(15) - Escriba de Vemore

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"Sei como o inimigo luta; ele sente prazer em ver o oponente rastejar buscando a arma na areia, para então dar o golpe final quando a alcança. É o suficiente para garantir uma falsa esperança para frustrá-la. Tenham cautela, minhas guerreiras, a natureza da violência é sedutora."


- Ákera

Libertadora dos povos do Norte


Yl'hinyrm

Planícies altas



DE CIMA da colina, na claridade da tarde que findava sob o céu aberto, e em uma distância segura, observavam Vemore, uma cidade bem viva que crescia sem maiores preocupações com as batalhas que ocorriam entre os elfos, sendo seu acesso por rio um porto final aos navios mercantes vindos do Lago das Brumas, Arum Sov e Endra. O terreno que acompanhava o caminho até Vemore, vindo do sul, era de difícil passagem. Viajantes andarilhos e eventuais caravanas evitavam fazer esse percurso quase abandonado. A urbe não apresentava muralhas, e várias estradas do interior de Yl'hinyrm acabam nela, trazendo um considerável fluxo de comerciantes.

— É maior do que Aitháa — Yîarien comparou à dimensão de sua tribo. Vemore tinha um estilo bem mais simples, mas não rústico, talvez por se tratar de um assentamento recente que se desenvolveu rápido, diferente de Aitháa que fora planejada em épocas de engenhosos construtores como Rimanesh e perduraram até hoje, mas nunca deixando de ser uma tribo. Por ser a maior cidade antes dos bosques de Nyranuai e por ter vastas terras, muitos imigrantes acabaram arrumando morada em Vemore e em suas redondezas, para trabalhar principalmente no campo e nas minas. — E deve haver mais pessoas morando também. Eles certamente são mais do que só fazendeiros. Provavelmente veneram a Quinta e a Sexta discípulas com mais fervor.

Fazia vários dias que ambos cavalgavam pela província do Norte, evitando contato com qualquer um. As cordilheiras do Limiar, ao leste distante, despontavam tímidas no horizonte; eram as únicas montanhas em que os cumes eram brancos de neve permanente.

O kaskre olhou para ela. O traje que vestia fazia dela uma figura comum, sem ornamentos chamativos se destacando, sendo que as joias que ela vestia continuavam escondidas por baixo da roupa. A seu ver, Yîarien encapuzada aparentava uma sywha perto de atingir a idade adulta, mas a voz dela definitivamente a entregaria como alguém especial. Por sorte, ninguém saberia como é a voz de uma lunno, mesmo assim Yîarien tinha plena noção que falar, mesmo baixo, seria mais uma forma de se expor.

— Consegue decorar esse local com precisão?

Yîarien retornou o olhar para ele, curvando o rosto.

— Se precisar, consigo sim. Qual o motivo?

— Melhor evitar que você fique circulando nas ruas. Renthäm está equipado demais para ser uma simples montaria de viajante. A chance de atrair olhares curiosos só aumenta. Minha ideia é você aguardar dentro de um dos estábulos afastados com os dois poakes enquanto eu encontro com Yrush. Se desconfiar de algo ou se eu demorar muito, corra com os animais para essa colina. Então farei de tudo para me reencontrar com você.

— Isso na pior das hipóteses.

Thâmyr respirou fundo. Estava tenso para fazer uma simples visita a um amigo confiável. Ele sabia que Yîarien não era tão vulnerável quanto aparentava, mas detestava se afastar dela. Soltou o ar do peito. Ele ficara um tanto neurótico com a perseguição do inimigo, até mais do que a própria lunno. Não sabia quantos agentes ou soldados de Bálshiba perseguiam eles, mas esperava sempre pelo pior. No final, sabia que exagerava em seus pensamentos.

Quinta Lua (Ýku'ráv)Onde histórias criam vida. Descubra agora