"Muito aprendi. Ouvir a ressonância magistral do Eremita era só o prelúdio da expansão de meu espírito. Caminhei ao seu lado pelo deserto sem me cansar, ouvindo Dele as revelações sobre a terra e o tempo, e me surpreendia na humildade profunda que havia naquele que era o mais sábio dentre os sábios. Tudo o que estava sendo feito através das palavras Dele em Mídd representava uma fração minúscula do que se projetava gloriosamente a nossa frente.
Senti que Zyshuth precisava de mim e eu me mostrei útil de todas as formas que me cabiam. Descobri que havia a necessidade daqueles que seguissem seus ensinamentos com clareza, do mesmo jeito que os kaskres, mas que fossem algo além: teriam de ser seguidores que carregassem a Vontade e transmitissem sua Palavra. Era a necessidade de existirem mensageiros e juízes, na mesma figura, com autoridade de falar e agir em Seu Nome. E me incumbindo deste dever, o Eremita consagrou a mim como o primeiro Arauto. Nesse ponto, meu domínio sobre as Forças se engrandecia e minha carne se tornava uma ilusão nesse mundo, uma minúscula manifestação de minha influência espiritual. A imortalidade comungou com meu espírito e meu corpo transcendeu o ciclo da morte.
A líder dos kaskres, a cavaleira sh'hila que me acolhera, havia sido enaltecida pelo Senhor da Passagem igualmente, que a tornou em grã mestra. E como ato de companheirismo, a grã mestra me concebeu uma honra que só existia entre os cavaleiros, um rito de transição entre aprendizes e alunos que consistia em dar um nome verdadeiro ao indivíduo, que o representasse dentro do bando. Ela fora uma tutora para mim, sobre a fragilidade dos mortais e os valores de um caçador, e me dera o título de Intercessor do Deserto, que corresponderia aos meus talentos.
Tendo um dever e um nome estabelecido para meu espírito, viajei solitariamente para minha aldeia de origem. Reencontrei com irmãos que envelheceram muito mais do que a mim, e entre os filhos de seus filhos deparei-me com jovens que alimentavam silenciosamente a mesma ardência no peito. E com meus ensinamentos sobre o equilíbrio, aquietei a agitação de seus espíritos e esses vieram a ser, pela vontade do Eremita, Arautos iguais a mim.
Essa fora a geração de sábios Pastores da Terra.
E logo que meus sucessores já estavam aptos, eles mesmos buscaram por aqueles que tinham afinidade com esse dever sagrado.
Assim, eu fui a pegada primordial de uma das grandes obras de Zyshuth.
Naquele tempo, a identidade k'ammuriana se consolidava a passos largos. As fileiras iniciais de soldados eram definidas para se oporem às ameaças e os kaskres eram os principais guerreiros deste povo, jamais agindo como meros assassinos, pois zelavam pela proteção do equilíbrio acima de tudo.
Zyshuth não era tolo. Ele jamais apoiou a violência por si mesma, mas nunca deixou que seu povo fosse vulnerável aos predadores.
Antes que toda Mídd se integrasse, confrontos localizados ocorreram, mas felizmente a maioria dos reinos menores aceitaram de boa vontade a junção ao que agora podia ser visto como um império.
E, enquanto crescíamos, os gallênicos vieram do Oeste, do outro lado das cordilheiras intransponíveis. Nós já os conhecíamos, eram os elfos, raros no deserto, mas nossos povos nunca tiveram relações, até que uma de suas diplomatas sagradas, Nyranuai, acabou por se tornar vastamente reconhecida e adorada pelos sacerdotes míddicos. Ela trouxe a aliança dentre o Senhor do Tempo Zyshuth e a Mãe-Rainha Sý'Einna.
Gallênicos e Míddicos levantaram o mesmo estandarte em suas torres e, pela primeira vez, o Calendário iniciou sua maior contagem que redefinia os séculos: a contagem das Eras.
A Primeira Era, a Idade da União, alvorecia, e para selar a aliança entregamos um formidável presente aos gallênicos, forjado por Zyshuth junto dos Arautos. A semente dourada fora entregue às mãos da magnífica Nyranuai que a levou ao seio dos bosques sob as cordilheiras do Limiar. Em meio aos templos das muitas crenças memoráveis, Eyve'thir, a Floresta Dourada, germinou.
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Quinta Lua (Ýku'ráv)
Fantasy(LIVRO COMPLETO) *Fantasia Épica em Terceira Pessoa focada na trama entre divindades vivas e mortas: um testemunho lírico em forma de livro sagrado dentro deste universo próprio* (+18) Sinopse: "A Matriarca nos governava com sua eterna sabedoria. T...