Ato V: T'zuah
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"É evidente que Ysokem é uma palavra da língua awbhem que pode ser traduzida como Os Que Vivem Intensamente, ou Vida Curta. Cogito que essa palavra não tenha sido cunhada de forma pejorativa, mas para diferenciá-los e explicar o modo que vivem. Humano é a forma que os ysokem nomeiam a si mesmos, e acredito que esse tenha sido, desde um passado distante, a nomenclatura comum para todos desta populosa espécie.
Em Midd, a ampla presença ysokem e sh'hila fez e faz com que a língua k'ammuriana envelhecesse notavelmente, o Írathá. Ambas as espécies são, pela ambiguidade das palavras, 'dotadas' de longevidade curta. Em meu tempo de vida, o dialeto sofreu uma drástica metamorfose, e graças ao intenso comércio, as mudanças afetaram a todos. Diferente dos gallênicos que são dominados pelos awbhem, não necessariamente em números, mas em cultura. Um awbhem comum vive ao menos quatro vezes mais que um ysokem, desacelerando o envelhecimento do dialeto, creio eu, na mesma proporção."
- Intercessor do Deserto
Telä de Suruhwo, a 'Ilha Maior'
Terceira Era, Idade do Banimento
Ciclo 1349, Mês da Fertilidade
NEM TODO cântico trazia regozijo. Por vezes, a beleza vinha em uma face soturna e incompreensível.
Túnica cor ébano desenhava a silhueta, e sobre ela os muitos véus brancos semitransparentes que cascateavam da cabeça. A coroa de gavinhas e pétalas negras ornavam sobre os tecidos que compunham o capuz. Dos pés até o rosto, toda a derme fora tingida de alvo cerimonial. Os lábios e os contornos das orbes foram pintados de preto. Havia símbolos ao centro da testa e sendo projetados abaixo dos olhos, decorando as bochechas. Perfurados na cartilagem das orelhas, argolas de metal branco ornavam as extremidades, além de brincos que suspendiam ícones representativos — uma folha, uma presa, uma pena e uma joia; as três tribos da Ilha Maior e a metrópole portuária.
Chama pálida anil incidia pelos níveis da galeria, luz proveniente da composição alquímica depositada nos recipientes que substituíam as tochas em diversos locais. Quatro, a base da numerologia awbhem, era o número de sarcófagos alinhados uns sobre os outros dentro das seções das paredes. Corredores comportavam centenas de túmulos e para cada um inscrições foram feitas, lembranças marcadas e feitos registrados, formando no total uma só história com visões diferentes. Todas tinham nomes em runas írathá e em glifos kandhú, com os escritos talhados na rocha com precisão.
Poucas companhias estavam ali senão os que à tumba cuidavam e parte do séquito. Suas mãos estavam calejadas, e dos dedos aos ombros sentia-se desgastada, com o corpo quase exaurido de esforço físico. Focara o controle corpóreo para amenizar este cansaço.
Membrana que reveste a visão marejada se retraiu. A íris prateada estavam nitidamente destacadas naquele rosto pintado.
— Por mais de um mês percorremos pelas quatro tribos da Ilha Maior. Durante todo o Mês da Renovação conheci melhor o meu povo. Estive viva, em contato com eles, participando de suas rememoráveis celebrações. Entretanto, minha peregrinação se encerra aqui, onde eu a principiei. — Por conta própria, Yîarien pousou a coroa ao altar da galeria central. O teto ali se fechava mais alto do que os demais segmentos da tumba. O ar estagnado entrava e saia pelo seu peito. — Muitas coisas não planejadas aconteceram e muitas hão de acontecer.
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Quinta Lua (Ýku'ráv)
Fantasy(LIVRO COMPLETO) *Fantasia Épica em Terceira Pessoa focada na trama entre divindades vivas e mortas: um testemunho lírico em forma de livro sagrado dentro deste universo próprio* (+18) Sinopse: "A Matriarca nos governava com sua eterna sabedoria. T...