(80) - Espólio da Destruição

4 0 0
                                    


"Trago luz branca e negra, e incorporo mais do que uma mera profecia.

Sou a imagem que carrega as faces da esperança e do sacrifício.

Sý'Einna, permita-me ser o Rio Lunar deste povo.

Conceda-me a dádiva de ser o leito de meu povo."

- Yîarien, Quinta Lua


ELA ABRIRA os olhos e saíra do torpor. Ofegante e sufocada, buscou se estabilizar. Estava escuro, com relativa quietude. Paredes intactas e porta fechada. Ergueu-se da cama e arrastou-se pelos corredores. Subiu a escadaria e foi avistada por soldados na proa que a encararam como uma aparição. Sem conseguir dizer nada, ela tombou para só ser despertada por Ákera, minutos depois.

— Só quero saber de uma coisa; como?

Novamente dentro do alojamento da Lança Lunar onde fora colocada dias antes, ela foi interrogada pela almirante.

— Minha cabeça dói muito... espera. — Ela respirou e teve um espasmo. — Lembro-me... sim, me lembro agora.

— Mestra? — Espantado e extremamente contente em meio a tantas tristezas, Imyram entrara no quarto e posicionou-se ao lado da sh'hila. — Deixei a senhora aqui antes de partir — falou confuso. — Estava envenenada e mesmo assim partiu com a lunno. O que aconteceu de verdade?

Thâmyr entrara no recinto em seguida, permanecendo em silêncio, incrédulo.

— Sei que devo explicações. — A erudita sentou-se na cama. O veneno ainda a debilitava, porém melhorava aos poucos. — Estive entre eles. No séquito de Yîarien.

— Impossível — Ákera rosnou.

— Projeção — tentou explicar com o nome da conjuração. — Meu corpo estava petrificado, mas minha mente ativa como nunca. Em algum momento pude projetar meu espírito e manipular os elementos ao mesmo tempo. Criei uma estátua de areia e nela habitei. Mesmo sem poder oferecer nenhuma ajuda em combate, acompanhei o séquito ao Leste...

— Assombroso. — o Errante do Oeste admirou a antiga aprendiz. Ela era, afinal, uma Arauta e gozaria dos poderes ocultos deles. — Pensava que esta técnica era só lenda.

— Sinceramente, eu também. — A sh'hila maga os encarou. — Lhes contarei tudo.

Fora uma longa hora de explicações. Ela narrou a jornada que fizera e tudo o que testemunhara.

— Teu corpo era feito de areia e se desfez quando foi tocado pela onda de luz, mas quanto aos outros? Vira o que aconteceu com Yîarien? — exigiu a almirante, soando desesperançosa.

— A luz era cegante — continuou a sh'hila. — Virei-me para trás e vi sua silhueta brilhante como um farol. Como uma lua. Então um clarão cobriu a tudo. Não tenho como dizer quanto aos demais.

— Teve sorte de conseguir voltar ao seu corpo original — comentou Thâmyr. — Vou organizar os cavaleiros. Iremos ao Leste quanto antes.

— Todos nós iremos. — Ákera o olhou de canto. — Yîarien... o que fizeste? — jogou a pergunta ao ar.

Subindo na proa da nau, Ákera enfim teve oportunidade de encontrar o Monarca, a aguardava pacientemente pela anfitriã.

— Senhora dos Mares, — saudou a criatura soberana do lago gélido das terras do norte da Gállen — foi uma honra lutar ao teu lado e de teus aliados.

Quinta Lua (Ýku'ráv)Onde histórias criam vida. Descubra agora