(31) - Sabedoria Da Escrita e Na Palavra

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"Aos ouvidos do estrangeiro, o kandhú é umalíngua complexa. Quando um estranho ouve pela primeira vez, é bem provável queele pense que se trata de um diálogo cantado, devido ao ritmo naturalmentegracioso da fala. Nas épocas das grandes descobertas da União, o primeirocontato de kandhú por um povo recém-descoberto, se assim podemos considerar,era feito por uma lunno. Com seus dotes diplomáticos e de interpretação inatos,as lunnos chegavam em consensos com essas criaturas novas antes mesmo deensinar a língua awbhem, pois essas compreendiam as emoções; a verdadeiralinguagem unificada em Ýku'ráv."

- Níshma, a Artesã, Sexta Discípula, Dama do ensinamento das artes e patrona da escrita



O SÉQUITO tinha agora três longos dias e noites de viagem pela frente até Lohal, a maior cidade portuária dos Ermos Assolados e principal porto de saída para o oceano Endra. Na terceira Era, as localidades mais férteis de Mídd localizavam-se ao sul e ao centro, próximas da grande K'ammur. Em consequência, o maior fluxo mercante e populacional se concentrava lá, e os portos e rotas de comércio mais expressivas utilizavam o Mar Menor, onde inúmeras barcas transportavam seus produtos até as ilhas mercantes — um fascinante aglomerado de ilhotas sem nação definida, onde não havia governantes empunhando estandartes, e tanto mercadores de Mídd, de Itänn, do arquipélago gar'roviano e até mesmo da província de Surkhedon negociavam em inacreditável neutralidade, tamanha influência da guilda mercante.

O novo integrante do grupo era um peso. Mais um estorvo do que um peso. A harmonia conquistada entre eles ficou abalada desde a adição de Yuzhal. Era um inimigo declarado entre eles, alguém que não pensaria duas vezes antes de esfaquear pelas costas seus aprisionadores. O mantinham algemado sob vigília em tempo integral e gastavam os próprios suprimentos de viagem para alimentá-lo. Os cavaleiros kaskres claramente o repudiavam, mas não o denegriam, pois consideravam humilhação um ato desnecessário, apesar do seuriano proferir ofensas contra todos com grande frequência.

— Preciso que me ajude a te entender — sincero e direto, Thâmyr abordou Yîarien quando em uma das paradas de descanso ela estava reclusa dos ouvidos do seuriano. — Primeiro preciso dizer que o que sinto por você não muda em nada meu voto de proteção. Meu escudo é sua égide de cristal e minha determinação em guarnecê-la é inabalável. — A lunno virou-se para ele devagar, sem se surpreender com o que ele dizia. Já esperava que cedo ou tarde, Thâmyr viesse se esclarecer com ela. — Quando você nos levou para o meio daquela vila de bárbaros que sacrificavam o chefe guerreiro, eu estive totalmente ao teu lado, nem a questionei, apesar dos riscos serem imensos. A mesma coisa com aquela fera em Nyra'dânam que me pedira para não enfrentar. — Thâmyr escorou-se com o ombro no tronco áspero da árvore desértica, vislumbrando a Lua Negra que dominava a noite. — Igualmente te apoiei sem hesitação quando as amazonas de Aylentar nos levaram para dentro da guarnição delas para falarmos diretamente com sua comandante. Visýr, se me recordo do nome dela. — Inclinou a cabeça, a mirando, buscando expressar a sua fala sem desrespeitá-la. — As circunstâncias são outras agora e preciso te questionar pela primeira vez.

— Tua preocupação é Yuzhal. — Não precisou perguntar. O fato de ter aceitado o nome original do prisioneiro para se referir a ele já era um problema para o cavaleiro. Do ponto de vista dos kaskres, qualquer aproximação com um seuriano era perigosíssima.

— Exato. — Thâmyr tomou ar. — Nós não nos damos ao luxo de manter vivo aqueles que desejam nos assassinar, muito menos por perto. — Quando dizia "nós", ele falava tanto pelas tradições kaskres quanto pelos k'ammurianos. — Não somos acostumados a compartilhar nossa comida com o inimigo, quanto menos confraternizar com eles. Também tenho certeza de que há pelo menos meia dúzia de ditados sobre isso em Mídd.

Quinta Lua (Ýku'ráv)Onde histórias criam vida. Descubra agora