Essência e Energia que se renovam e remodelam, para a consciência perdurar e rumar, em propósito e missão."

- Nyranuai de Ayldânam, a Tribo dos Bosques, Segunda Discípula e Deidade do Renascimento


MUITO HAVIA para dizer.

— Nosso trilhar é marcado por pegadas que escrevem nossa passagem pela terra, assim como na aura. Somos gerados pela nossa tribo e convivemos com aqueles que comungam da mesma origem. Por nossos semelhantes, vivemos e crescemos, sem nunca um fim ser imposto. Para Sý'Einna, muitos são os caminhos, pois mesmo que teu corpo não permaneças perene em Ýku'ráv, teu espírito se erguerá ao celeste. A consciência nunca se perderá quando em Nhãmrú tuas memórias se tornarem pura essência, e, com Ela, teus atos e teus feitos hão de serem reconhecidos, e tua história de passagem servirá para inspirar o cântico que ecoa no Manto. As novas divindades que hão de se anunciar, ouvirão o teu ecoar áurico junto com o ecoar de tantos outros antepassados, e desta forma, elas serão guiadas.

Pouco tempo restava.

— Minha sina não é um fim, tampouco a recuso. Orgulho-me imensamente de meu trilhar. Se a escolha me fosse um direito, lutaria por mais infindas batalhas em teu nome, Yîarien, Luz Noturna Sobre o Mar. — Nada mais enxergava. A escuridão do cômodo só permitia ao sothe ver a silhueta da lunno com o véu fino no cabelo. — Eu fraquejo, Grande Mãe... eu...

Dois dedos silenciaram-lhe os lábios com delicadeza. Não o censurava as palavras, pois Yîarien queria impedir que o guerreiro gastasse suas últimas energias sussurrando palavras afogadas.

Não podia ver os olhos dela, mas ela podia distinguir o reluzir pálido no fundo dos dele, se esvaindo, cada vez mais. Deslizou a parte de trás da mão pelo rosto frio dele e o envolveu afetuosamente no peito.

"...E no final, ecoou A Canção para toda a Nova Existência. Em luto, Nhãmrú abraçou todas a coisas e desvaneceu a si mesma, se tornando a Aura..."

Elevou o rosto à face dele, até encontrar sua fronte com os lábios. Quando o suave beijo terminou, o peito não pulsava mais, os olhos descansavam e a respiração também.

— Através das luzes eu venho como um caminho. Que eu ouça o lamento dos aflitos e lhes alcance, jamais sendo tarde. Que o conhecimento me traga o dom da cura e a sabedoria da cicatrização. — Na penumbra, Yîarien derramou seu pranto. Questionava-se quantas lágrimas surgiriam até que subisse ao trono e quantas mais ainda derramaria após.

Retirava-se do compartimento para a passagem externa, onde no corredor do navio aguardava sozinha sua fiel guarda-costas. Ela a fitou com um olhar de companheirismo, compartilhando de suas dores.

Um elo áurico era sentido pelas duas.

— Obrigada por me permitir testemunhar tuas palavras. Elas são sábias e carregam ternura. Todos os awbhem deveriam lhe ouvir — falou Wanäe com ataduras no braço ferido.

A guardiã carregava na outra mão um suporte com velas, mesmo assim aquela iluminação quase não era notável na visão de Yîarien. As íris da lunno estavam negras e sua feição abatida devido ao ataque espiritual que sofrera, entretanto, sem deixar de exalar um ar de graça em sua imagem sagrada.

Quinta Lua (Ýku'ráv)Onde histórias criam vida. Descubra agora