(27) - Ruína dos Antigos

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 "... eles habitavam as ruínas. Não no interior dos inacabáveis salões, mas acima. Tribos cresceram sobre os pilares inquebráveis, idolatrando os Antigos, buscando seguir o misterioso desígnio deixado nas gravuras esculpidas nas paredes de pedra. Nômades deixaram de vagar pelos ermos áridos para se fixarem ali, acreditando terem encontrado uma base sagrada. Então Zyshuth lhes abriu os olhos, provando com o puro conhecimento o quão ingênuos eram por adorarem as ruínas. Mas Zyshuth, em sua grandeza, não os inferiorizou nem os julgou, mas os acolheu como parte de seu povo que madurava no coração do deserto."

- Pergaminho k'ammuriano, pré-K'ammur



DEIXARAM O oásis com um sentimento inevitável de saudades. Sentiriam falta do pequeno bosque escondido, de árvores esparsas e lagoa fresca. A entrada dos túneis era logo no final do bioma, onde areia fina cobria a plataforma inferior, enquanto a superior já era bem visível do oásis. O tom bege envelhecido predominava nas paredes que revestiam o interior do túnel. O espaço vazio se apresentava tão vasto que cabiam templos e torres inteiras sem que tocassem no teto ou umas nas outras. Um ambiente artificial tão vago que o propósito era impossível de conjecturar. Acima da cobertura, sustentava-se uma montanha inteira, silenciosa e incomensurável, e por dentro dela, os caminhos se faziam.

Em determinado ponto, o piso se inclinava para cima, despontando para fora da areia. Uma clara divisão se fez ali, e Yîarien hesitou um instante antes de sair do solo do deserto e pisar diretamente na ruína. Todos começaram a subir pela rampa com suas montarias, Thâmyr e Wanäe caminhavam, e Imyram e Cibe Adúry montados. Viu que nada de errado acontecia, e galgou a subida repleta de gravuras, ouvindo o casco de seu poake bater contra a ruína igual aos demais.

— É um belo de um lugar cheio de nada — Wanäe ironizou a expectativa que ela mesma criara sobre as ruínas. A descrição batia com o que lhe contaram, mas por estranha razão esperava mais. De qualquer forma, a arquitetura colossal ainda era um mérito daqueles que a haviam construído. — Novamente preciso lhe perguntar isso, mas dessa vez, tente não usar metáforas ou eufemismos. — Obviamente ela se dirigia a Thâmyr. — Quais tipos de perigo devemos esperar aqui dentro?

— Nenhum. — O lanceiro foi claro quanto a isso. — Nada habita esses escombros. Não há vida, esses túneis não interagem com o deserto, apenas em suas entradas e saídas, que ficam quilômetros de distância afastados dentro da rocha. Animais podem até usar seus acessos para se abrigar, mas nada além disso.

— Aqui serviria de esconderijo para algo que desejasse se ocultar. — A guardiã levantou um bom ponto que causou leve preocupação na lunno que ouvia eles.

— Improvável — novamente Thâmyr falou preciso. — Mídd é um lugar muito fácil para se esconder e, principalmente, para se perder. Existem outras opções bem mais interessantes que as Ruínas dos Antigos. E por superstição, muitos evitam explorar os túneis, o que é bom para nós, pois raros são os que conhecem os labirintos, senão os kaskres.

— Se não fossem por esses labirintos, de acordo com o mapa, estaríamos circundando as colinas de rochas pontudas — Adúry completou.

— São dois longos dias de travessia até a saída que nos deixará mais ao norte possível. — Fez uma carícia na crina de Renthäm que o seguia fielmente no flanco. Pegou a haste de madeira no alforje. — Poderia, Quinta Lua? — pediu com gentileza para Yîarien. Ela estendeu uma mão e a tocha se acendeu, com o fogo tomando todo o tamanho permitido pela tocha em uma chama amarelada. – Grato. — Ergueu a haste. — Será um período de longa calmaria, sem o som do vento que move a areia nem das aves cantando e batendo suas asas, e por vezes, esse silêncio completo e a ausência de terra sob os pés se torna perturbador. — Tentou não soar tão pessimista. — Ao menos somos um grupo forte.

Quinta Lua (Ýku'ráv)Onde histórias criam vida. Descubra agora