"Que jamais sejam esquecidos os escombros enegrecidos e as ruas de sangue deixadas em Telä e em Akanea. Houve tanta matança em Á'Glah que a tragédia da morte se tornou um relato de pergaminho.
Deixamos a melancolia e a poética de lado para lidar com o profano que nos assombra."
- Pensamentos,
Yîarien, a Dama dos Mortos
TRILHARAM NA estrada ao Leste que se curvava ao Norte, até passarem pela vila destruída a beira de um lago. Casas abandonadas como em Telä, animais, civis e soldados compartilhando do solo como túmulo ou vala comum.
O odor da putrefação deixara de ser estranho, assim como também criaram insensibilidade para tantas outras questões outrora comoventes ou incômodas.
Esperava-se que tal vilarejo viesse a se tornar um povoado maior, talvez até mesmo uma nova tribo com os próprios líderes e voz ativa no palco política de Á'Glah, crescendo às margens da vastidão do lago e fornecendo peixes de água doce às cidades. Havia nela todos os indícios do crescimento. Porém, pelo cenário que se desenhava, a população fora exterminada até a última criança, antes mesmo que Telä ou as outras tribos tivessem chance de ajudar.
Lamentos silenciados que se perderiam no esquecimento.
Não existiam estradas que levassem por entre as montanhas, somente trilhas deixadas por desbravadores e usada por caçadores. Uma escalada demorada seria necessária para isso. O outro lado dos montes era quase inexplorado devido ao difícil acesso e o principal caminho conhecido era pela veia d'água que se projetava do lago límpido para o interior escuro das montanhas.
Ynamus narrara a sobre esta passagem assim que Yîarien desembarcara na Ilha Maior pela primeira vez. A informação fora desinteressante na época, mas agora se tornou sua única via. Mayen confirmara a história da passagem e a lunno solicitou que os barcos fossem escolhidos para partir.
Neste momento, os vários animais de transporte foram soltos. A senhora da Tribo da Garra sentia-se fraca e rebaixada, acreditando que suas amazonas compartilhavam deste mesmo sentimento ao terem de se desfazer de sua principal arma e meio de locomoção terrestre. Poakes, nokunes e outras feras encontraram seus caminhos nas matas, e todos se puseram a vasculhar os celeiros e depósitos da vila. Com honra, nenhum kaskre hesitou em ouvir a lunno e libertar suas fiéis montarias. As templárias também acataram o pedido sem hesitação, pois já eram adaptadas a jornadas a pé.
Peixes, frutos e pães foram estocados nas três barcas que navegaram sobre as águas tranquilas para o interior da ilha. Neste período a lunno privara-se de conversas, respondendo as raras perguntas de Wanäe, Adúry ou Máyen. O clima do séquito era de solidão e quietude. Seguiam a herdeira ao mesmo tempo que o sentimento de traição para com seus amigos lhes castigavam. A correnteza os conduzia para cada vez mais dentro da floresta, sempre ao Leste. Horas de trajeto por vela com o mínimo de auxílio de remos até que entre fendas naturais que formavam grutas altas e sem luz surgiram aos pés da montanha. Como se a elevação de terra tivesse uma garganta que sorvia o rio, eles adentraram pelas cavernas, pois seus veículos eram menores que uma trirreme comum.
Assim que Wym'rú já não mais tocava aquelas águas e o ar tornara-se inerte e velho, tochas foram acesas e posicionadas nas extremidades dos barcos. Desaceleraram o trajeto com os remos, tomando cuidado com as estalagmites e outros espigões de rocha. Seria fácil descuidar e permitir que os aríetes naturais rasgassem o casco. As paredes eram irregulares, por vezes distantes, por vezes rentes, e até mesmo estreitas sobre suas cabeças. Estalactites grossas do teto foram atingidas pela barca de Yîarien, e o mastro fora destruído, caindo na correnteza calma. Depois fora inevitável que os demais não sofressem do mesmo, pois tais transportes eram feitos para navegar em lago aberto, pescar e transportar recursos. Canoas foram feitas para a travessia irregulares como aquela, mas não havia tantas para todos do grupo, e assim seguiram.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Quinta Lua (Ýku'ráv)
Fantasía(LIVRO COMPLETO) *Fantasia Épica em Terceira Pessoa focada na trama entre divindades vivas e mortas: um testemunho lírico em forma de livro sagrado dentro deste universo próprio* (+18) Sinopse: "A Matriarca nos governava com sua eterna sabedoria. T...