(28) - Valor e Reputação

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"Eu transcendo. Testemunho em mim o passado se reescrevendo. Os pergaminhos, os relatos escritos, e principalmente o jeito que atualmente elas são lembradas quase me fazem crer que as lunnos estão espalhadas por todos os locais, explorando e ensinando, tal era antigamente. A essência da lunno é forte, e ainda pulsa nas histórias e contos deste tempo. Nunca convivi com outra para me espelhar. Assumi a postura que os que me rodeiam esperavam de mim como uma lunno, ao mesmo tempo que busco me identificar com as que não existem mais. A imagem melódica deles me moldou como sou, enquanto anseiam de mim a mudança que eles mesmo tanto almejam. Maravilhosa é essa poética ironia para uma deidade." 

- Yîarien Quinta Lua, a primeira Lunno nascida após o Banimento



PASSARA PELA provação. Thâmyr chegou ao extremo que não imaginava existir. Reviveu dilemas escondidos no abismo de seu espírito. O mais poderoso dos inimigos busca expor a vulnerabilidade sem necessidade de armas.

Após o ocorrido com a feiticeira, o grupo inteiro se dedicou em certificar-se de que não havia outros os seguindo pelos túneis. Faziam paradas irregulares, vigiavam a retaguarda e as laterais, tanto as plataformas inferiores quanto superiores. Adúry sugerira túneis um pouco mais distantes para despistar, e assim fizeram, mesmo que não considerassem totalmente necessário.

— Demasiadamente convenientes essas ruínas para uma feiticeira. Muitos andares, vários salões isolados, incontáveis passagens, escuridão e outros elementos bem vantajosos — Wanäe comentou, jogando as palavras no ar, analisando com cuidado a reação de cada um. — Virmos para baixo do deserto não nos impediu de sermos seguidos.

— Apenas quero recordar que a ave de quatro asas nos fez escolher esse caminho e todos concordamos — Thâmyr relembrou o fato. A amistosa rixa entre o cavaleiro e guardiã estava de lado. O grupo permanecia em uma atmosfera densa ao qual Yîarien tentava amenizar. — Não sei quão habilidosa era a feiticeira, mas ela teria que simular a ave perante os olhos de todos nós ao mesmo tempo e ainda assim, teria que ter a sorte de escolhermos esse caminho conveniente, se é isso que insinua.

— Ela sussurraria essa sugestão em tua mente.

— Então ela teria de conhecer do deserto muito bem — ele contra-argumentou, com pouca paciência. Adúry e seu aprendiz observavam.

— Ela teria visto isso dentro de sua mente. — A guardiã o encarou, aguardando o novo argumento dele. Wanäe parecia o acusar de permitir que a feiticeira se infiltrasse entre eles por imprudência, por ter passado tanto tempo sozinho durante os acampamentos, dando a abertura desejada para a inimiga.

— Vocês dois, por favor, parem!! — Yîarien exaltou-se, ignorando a linguagem culta que a caracterizava. Não permitiria a tensão crescer mais ainda. Precisava do grupo unido. — Nenhuma conclusão que cheguemos irá ajudar. Em nada.

— Tens toda razão. — Wanäe ouviu e se normalizou, estranhando a reação da lunno. — Não conheceis a dimensão do poder dos filhos de Nährus. Eles foram o motivo de Aylentar não ter sido consumida pelos Asi'Kales na Segunda Era. Os ver'kirins são awbhem, uma raça diferente da primeva composta de sywhas, sothes e lunnos. — A guardiã se recostou. — Cada indivíduo é um herdeiro do sangue sagrado, mesmo que gerações lhes afastem da primeira linguagem do Grande Pai, e todos, sem exceção, devem completa fidelidade ao seu Primogênito.

— Bálshiba — Yîarien mencionou sombria.

— Bálshiba os usa como seus soldados mais eficientes — retornou no mesmo tom. — Alguns são generais e estrategistas, outros são agentes e executores. A feiticeira ser uma ver'kirin não me surpreendeu em nada.

Quinta Lua (Ýku'ráv)Onde histórias criam vida. Descubra agora