"Jovens de K'ammur foram enviados aos limiares do deserto para enfrentarem os seurianos e os nativos de Itänn. O que passa na mente de Zyshuth em testemunhar seus semelhantes em uma matança desenfreada? Seu próprio povo que o ama morrendo nas areias longes de seus lares.
Não o culpo. Ninguém deve culpá-lo pela tragédia. O julgo que ele pôs sobre si é maior do que podemos imaginar. A leveza que ele transmitia se tornou consternação e seus isolamentos nas dunas se tornaram frequentes (...) vejo em seus ombros que carregam o peso, na face sem o luxo do sorrir (...)
O que há em sua mente de verdade? Existem pensamentos aos quais nem comigo, sua esposa, são partilhados. Anseio ampará-lo, mas seu coração se veda (...)
Restava-me agir como considerava prudente.
Envolvi-me na guerra que não era minha e descobri que a guerra era de todos."
- Nyranuai, Senhora da Luz e da Vida
CONTARIAM OS escritores que a Libertadora se manteve de vigia por horas nas escadarias e rampas que subiam por entre o coração de Akanea, aguardando pelo que nunca viera. A luta findara. Do alto do terceiro nível mirava o fundamento da amplidão. Um mar que amanhecia sem mercantes, transportes, pescadores ou carregamento das plantações; só barcas e mais barcas vazias, repletas de corpos.
— Dissera-me uma vez que só vestiria o elmo para vingar-se de Bálshiba. — Posicionou-se adjacente procurando ter a mesma visão de sua amada. Yîarien era um murmurejo como a aragem de folhas das árvores.
Raras foram as edificações que permaneceram incólumes. Mortos eram retirados das vias e carregados aos portos do mercado. Fumaça, cinzas e escombros se espalhavam para que ninguém esquecesse da devastação. Ainda que ao meio do fúnebre pós-batalha, cânticos isolados eram recitados na bela voz élfica, alguns entoando discreto louvor a Nhãmrú, outros homenageando os mortos. Os bramidos de guerra e a colisão de metais se calaram ao mundo físico, em Ýku'ráv, contudo ressoavam como uma maré ainda revolta pelo manto áurico, em Nhãm'ráv.
As ordens cessaram, as hostes se dissiparam. A disputa pela cidade se encerrou e tal momento viria a ser registrado como Ys'takanea Wushe, a Primeira Batalha de Akanea, um importante marco para que se sucederia aos awbhem daqueles tempos.
— Toda vez que olho para ti, já estou me vingando dele. — Após um dia de combate, Ákera, a Sétima, permitiu-se baixar a guarda. Sua vigília, entretanto, nunca terminaria.
O rastro da luta era notado no manto áurico como um mar de sentimentos. Momentos bravos, desesperados, injustos. Lembranças espalhadas pelas ruas da capital de Á'Glah através da Aura, e também gravadas no interior do elmo.
Voltou-se a ela e encontrou o cenho da lunno, que logo a encarou com lhaneza e candura. Yîarien reconheceu a imponência que o elmo transmitia e como completava perfeitamente o conjunto da armadura.
— Sabes que ele não virá. A presença dele se afastou desta ilha e desvaneceu. Sentes o mesmo e temes admitir que a batalha chegou ao fim.
— Mas não a guerra.
Yîarien suspirou.
— O Conflito está longe de acabar. — Os dedos tocaram as laterais do majestoso elmo hoplita e ousaram levantá-lo. Nenhum impedimento foi expresso e o rosto de Ákera fora desvelado. Tinha marcas de fuligem e de sangue na pele verde, o que não impediu Yîarien de tocar nos lábios dela com os seus. Um beijo longo iniciou-se tenso e fora se entregando ao envolvimento. Segurava com uma mão o elmo e com a outra afundara nos cabelos ruivos buscando a nuca da parceira. — Por isso quero tê-la ao meu lado para sempre.
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Quinta Lua (Ýku'ráv)
Fantasy(LIVRO COMPLETO) *Fantasia Épica em Terceira Pessoa focada na trama entre divindades vivas e mortas: um testemunho lírico em forma de livro sagrado dentro deste universo próprio* (+18) Sinopse: "A Matriarca nos governava com sua eterna sabedoria. T...