"A análise entre awbhem e ysokem é deveras fascinante. Ambas as espécies são dominantes em Gállen'thir; uma pela tradição e a outra pela população, respectivamente.
Comecemos com os awbhem; somos enraizados em nossa tribo de origem, não só pelo povo local que chamamos de semelhantes, mas pelo bioma. Nossos organismos precisam se preparar voluntariamente para enfrentar outros terrenos. Mudança de flora e até mesmo altitude são um problema para os muito novos. Raramente um indivíduo deixa sua tribo antes da fase adulta. Aprender a curar cicatrizes e doenças é a base do controle corporal, que se for levado ao nível extremo, dá ao awbhem a possibilidade de atingir a imortalidade.
Os ysokem são o oposto. Eles nascem preparados para habitar qualquer terreno, e seus organismos podem se adaptar rapidamente para situações adversas. Soa maravilhoso a princípio, mas é uma vantagem que limita. Graças ao controle natural do corpo, os ysokem não podem viver muito. Consequentemente, compensam a curta longevidade com um alto nível de reprodução, se espalhando facilmente por todos os continentes."
- Idásios, Arquimago Enakân e Segundo Prelado
— GOSTARIA MUITO de algumas explicações. — Thâmyr apoiou-se em um tronco, relaxando. O grupo parara para o descanso sob a sombra de árvores que margeavam o mesmo curso d'água que corria por Kathamûl, que ficara distante nessa altura da viagem. — Parece que não sou o único que carrega um artefato. — Todos olharam para ele. — Wanäe, o que há com sua espada?
A guardiã vivenciou intensamente o dialeto comum de Mídd, e com ajuda de Yîarien e Thâmyr, ela aprendeu a entender e se comunicar nele. O verdadeiro dialeto, írathá, o Alto K'ammuriano, com várias vezes mais palavras e articulações refinadas, demandaria ciclos para ser aprendido. Só a versão comum e básica do írathá já bastaria.
Wanäe sacou a espada da bainha, deslizou os dedos na lateral chata do aço sobre as inscrições em kandhú arcaico e a deitou nas palmas de Yîarien, para que todos vislumbrassem. Ela hesitou ao toque, mas confiou, pois vira a guardiã fazendo o mesmo. A grandiosidade estava impressa no cerne do artefato, distorcendo a Aura com lembranças. Era místico, de fato, ao ponto que só o manuseio correto causaria o efeito desejado. O item era feito com uma elegância que as armas daquele tempo nunca apresentariam; ao lado da lâmina de um mercenário ou legionário, a espada de Wanäe as tornava toscas e primitivas. Os detalhes no punhal impressionavam, tanto pela pegada fornecida ao esgrimista, quanto pelos entalhes. O aço, de extremidades notoriamente afiadas, fora forjado de uma liga formidável, carregando mais detalhes minuciosos nos dois lados da folha que tinha um pouco mais de meio metro. Por mais que Yîarien pouco dominasse de armamento corpo-a-corpo, admirava a leveza e o equilíbrio. Soube que, certamente, quem a carregava se sentiria superior.
— Esta é Sú'hen — literalmente "Suplício" em kandhú —, nomeada pela sua primeira dona, Êllyra. Essa Discípula era Patrona das Guardiãs. — Wanäe não costumava esconder o orgulho, e não o faria nesse momento. — Sú'hen foi construída na Forja dos Akâns a mando direto de Êllyra, sendo intitulado de Flagelo da Súplica. Talvez não sabeis, mas as melhores armas da Antiga União foram forjadas pelos armeiros-magos de Akâny, infundindo manipulação de forças na confecção, criando metais singulares que não existem na natureza. Sú'hen jamais precisou ser amolada, pois nunca perdera o fio desde sua forja.
— Um metal que causa medo? — Thâmyr escondeu a incredulidade. — Eu mesmo sinto minhas veias gelando quando você a empunha.
— Por ter sido carregada e brandida por Êllyra durante séculos como arma pessoal, as emanações da Discípula ficaram impressas profundamente na lâmina, assim como fragmentos agonizantes da aura daqueles que a arma um dia já alvejou. É incerto se essa característica foi proposital ou resultante do uso contínuo de uma deidade. — Wanäe começou a ser encarada de outro jeito pelo grupo, mais imponente do que antes. — O que sentiste é só uma mísera fração do que inflijo nos oponentes. Obviamente a ideia nunca foi afetá-lo, a Aura é delicada de utilizar. O maior poder de Sú'hen é quando o aço rasga a carne. O corte lhe fará reviver a dor de milhares de criaturas abatidas ao mesmo tempo. Foi por isso que a besta Asi'Kale em Rimanesh recuou de minha presença. Provar Sú'hen fora demais, até para ela.
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Quinta Lua (Ýku'ráv)
Fantasy(LIVRO COMPLETO) *Fantasia Épica em Terceira Pessoa focada na trama entre divindades vivas e mortas: um testemunho lírico em forma de livro sagrado dentro deste universo próprio* (+18) Sinopse: "A Matriarca nos governava com sua eterna sabedoria. T...