"Nhãmrú, a Aura, é o véu celestial de profunda nuance que se expande banhando o interior da Forma e dos Seres; a superfície e os céus; as estrelas e os astros; assim como o nosso cântico. Por ela, aqueles que vivem compartilham de seus anseios através da ressonância dos sentimentos e, dessa forma, compreendem uns aos outros do modo primordial, e, até mesmo, instintivamente puro. Pelo manto áurico, o desejo coletivo da nação se une, mesmo que não entendam ou percebam com evidência, nós lunnos podemos ver e ser esse elo (...)
A Aura que nos cerca e exala o próprio cântico aos que podem ouvir também orienta o caminho das divindades sobre a terra que, por sua vez, exercem suas próprias vontades individuais sobre os vivos que as veneram."
- Matriarca Sý'Einna, fundadora da Antiga União
e deidade suprema do Panteão Awbhem
YÎARIEN RETORNAVA para o norte, mas não para sua tribo. E assim, a esperada Revelação não ocorrera por muito pouco.
Montada no cavalo em silêncio do luto, visualizou a trajetória que fizera na ida. Desta vez, não estava dentro de um veículo fechado e podia apreciar o vento em sua pele.
Cavalgaram por horas sem se comunicarem. Não havia espaço para palavras. Os bosques negros ficaram distantes, e a vegetação comum de Nyra'dânam que se sucedia também. O longo entardecer os acompanhava quando atravessaram com cautela por um vale com riacho que o cortava ao meio, e subiram até o outro lado. Do topo, tinham visão de qualquer movimentação que viesse da direção dos montes que cercavam a Floresta Dourada, entretanto, ainda se localizavam no território neutro e abandonado das Fronteiras.
Considerando estarem longe o bastante da batalha, o forasteiro repuxou as rédeas para si, desacelerando o poake de pelagem negra, fazendo-o parar com o comando:
— Renthäm, kêdo — pronunciou em língua estranha. Na verdade, apenas chamou o animal pelo nome e pediu para que parasse. A voz era densa, mas não aparentava ser autoritária. Ele desmontou e, antes que pudesse ajudá-la, a lunno havia feito o mesmo sozinha. — Por agora estamos seguros — verificou ele, tocando com a ponta dos dedos na cimitarra na bainha de ornamentos rústicos que ficava quase discreta no dorso, confirmando sua disposição caso houvesse necessidade. Em seguida, fixou o simbólico conjunto de escudo e lança na sela, tirou um odre de couro das bolsas, sorveu o líquido e o guardou. — Não irei muito longe.
Com as mãos livres para forragear, pareceria indefeso, mas confiava na cimitarra para se livrar de surpresas. O cavaleiro não esperava esbarrar em emboscadores naqueles bosques, e da gama de possíveis perigos, entre bárbaros nômades, elfos assassinos e mercenários, nenhum os alcançariam tão rapidamente, mesmo que soubessem a exata localização. Por cautela, teria a lunno em seu campo de visão a todo instante.
Yîarien deu alguns passos se afastando e estacou contemplando a vastidão à sua frente, que lhe recordava a paisagem de Aitháa, mas em outra perspectiva. As colinas revestidas por árvores de copas verdes e azuis; das formações de rochas menores às cordilheiras longínquas de cumes brancos; do riacho ao céu que começava a revelar as estrelas pálidas que estavam invisíveis; e das três das quatro luas que se apresentavam no momento, a Lua Alva no quarto crescente, a Verde cheia ao alto, e a Rubra, apesar de ter seu brilho da chama própria, ainda assim demonstrava a fase minguante. Entretanto, nenhum sinal da lua obscura, que permanecia além do horizonte alcançável, além da Gállen.
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Quinta Lua (Ýku'ráv)
Fantasy(LIVRO COMPLETO) *Fantasia Épica em Terceira Pessoa focada na trama entre divindades vivas e mortas: um testemunho lírico em forma de livro sagrado dentro deste universo próprio* (+18) Sinopse: "A Matriarca nos governava com sua eterna sabedoria. T...