(44) - Os Que Reinam O Mar

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"Quando nossas canções e músicas não mais forem lembradas, teremos perdido a maior das guerras.

Essas foram as palavras às quais ouvi dos lábios da Grande Mãe sobre seu trono ornado e de sorriso sempre generoso, com sua coroa de pétalas argentas adornando o exuberante cabelo e o vestido branco emoldurando a pele de tonalidade viva. Mas os que se recordam de tal época somente vivem em músicas e poemas, junto a todos aqueles que um dia amei.

Sinto-me aproximar do fim, Grande Mãe. A cada passo me aproximo dele, sendo a última de meu éon... a remanescente de vós..."

- Memórias de Ákera


AFINAL, NÃO era impossível ter um fardo que só aumentava. E um dia após o outro essa sentença se mostrava tão verdadeira quanto o caminho das luas sobre os céus e a certeza de que Wym'rú baniria a escuridão com sua auréola ardente no amanhecer — o que, para os seurianos mais antigos, não era uma certeza, mas uma esperança.

Quando saíra de Aitháa, era ela, a lunno única, a criatura singular, a fêmea sagrada e louvada, que traria entendimento a todas as tribos e povos da Gállen com sua sabedoria — sabedoria que ela eventualmente questionava se seria adquirida por ela mesma ou se seria uma dádiva concebida pela Grande Mãe. Entretanto, seguiu suas intuições, trilhando o caminho que a levava para a segurança, cumprindo com sucesso sua primeira tarefa após falhar em Eyve'thir; encontrar Ákera.

Enfim, estava diante de sua segunda maior tarefa. Não fora solicitada por uma awbhem ou qualquer outra espécie mundana. Fora um pedido direto de uma entidade divina que é totalmente desconhecida por todos.

A lunno trouxe para sua meditação o encontro com o xamã, pesando em sua consciência o peso da pedra de T'zuah. Chamar de "pedra" soava como uma inferiorização, mas a humildade demonstrada pela divindade do objeto condizia. Sim, era uma pedra sagrada, o que aumentava o valor que Yîarien dava para aquela dimensão obscura, repleta de espíritos preservados.

A pedra era mais velha que a própria imagem de Sý'Einna, quando a mesma era referida pelos primitivos como Voz das Aves. Não só mais velha, como incrivelmente mais antiga.

Em muitos momentos de dificuldade, Yîarien apoiou-se na imagem da falecida Matriarca para espelhar sua postura, a imitar — se assim podia permitir dizer — e também replicar quais seriam suas possíveis atitudes. Mas nesse dia, esse espelhamento falhara. Estava em uma situação em que nem mesmo imaginava a sábia Matriarca lidando. Dessa vez não se entristeceu, mas alegrou-se. Encontraria o seu próprio caminho a partir de suas próprias convicções a respeito do destino de infinitos espíritos do artefato.

Porém, a determinação momentânea se fragilizou quando sua mente esbarrou na questão do matriarcado, e ela se perguntou se T'zuah era mais importante que a reunião dos awbhem. Não conseguiria lidar com dois caminhos tão importantes se separando, e só podia torcer para que eles nunca deixassem de caminhar juntos. Ou como os seuriano dizem em seus escritos, "ter fé". Se havia algo que poderia a aconselhar, esse algo era a própria T'zuah, assim que ela se manifestasse.

Sua sensibilidade áurica estava dilatada. A pedra de T'zuah parecia nada mais do que mais um objeto no manto áurico, com pequenos rastros deixados por ela. Somente aqueles que soubessem especificamente onde sentir a aura a localizaram, o que garantiu à T'zuah tantos milênios de esquecimento. Mas Yîarien não era a única capaz de sentir nuances mínimas na Aura. O chamado feito pelo artefato não fora exclusivamente sentido pela lunno, pois até mesmo Ákera sentira, o que por um lado era preocupante.

Muito abaixo dela, onde o Oceano Endra encobria quase onipresente a todos as direções, presenças foram notadas.

"Vaynus? No mar aberto?" foi o primeiro palpite de Quinta Lua, mas ao constar que nas emanações dessas presenças a intenção era a oposta dos vaynus do Lago das Brumas, recobrou o mais rápido possível o controle sobre o corpo, livrando-se do transe de meditação.

Quinta Lua (Ýku'ráv)Onde histórias criam vida. Descubra agora