(72) - Nak'ha

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"Certa vez, contrariando os conselhos, Nyranuai voou em Remlök até Itänn. Naqueles tempos, a guerra seuriana já mobilizava todo o contingente k'ammuriano para as fronteiras ao leste. Ela encontrou-o sozinha, frente a frente com o senhor supremo do inimigo, Seur'Rane, aquele que se dizia criação direta de Seur, deidade única dos céus.

Irrito-me em lembrar de que os seurianos chamam a Existência meramente de Criação por puro capricho, considerando as próprias crenças como as únicas sobre as demais. Enojo-me em lembrar que Nyranuai oferecera trégua e paz, e recebera em troca a proposta de conversão e submissão.

Ele exigiu que se curvasse e ela não o obedeceu. Seur'Rane atacou-a com um clarão destruidor que encobriu as colinas. Sem minha intervenção, Nyranuai teria sido derrotada e usada para barganhar a rendição de K'ammur. Que ela pense novamente antes de tomar tamanha decisão tola."

- Memórias, Yul'rra Ayévh, da Tribo Akâny

Terceira Discípula e Primeira Prelada dos Enakâns



FEIÇÃO NEUTRA não escondia as emanações não suprimidas de desconfiança e temor em Kiirth. Por mais que sua descendência seuriana lhe tornasse praticamente imune ao controle áurico, seu organismo ainda deixava rastros de seus sentimentos se esses fossem intensos.

Seria mais um momento de prazer com sua concubina leal. A tormenta passara, a batalha terminara, mas não era o que aparentava aos olhos do lorde mercenário ao fitar Nak'ha, a Veludo Negro, deitada na larga e confortável cama, mergulhada em tecidos.

— Suponho descartar meus serviços como combatente, por mais que eu lute melhor que qualquer um de teus mercenários patéticos. — Nak'ha esticou-se nos lençóis de cores fortes como a tonalidade awbhem de sua derme macia e naturalmente perfumada.

A cama ocupava uma boa parte da cabine do navio mercante adaptado por Kiirth Krydlo pessoalmente. Cabia parte de seus luxos exagerados no cômodo, sendo a Veludo Negro o principal.

O lorde a observava atento, dos pés e pernas desnudas sob o vestido aos braços esticados atrás do longo cabelo. Aproximou dela como fora de costume desde sempre e ao tocar na pele, uma onda de excitação percorreu a aura. Pegou as correntes que trazia consigo e envolveu em um pulso dela, mantendo a troca de olhar frio contínuo, e o outro pulso também fora preso. Quando Nak'ha dera por conta, estava acorrentada em uma argola à parede, submissa novamente.

Krydlo declinou sobre ela com a face de um amante e de um executor. A lâmina afiada tocou a garganta da elfa conforme ela tombava a cabeça para trás, intrigada, mas não assustada.

A adaga ficou parada no pescoço dela por um tempo, preparada para perfurar. Kiirth o faria, mas preferiu ouvir a respiração dela acelerando lentamente. Hesitava. Arrastou pela carne dela a adaga até seus seios e a posicionou sobre o coração.

— A flor mais encantadora não deve ter esse final — enfim o lorde falou. Piedade emanava. Dela ou dele. Ou de ambos. Poupá-la não era o lógico a ser feito. Os sentimentos conflitavam com as duras regras mercenárias criadas por Kiirth para si mesmo, que o levara até onde estava.

— Sou perigosa para ti então — sussurrou Nak'ha, o perfurando com o olhar malicioso. — Apesar de tudo ainda me teme.

A lâmina foi pressionada um pouco mais forte abrindo um pequeno corte e Kiirth recuou da cama, guardando a arma consigo. Virou as costas, caminhou até a porta, abriu. E parou.

Em sua mente, questionou a si mesmo em que momento se permitiu importar-se com uma serva sexual.

— Recorde-se de minha piedade. Não me faça arrepender-me.

Quinta Lua (Ýku'ráv)Onde histórias criam vida. Descubra agora