Quinta Lua (Ýku'ráv)

(10) - Semblante do Vazio

"Algumas vezes são a partir de sombras, ou, por ilusões. Mas outras vezes tão sutis, que suas ações são percebidas quando assim permitem, e nesses casos, já terminaram o que pretendiam com as vítimas. Já ouvi muitos rumores e exageros a respeito das feiticeiras da Casa de Kiáry, serventes de Arutama, vulgarmente chamadas de Face-Oculta devido às máscaras que lhes dão a identidade. Seus costumes e ritos são reclusos, e pouco se sabe da real capacidade sobre a mente de quem pretendem atacar, restando apenas o medo irracional. Uma coisa ao menos tenho convicção; a falta de conhecimento sobre as feiticeiras de Bálshiba é proposital, pois as favorece imensamente, e nada podemos fazer para nos prevenir. Especula-se que só existem fêmeas entre as faces-oculta, mesmo que o clã tenha integrantes masculinos para manter a linhagem. A razão para isso é incerta também."

- Relatos de um agente isäny

— DRANVATH PERECEU — anunciou o sentinela sombrio que surgiu entre as árvores para dar a notícia. O traje negro lhe proporcionava uma excelente camuflagem na penumbra, permitindo que se aproximasse das vítimas sem ser notado. — Tal qual o senhor previu.

— Dessa vez a predição não foi minha — Vijh corrigiu o seu espião sendo raramente humilde. — Estava predito no pergaminho do Sumo, conforme as orientações diretas dele. E o que não podemos predizer, será extraído de quem consegue.

Ardiloso, o agente de Arutama retomou a atenção ao cativo imobilizado com os membros amarrados desconfortavelmente no caule rijo de uma árvore alta.

— Não demorarão para perceber a ausência de meu corpo entre os cadáveres do acampamento secundário — afirmou Emarn. A cabeça pendendo para baixo refletia mais a derrota do que o cansaço. — Logo mobilizarão tropas para investigar meu paradeiro.

— Estamos afastados o suficiente para quando chegarem ao acampamento da colina não terem como encontrar seu capitão perdido.

— Está enganado — o prisioneiro insistiu. — Não importa o que façam comigo, vocês serão caçados, capturados e condenados. Nenhuma piedade ou compaixão será dada durante a execução. Aylentar nunca abandona os que foram fiéis a ela.

Houve um silêncio. Por dentro do capuz, o arqueiro negro ficou mudo. Por um instante, pareceu que ele hesitaria. Aproximou o semblante sombreado, e somente os olhos dele puderam ser vistos por Emarn.

— Isso foi uma ameaça? — Vijh indagou com uma curiosidade maliciosa. Ele estava rodeado de outros agentes que o acompanhavam, seguindo e executando as ordens que lhes eram passadas. — Porque, se foi, saiba que sua posição é desfavorável demais para qualquer barganha ou negociação. Você dirá tudo o que precisamos saber. Essa é a única razão para você ainda estar respirando.

— Não compactuo com inimigo.

— Nós sabemos da lunno. Muito mais do que vocês.

A espinha de Emarn gelou. Então, ele vislumbrou toda a situação de cima, encaixando os cenários, fazendo ligações nos acontecimentos. Sim, a chegada de Yîarien, a batalha, tudo se interligava. Se estava ali preso na mãos dos agentes de Bálshiba, Yîarien era o motivo afinal.

— Se sabem, para que ainda precisam de mim?

— Existem detalhes sutis aos quais nos são valiosos, e tenho certeza de que os conseguiremos com a sua cooperação.