(16) - Estrelas Congeladas

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"Com um bramido feral para levantar o próprio moral, Nährus ignorou a haste atravessada no peito e demandou tudo que seus músculos ainda podiam oferecer. Revidou contra os algozes bestiais sem se entregar para o ferimento letal, rechaçando hostes opositoras banhado em sangue e barro." 


- Relatos sobre Nährus

Batalha decisiva por Aylentar



NÃO TINHA ideia de para onde iam, apenas que precisavam cavalgar. Para longe. Seguiram trilhas que os levavam mais ainda ao leste, seguindo as cordilheiras. Yîarien pressentia que o inimigo não voltaria a atormentá-los tão cedo. Conheceram o dom de manipulação dela e iriam se preparar caso quisessem caçá-la novamente. Mas essa preocupação ficou em segundo plano de sua mente. Ela precisava, mais do que tudo, salvar Thâmyr.

No meio de uma campina com o esqueleto de construções abandonadas, onde possivelmente funcionara uma fazenda, eles pararam exaustos. A lunno estava mais disposta, e por isso assumiu a dianteira da cavalgada pela primeira vez. Ela se virou para o lanceiro, para presenciar uma cena que jamais esqueceria: Thâmyr deslizou de cima de Renthäm e caiu no campo, sem forças para se manter na sela.

"Um cavaleiro kaskre caindo de sua montaria".

Ela desmontou para ajudá-lo.

O rosto dele estava febril, a pele estranha, a voz sumindo. A imagem era extremamente deprimente para Yîarien que sempre o vira como um bastião protetor, invencível e potente, infinitamente disposto a combater qualquer oponente. Então ele assumira a peculiar posição de membro frágil do grupo. Nenhum dos dois deveria ser frágil, pois um apoiava a fraqueza do outro.

Thâmyr retirou lentamente de suas vestes um objeto escuro de superfície talhada, uma pedra incomum que se assemelhava a uma concha que carregava consigo o tempo todo. Ele estendeu a mão para entregar, ou melhor, devolver.

— Nunca aproveitei a chance de perguntar o que isso significava — admitiu Thâmyr, com a voz mais debilitada do que antes, de um modo muito preocupante.

— O Emblema D'água. — Yîarien quase não tinha recordação da existência daquilo. Naquele instante, era uma lembrança turvada em uma dor que fora enterrada. O último momento que vira foi quando ela mesma havia recebido das mãos do monarca dos vaynus do Lago das Brumas e repassado para Êdya, e poderia jurar que o objeto jazia junto dela no centro da Floresta Dourada. — As criaturas que habitam sob as águas perto de minha tribo de origem o têm como símbolo da própria divindade que veneram, e acreditavam que eu era a personificação encarnada dela — ela explicou melódica, não escondendo a própria tristeza em ver seu parceiro daquela forma. — Esse emblema deve ser entregue para aquele que for designado a me proteger, e por essa razão, permanecerá contigo. — Ela estava surpresa de, em todo esse tempo, o símbolo vaynu ter a acompanhado em segredo através de Thâmyr. O objeto de pura representação supersticiosa ganhara um significado grandioso aos seus olhos, além da ligação com Êdya e dos outros que, junto dela, pereceram por seu nome. — Porque meu maior desejo é que continue contigo. — E algumas lágrimas que gotejaram não puderam ser vistas na chuva, pois sua sensibilidade de lunno a fazia lacrimejar com facilidade, mas não se culpava por isso.

"...Nindýu, a divindade suprema dos Vaynus, a força guardadora dos vivos que conduz o fluxo da essência..."

— Deve ser importante — falou ainda mais fraco. — Agradeço.

Quinta Lua (Ýku'ráv)Onde histórias criam vida. Descubra agora