(06) - Legião das Fronteiras

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"Não há necessidade de espólios ou promessas de fortuna para motivar os guerreiros de Surkhedon. As ordens do Sumo já carregam glória suficiente para impulsionar suas lâminas contra os opositores que lhes são indicados. Os cantos de guerra saúdam a Força de Bálshiba, o primeiro descendente do Grande Pai, único herdeiro digno do trono da Gállen. Que os traidores pereçam perante nosso furor!"

- Clamor de um comandante de Arutama

Após a cisão dos Povos do Norte e das tribos do sul



CANTOS DE vozes graves acompanhavam as batidas dos tambores. O inimigo fora nada senão um entretenimento; milhares foram derrubados e as baixas do Império, irrisórias.

Os guerreiros celebravam tal costumeiramente faziam após uma vitória. No vasto acampamento firmado próximo às montanhas do outro lado da Floresta Dourada, pouco antes dos Bosques Nyra'dânam, a legião se vangloriava do último feito. Entre cavalaria, arqueiros e infantaria, ao todo, somava-se uma expressiva força de quatro mil legionários.

— Uma vitória simples. Sem sentido aparente. E mesmo assim, comemoram como uma conquista árdua. De qualquer modo, todos que se opõem a Surkhedon são traidores, indignos da vida. — O general Dranvath, o humano líder do contingente incumbido de vigiar a entrada Norte das Fronteiras, caminhava nas bordas do acampamento. — Claramente, esse movimento tão fácil esconde um propósito maior nos planos do Sumo. Matamos todos, mas permitimos ao alvo escapar propositalmente. Adoraria saber o real sentido disso. — Sentia-se incomodado com o silêncio do agente. — O que acha?

— Minha função não é achar a respeito dos acontecimentos — disse Vijh friamente dentro de seu capuz. — Um soldado não julga; ele leva o julgamento.

Dranvath gargalhou e logo se recompôs.

— Claro que não poderia esperar nenhuma resposta diferente vinda de um executor direto. — Mandantes de tropas e agentes especializados sempre trabalharam em conjunto, cada qual demonstrando suas aptidões em seu ramo das legiões de Bálshiba. Todavia, existia uma inegável rixa por influência entre essas duas categorias que detinham alto prestígio na sociedade das tribos e entre os Árbitros. — As ordens que me foram dadas são categóricas a partir desse momento. Rumaremos para dentro de território hostil durante a perseguição do objetivo, executando qualquer selvagem e nórdico maldito que se manifestar. Continuará a nos acompanhar?

— Minhas ordens também são bem específicas — falou o agente de manto obscuro, mantendo o arco disposto atravessado nas costas — Eu e meu séquito partiremos por um caminho distinto do de vocês quando for a hora certa. Por enquanto, seguiremos o rastro que continua fresco. — Vijh utilizava suas feiticeiras para descobrir a passagem do alvo principal com as impressões deixadas na Aura, e ocultava como sabia o caminho a ser trilhado, orientando para onde Dranvath deveria levar seus soldados.

— Presumo que não estejamos caçando a mesma presa então — indagou o general de armadura completa, de aço rubro, somente faltando o elmo de penacho vermelho que era carregado no braço.

— Se isso foi uma pergunta, a resposta é a mesma que a anterior.

Dessa vez, Dranvath apenas sorriu, sóbrio, ficando farto das respostas nada esclarecedoras, além de se ver submisso às instruções de marcha do agente.

— Esperava ao menos uma resistência mais pesada por conta do adversário. Sinto-me predando um poake indefeso aqui.

— Dependendo da reverberação do ocorrido nos bosques, desafiadoras batalhas se alinharão no futuro — proferiu Vijh, mais sombrio que de costume, o que não parecia ser possível. Ele era um reconhecido líder de esquadrão, mas também um estrategista que, por múltiplas vezes, antecipou corretamente a ação dos rivais. — Mais próximo do que parece. Quando o inimigo se revelar, verá por si mesmo como, em nada, são indefesos.

Quinta Lua (Ýku'ráv)Onde histórias criam vida. Descubra agora