Ato VII: Fim da Terceira Era
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"Os que viveram neste tempo presenciaram o misterioso eclipse que tomou o firmamento. A fonte de poder desconhecida veio do meio de Endra, como se Wym'rú fosse sorvido por completo. Feixes desceram como colunas em um único ponto tornando toda a luz em negra. Durou poucos minutos e gerou pavor entre os mais devotos. Os nórdicos chamaram este fenômeno de Quinta Lua."
- Relatos, Aylentar
O TRONO improvisado era ocupado pela alta guerreira dos mares. Sem qualquer cicatriz ou marca de guerra sobre sua pele, deixara seus fios ruivos cascatearem sobre os ombros e o vestido. A comprida lança de unaríl sempre estava a seu alcance, porém não vestia qualquer peça de sua armadura. Trajava cores exuberantes e um casaco de pelagem escura que lhe servia de capa, preso por um broche. Amarrado sob os fios e ostentado na face onde todos podiam contemplar, estava o amuleto das luas.
— A desunião nos trouxe aqui. Cada tribo, vila, povoado e terra do Norte ouviu falar de sua rainha e agora se lamenta — falava com poderosa voz ao interior da biblioteca de Akanea, sendo o local mais adequada para receber todos os líderes nórdicos convocados há muito. Chegaram eles aos poucos, da longa viagem, e se chocaram em encontrar a capital em pedaços. — Todos os atos que fiz por ela não bastaram. A aliança exótica que a herdeira forjada foi mais longe do que qualquer um poderia imaginar e mesmo assim, faltara união.
— Muitos acreditavam que a rainha era só um boato espalhado pelo inimigo. As fontes eram confusas. Havia muita desinformação e conflito na província — justificou a governante de Ayldânam, a Tribo dos Bosques, a maior cidade nas terras livres do norte. — Nossas armadas poderiam ter respondido a tempo. Reconhecemos nossa falha.
— Fizemos o que pudemos, Senhora dos Mares — respondeu o Monarca do Lago das Brumas com sua ilustre presença que surpreendera os demais líderes do Norte.
— Nosso exército, nosso povo, foi quase completamente destruído. Pouco pudemos fazer. Beiramos a queda e prevalecemos — comentou um dos juízes de Aitháa.
— Também fomos enganados pelo inimigo — declarou o líder de Vemore.
— Estamos dispostos a ajudar nas reconstruções, principalmente de Telä, nossa antiga colônia — pronunciou a governanta de Ayltêlam, a Tribo dos Artífices.
Muitos outros começam a falar, justificando ao mesmo tempo em que se desculpavam.
— Todos trarão suas razões e culpas, mas também devo assumir a minha — continuou Ákera ao lado de Ankrat, que promovera para seu comodoro, para assumir o cargo de Ynamus. — Vos libertei do domínio de Surkhedon, porém, não exigi mais do que um mínimo de apoio em moedas para manter as armadas e edificar esta cidade. — Estendeu os braços, obviamente ressaltando as ruínas do lado de fora da biblioteca. — Lutamos quase sozinhos contra Bálshiba e os Asi'Kales. Sem um exército profissional, preparado e treinado com participação de cada um, estaremos fadados à derrota. Seremos conquistados por um de nossos vizinhos e submetido às vontades deles. Vejam o que somos. Temos nossa história, nossos costumes, nossas criações, músicas, obras. E perdemos o maior de nossas dádivas.
— As cidades-estados nos mantiveram vivos até aqui — a senhora de Ayldânam falava. — Lutamos juntos quando convinha. Testemunhei o egoísmo entre nossos semelhantes ao longo desta Era. Ákera nos deu a liberdade para fazermos o que quiséssemos com ela. Talvez ela tenha sido generosa demais.
— Obrigado por entender o meu ponto — a Libertadora, Senhora dos Mares e Sétima Discípula, prosseguiu. Além dos líderes dos povos nórdicos, também havia líderes da Ordem Kaskre, como Adúry e Thâmyr, além do próprio Monarca da Lago e os primeiros representantes da recém-fundada Tribo da Terra Negra. Ákera ganhara confiança de muitos no último ciclo que se passara. — Lhes proponho oficialmente a junção de nossos estandartes sob o de Akanea. Uma nação forte e respeitada para enfim rivalizarmos por igual com o restante da Gállen. Sugiro a criação da Liga de Akanea.
A aprovação fora unânime. Todos viam a necessidade de unificação. Perder a lunno fora terrível demais, e agora tinham um continente para reconstruir; Á'Glah. A militarização seria um dos principais focos — desenvolvimento de naus, fortificações, armas e armaduras mais eficientes.
A tribo que mais se sentia culpada certamente era Aitháa. Era sua filha. Então, eles migrariam ao longo da década metade de sua população para a nova tribo de T'zuah, assumindo a responsabilidade de proteção do santuário que ali se formara na Terra Negra.
A vida voltava rápido na Terra Negra, porém, como fora observado, o poder de Yîarien que eclipsara todo o mundo, jamais se desfaria sobre aquele território. A flora que ali viria a nascer teria de ser adaptada à luz noturna. A tribo não existia, na prática, e sua construção seria longa, junto do crescimento da nova mata nutrida pelas cinzas da antiga Floresta Anciã.
Ao meio dos membros reunidos, estava o Thsadak, trazido do forte sobre a montanha e colocado lá como mais um símbolo de vitória sobre o inimigo. A guerra que marcara aquele período da Terceira Era tinha enfim acabado, apesar de ter sido curta. Esta, ganhou o nome de Thuly'khem-zen, o maior marco dos nórdicos desde a libertação.
Mesmo não sendo oficialmente um povoado, os Kaskres teriam uma importante participação na Liga, como treinadores de cavalaria e infantaria, assim como agentes diretos para certos conflitos que viriam.
Tendo todo o apoio que precisava, Ákera poderia recomeçar a construção de Akanea e restaurar Telä e as demais tribos em Á'Glah T'zuah.
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Quinta Lua (Ýku'ráv)
Fantasy(LIVRO COMPLETO) *Fantasia Épica em Terceira Pessoa focada na trama entre divindades vivas e mortas: um testemunho lírico em forma de livro sagrado dentro deste universo próprio* (+18) Sinopse: "A Matriarca nos governava com sua eterna sabedoria. T...