(04) - Floresta Dourada

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"Quando as lunnos d'outrora questionaram o motivo de seus organismos serem inférteis, chegavam a uma conclusão unânime entre elas: a natureza das lunnos não é a de prover vida, mas de guiá-la."


- Tomos Sagrados, Pergaminho das Lunnos



Nyra'dânam

Bosques de Nyranuai

Ciclo 1348, Mês da Fertilidade



DESOLAÇÃO.

ERA o maior dos sentimentos de Yîarien.

Percorreram estradas arcaicas e ainda funcionais erguidas no auge da União interligando os principais pontos da Gállen. As vias trilhavam por ermos descampados e vastos. Havia se formado um contingente numeroso de indivíduos de povoados do caminho que aderiram à marcha dos adoradores das luas atraídos pelos boatos da futura Matriarca, e quanto mais ao sul, maior ficava esse número.

Apesar de toda a atenção exagerada que recebera por ser tratada e encarada como uma divindade viva em terra, principalmente pelos acólitos, a desolação afligia seu interior de modo cruel. As aquelas pessoas ao lado de fora de seu transporte representavam diversas etnias e espécies, e nem ao menos as conheciam.

— Nós alcançamos o limiar das Fronteiras — informou Devmo sentado ao lado oposto da estrutura de madeira do veículo. O sothe amadurecera durante os ciclos que passara ao lado da lunno a orientando em Aitháa, mas sua feição companheira era perpétua.

A ansiedade estava se alimentando do grande peso posto sobre ela, e sua fala era suprimida, não pela dubiedade de si mesma, mas pela expectativa dos que confiavam nela. Então, apenas assentiu com a cabeça.

As vozes do lado de fora entoavam cânticos, em sua maioria alegres. Alguns desses cantos, ela reconheceu, lembravam as lendas gallênicas de outras Eras, enquanto outros eram novos, em dialetos até mesmo desconhecidos.

"Vozes tão incontáveis quanto as estrelas".

Toda a comitiva saíra definitivamente do território dos Povos do Norte e penetrara em terras selvagens que serviam para delimitar a separação das três grandes facções do conflito élfico. A estrada que os guiava levava em paralelo às Cordilheiras do Limiar, ao leste. Por dias, essa muralha de rochas de cumes nevados os acompanhara de longe até que chegaram aos bosques fronteiriços entre Surkhedon e o Norte; Nyra'dânam, que um dia havia abrigado as criações da Segunda Discípula. Até mesmo naqueles dias era possível encontrar animais que em outro lugar não havia, com beleza e harmonia áurica notáveis. Estas, sem dúvidas seriam frutos órfãos que vagam sorrateiros pela mata que antecedem os montes.

Entre as árvores de troncos verdes de copas esparsas, encontraram a passagem pelas montanhas fechadas que direcionava para Eyve'thir, a Floresta Dourada.

Na dianteira, as vigilantes ganharam terreno cavalgando no novo cenário. A vegetação cheia de viço do outro lado das montanhas deixava de existir. As formas arbóreas da mítica floresta estavam totalmente secas e enegrecidas havia séculos, e o solo cobria-se por folhas sem vida que revestiam todas as direções. A estrada acabava em ruas de um aglomerado de templos havia muito esquecidos, com o cume de torres, colunas e estruturas piramidais despontando acima das copas sem folhagem. Tudo era inerte e calado. Nem mesmo o vento ousava visitar aquele bioma eternamente lúgubre.

Quinta Lua (Ýku'ráv)Onde histórias criam vida. Descubra agora