83) Trilha dos Kaskres

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"Espalhava-se lentamente no deserto, por eruditos e bardos, a história da deidade élfica que dera a própria vida para extinguir a hoste do antigo inimigo, acabando com a incerteza de um exército sombrio marchar sobre o mundo comum.

Uma rainha, dizia a lenda. Uma que renunciara o trono da Gállen para praticar a justiça acima de tudo.

Seu reinado não se fazia pelo trono e ou pela coroa. Não haveria sequer uma pedra ou árvore onde reinaria. Seu domínio era o plano invisível dos mortos, pois lá os recebia e os confortava."

- Pergaminhos Míddicos, Final da Terceira Era


MONTANHA DE lascas fora entregue pela caravana escoltada pelos cavaleiros da Ordem Kaskre diretamente à base mercenária nos Ermos Assolados. A fortuna nada mais era que o pagamento justo acordado entre os grupos. Porém, diferente do esperado, o lorde mercenário ordenou que todo o pagamento e toda sua riqueza fossem depositados no interior de uma montanha, alegando que temia pela segurança da fortuna.

Estranhamente, após isso, o grande Kiirth Krydlo adoecera de causa desconhecida e, ao leito de morte, pedira para ser sepultado junto de seu tesouro. A especulação sobre o dinheiro dos kaskres ser amaldiçoado aumentava e após a câmara da montanha ser selada com o corpo do lorde, os poucos que sabiam do local secreto acabaram sumindo, até que, por fim, a localidade fosse perdida no deserto. Nimeri, a braço direito de Kiirth, assumira seu posto, tornando-se a Senhora dos Mercenários. Os que a acusaram de planejar a morte de seu antigo líder também acabaram por desaparecer entre as dunas.

O dia chegara, e os kaskres desceram da Torre Velada e cavalgaram até K'ammur. No zigurate receberam a obra de arte magnífica, um presente dado pelo Escultor diretamente aos cavaleiros. Fora aquela a primeira imagem reproduzindo fielmente a forma de Yîarien e fora levada até a principal templo da cidade, sendo bem recebida junto de suas lendas. Os kaskres portavam credibilidade, e os fiéis de Zyshuth jamais contestaram suas palavras. Com o tempo, os sacerdotes começaram a aprender e espalhar as história da Quinta Lua por Mídd, até que está fosse gradualmente sendo inserida ao panteão míddico. Yîarien também se tornara a deidade mais adorada pelos cavaleiros, ao lado de Zyshuth e Nyranuai.

A Ordem crescia. Os conhecimentos se multiplicavam na biblioteca de T'andrish. Uma nova geração de sábios e poderosos kaskres viria. E a balança da justiça encontraria um equilíbrio maior nas dunas. Vendo os números e a organização dos kaskres crescendo, os seurianos deram uma aparente trégua aos povos do deserto, para se reorganizarem para algo maior. E desde então os cavaleiros puderam dedicar sua atenção também para a Gállen e seus novos aliados. Os awbhem necessitavam deles e dariam o seu melhor. A aliança se renovava e se fortalecia.

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HAVIA O silêncio e a penumbra nos salões do templo edificado em rochas esbranquiçadas. Ao lado de fora o sol ardia sobre a pedra lavrada, erguia a cortina de vapor sobre o oásis e aquecia os vastos pastos que rodeavam a muralha k'ammuriana.

Ele queimou o incenso, o ofertando de joelhos à deidade lunno. Imyram fizera seus votos e turvava a memória da fêmea sagrada com a de uma grande amiga. Tornara-se naquele dia um mestre e viera ao templo agradecer à Dama do Sacrifício.

— Um jovem mestre kaskre? Tenho certeza de que Quinta Lua sorri para ti — disse a sacerdotisa, aproximando-se dele com sua veste colorida e discreta.

— Sim. Eu acho que está. Assim como sorrio para ela agora. — Imyram, o Defensor do Legado, levantou-se para encontrar a face da sywha que vinha até ele a passos lentos.

— Li os textos da jornada dos kaskres em Á'Glah. Conheci a história dela e dedico minha vida na propagação de seu nome — a voz era doce, o sorriso genuíno. — Dizem que ela foi também a senhora do perdão.

Imyram respirou fundo. Reconheceria aquele olhar até mesmo em seus sonhos mais profundos.

— É o que você procura, Veludo Negro? 

Quinta Lua (Ýku'ráv)Onde histórias criam vida. Descubra agora