(09) - Luz Maculada

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 "Sý'Einna. Nährus. Endamyan. Nyranuai. Yul'rra. Êllyra. Ellêora. Níshma.

Eis os nomes aos quais, respectivamente, a Grande Mãe, o Grande Pai e as Seis Discípulas são mais conhecidos na Gállen. Essas deidades constituem os fundadores originais do consagrado Panteão Awbhem, venerado pelos povos dos continentes que um dia viveram sob a guarda da Antiga União e comungaram das mesmas adorações(...)

(...)para nossa tragédia, nenhum deles perdurou em suas formas físicas até os dias atuais, mas seus espíritos, ainda sopram(...)

(...)das divindades awbhem remanescentes sobre Ýku'ráv, somente Elthuryan e eu mantivemos nossa forma intacta."


- Escritos da Sétima Discípula



O ESCURECER enaltecia a Lua Rubra ardendo na flama interior do respectivo furor, difundindo-se acima do resplandecer gélido da Lua Alva. Formava-se, assim, a Luz Maculada, como a combinação dos luares fora nomeada pelas caçadoras das Eras Esquecidas. A iluminação que as exaltavam às vésperas da perseguição da presa e dos rituais sanguíneos.

Do centro do monte, abaixo das copas visíveis, levantou-se o pesado som contínuo, dominando densamente a atmosfera das Fronteiras. A primeira trompa rugiu. Automaticamente, toda a legião suspendeu a marcha que prosseguia pela estrada.

— Parede de escudos! Falange! — Dranvath brandiu com o máximo de sua voz, e metade do exército se situou para a esquerda.

Dois mil guerreiros alinharam disciplinadamente seus escudos de moldes retangulares de cantos curvos, gerando uma intimidadora sequência de ruídos de metal batendo contra metal, intercalando com suas lanças os vãos justos onde os bloqueadores não conseguiam se tocar, propositalmente usados para apoiar as armas. Camadas como essa se fizeram, criando quase repentinamente uma assustadora muralha orgânica de aço.

Enquanto o restante dos soldados se movia para proteger os flancos, uma nuvem cinza de projéteis longos desceu dos montes da margem oposta, zunindo sobre todos, saraivando a tão organizada parede pelas costas, onde encontravam-se desprotegidos. A cada segundo, dezenas de soldados eram alvejados por flechas, e escudos e armas começaram a ser largados ao chão pelos guerreiros debilitados ou mortos. As fileiras se desestabilizavam, e se partiriam nesse ritmo.

Sow'pushem! Sham'shype! — General Dranvath ordenou novamente, dominado pela emergente ira de ter sido facilmente enganado logo ao primeiro movimento.

Os legionários sob seu comando o respeitavam, o que era ainda mais admirável por ser uma humano, um ser de vida curta, comandando a vida de elfos, dotados de uma expectativa de vida muito maior. Era esperado que um general vivesse muito antes de atingir este cargo, então as barreiras para uma criatura não élfica iam além das culturais; era uma questão prática, um filtro natural na Gállen. Ele se destacava por ser um dos únicos em alto comando das forças de Arutama que vivera poucas décadas, e ainda assim demonstrara valor e lealdade.

As flechas choviam continuamente nos alvos, até levantarem os escudos como uma muralha que cobria a luz das luas. As últimas setas bateram no metal como granizo em um tilintar agudo, que partia os projéteis que não ficavam cravados ou que não penetravam com sorte pelas frestas. Na direção que vinham os disparos que cessaram, os cavaleiros da legião trataram de perseguir e assediar aqueles que os ameaçavam. Diferentemente do que se era pensado, as forças recrutadas pela legião contavam com infantes de uma boa sorte de espécies, além das castas awbhem, havia ysokem, sh'hilas, e até mesmo ras'nas, cada qual distribuído taticamente nas colunas, de acordo com suas vantagens e fraquezas.

Quinta Lua (Ýku'ráv)Onde histórias criam vida. Descubra agora