Kéhsam

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Vinte ciclos de luto param-se antes que tivesse coragem de participar das festividades. Atracara a Lança Lunar e toda a Armada das Luas em Telä e sua tripulação desceu pelos atracadouros para adentrar na cidade portuária com saudações e honrarias. Eram eles os lembrados campeões de Endra, eternamente reverenciados pelo legado de sua armada.

Durante o Kéhsam, fiéis de todas as partes da Liga de Akanea peregrinavam para Telä, enchendo a cidade reconstruída de adoradores. O comércio fluía, a paz era plena, a cultura aflorava e multiplicava-se. Tradições eram mais fortes do que nunca e a identidade do jovem povo akaneano se estabelecia por entre aquelas ruas de noites e dias agitados.

Os séquitos peregrinavam ao santuário de Sý'Einna entoando cânticos e tocando instrumentos, e faziam seus votos nas catacumbas abaixo dele, onde os bravos guerreiros foram sepultados e tiveram seus nomes gravados pelas mãos da fêmea sagrada. A coroa negra sobre o altar era o objeto principal desta jornada. Então continuavam seu trajeto, celebrando Yîarien e T'zuah por todas as tribos da ilha, com exceção de Rienyr, que durante os Kéhsam proibia a entrada de suas fronteiras aos que não fossem convidados.

Os membros das demais tribos perguntavam-se a razão desta reclusão, o que era estranho, pois qualquer um poderia visitar o santuário de Yîarien durante as datas não festivas. Explicavam eles, porém, que fechavam suas entradas para realizarem seus cultos e necessitavam de privação. Eram então respeitados por serem protetores do túmulo da rainha.

Na vila do lago próximo de Telä, Ákera tomou a barca sozinha, sendo guiada por um barqueiro local. Encapuzada e vestindo branco da cabeça aos pés, rumou ao Leste, pelo rio que corria para dentro da montanha. A tocha pendurada na barca somou com a luz dos archotes estacados nas paredes esculpidas da caverna. Ali, eram representadas figuras da guerra com Surkhedon, os protagonistas de Thuly'khem-zen. Nas paredes rochosas havia kaskres talhados de um lado e templárias do outro, ambos em cenas de combate, com um seuriano solitário que os acompanhava. Havia ver'kirins, erguendo suas bandeiras e armas, assim como naus que se defrontavam em marés agitadas. Bálshiba era representado, assim como as hostes de obsidianos. Por fim, próximo à saída da caverna, havia de um lado a Quinta Lua, com sua lamparina que trazia a pedra sagrada e o cajado, e do lado oposto havia a guerreira libertadora. No topo, ao final, um sol negro era representado.

A barca saiu pelo outro lado da montanha e tiveram de parar naquelas margens muito bem vigiadas por torres e guaritas de arqueiros. Ali, os que não tivessem direito de adentrar na Terra Negra teria de dar meia volta, porém, ao se identificar, Ákera fora bem recebida pelos membros de Rienyr, recebendo uma montaria e sendo liberada para cavalgar até a tribo.

A noite era perene. Infinda. Imortal. As árvores que renasceram já apresentavam uma estrutura alta com base colossal, tal era a Floresta Anciã, mas carregavam características que só cabiam a elas. Por influência das forças que ali atuavam, a floresta se alimentava da luz negra e seus animais e algumas plantas emitiam iluminação, e sob os raios lunares fez-se lugar das relvas macias. Ela nunca frequentou o local que ela mesma havia nomeado. Tinha medo das memórias e maravilhou-se com as belezas únicas de lá. A camada de cinzas viria a nutrir uma rica floresta completamente noturna.

As torres da tribo eram altas, pontudas e ornadas. Algumas das casas utilizavam das árvores como firmamento e escadas que acompanhavam os troncos levavam até suas entradas. A arquitetura de Aitháa era predominante, com várias estruturas abobadadas, mas era notável influência de todos os cantos, de cada povo diferente que formou aquela tribo. O frio era quase constante na Terra Negra, mas o clima era agradável sob as árvores. Na grande clareira onde ficava a cidade, as estruturas e ruas se organizavam com perfeição. Tochas queimavam em tom anil e canções podiam ser ouvidas ao longe.

Quinta Lua (Ýku'ráv)Onde histórias criam vida. Descubra agora