Permita-Me Sonhar - Livro III

Capítulo Quarenta

Encaro o anel em meu dedo, absorta em pensamentos. A ideia de me casar em um futuro próximo, ainda é assustadora. Mais assustador que isso, é contar ao meu pai que a filhinha dele vai se casar.

Tiro o anel, coloco em meu bolso e toco a campainha, vendo, segundos depois, um Alex completamente descabelado e sem camisa na minha frente. Eu sei o que ele estava fazendo...
Uma parte de mim agora, quer fazer ele sofrer a mesma dor que eu sofri quando o vi naquela câmera. Outra parte, me diz para ser discreta e não botar tudo a perder entregando a informação de que estão sendo vigiados constantemente. Já a terceira parte, e a pior de todas, quer bater nele, xingar e depois arrancar a o resto de roupas que ele ainda tem... Mas escolho a mais sensata, contar a ele sobre o pedido de Henri antes que qualquer outra pessoa - ou os tabloides - fique sabendo.

- Oi... - Ele parece um pouco envergonhado. - É... entra.

- Eu queria conversar... Você...

- Claro. Me dá um minuto.

- Te espero no meu quarto, okay?

Alex parece surpreso... Não entramos naquele quarto desde que... bom, desde que fiquei com ele um bom tempo e tivemos que arranjar uma desculpa de onde eu estava dormindo. O quarto ficou pronto e nunca mais entramos nele... Mas sei que ali não tem câmeras. É um espaço seguro.

Me sento a beira da cama, deixando uma cadeira pronta para que ele se sente bem de frente para mim. Procuro as palavras certas há horas e sei que elas não existem... Como contar ao amor da sua vida, que vai se casar com seu outro amor? Como dizer que o cara que ele alegou ser uma ameaça e que eu neguei veementemente, agora é meu noivo? E o mais difícil... como aguentar a facada em meu coração, depois de saber que ao contar e deixar essa casa, é um possível fim?

Eu poderia simplesmente não contar a ele. Poderia ganhar tempo e decidir quem amo mais. A quem meu coração e corpo clamam... Mas não posso fazer isso. Não com ele.

- Oi... - Aponto a cadeira e ele se senta. - O que houve?

- Quero que seja o primeiro a saber...

- Saber? Luna, o que aconteceu?

Pego o anel em meu bolso. Olho para ele fixamente antes de entregar a Alex.
Algo me impede de olhar em seus olhos agora. Posso imaginar suas expressões, mas não posso ter certeza. Ele pode estar atônito, com raiva ou, na pior das hipóteses, segurando uma lágrima. Torço para não ser a última.

- Quando?

- Agora a pouco.

- Você aceitou?

- Ainda não... Na verdade, disse que precisava pensar e ele concordou... Dirigi por horas e acabei aqui.

- Luna... - Olho finalmente para ele e meu coração dói quando a lágrima escorre em seu rosto. - Não...

- Você tem a Rory agora. Acabou pra gente... - Nem eu quero acreditar nisso que disse.

- Rory e eu não somos nada.

- Talvez não para você, mas para ela sim. E transar com ela não vai fazer ela te ver como outra coisa que não como homem. Como um parceiro...

- Como sabe que...

- Por favor, Alex. Eu conheço você. - Pego o anel da mão dele e coloco no bolso novamente. - Conheço seu corpo, seu cheiro... Até mesmo como seu cabelo fica ainda mais desgrenhado depois de transar. Você está exalando o cheiro dela. Sinto o cheiro de sexo e perfume barato daqui. E isso me enoja.

- Então sabe como me senti quando te vi no hospital com o Henri. Sabe quanto meu estômago revirou ao ver a mulher que eu amo sendo tomada por outro...

- Que você.... o que? - A voz quase não sai.

- Era para você ser minha. Só minha. Era para eu ser o único homem da sua vida. O primeiro e o último.

- Era... Mas então... Você me abandonou nos piores momentos da minha vida.

- Eu não te abandonei?

- Não? Alex, você me deixou sozinha no Brasil, no meu aniversário. Me abandonou depois de transarmos pela primeira vez para ir atrás da Rory. Você escolheu ela mais de uma vez.

- Eu não poderia deixar ela perdida.

- E adiantou alguma coisa? Adiantou você transformar o que era para ser um sonho... uma parte linda da nossa história, em uma completa frustração e decepção para mim? Não, Alex. Não adiantou.

- Eu sinto muito... Não sabia que se sentia assim.

- Porque nunca perguntou. Nunca se interessou em saber o que acontecia comigo enquanto você olhava somente para o seu umbigo. E... se fosse a única vez. Ah Alex... eu poderia ter superado.

- Nada do que fiz foi para te machucar...

- Não? Você sumiu por semanas quando as buscas pela Rory cessaram. Reapareceu no dia em que eu estava assumindo o Henri publicamente. Espancou um cara até quase a morte e depois desapareceu mais uma vez. Desapareceu quando eu sofri a maior humilhação da minha vida, fazendo um exame ao vivo, para provar que não estou grávida. Desapareceu quando tive uma crise de pânico e fui hospitalizada. E reapareceu apenas para jogar na minha cara, que a sua ex voltou.

- Tudo tem uma explicação...

- Que explicação? Me fala! - Nesse momento, não sei mais dizer se estou gritando ou não. - Onde você esteve nos momentos em que eu mais precisei?

Alex se cala. Seus olhos encaram o chão e sua boca se entreabre como se tentasse puxar um pouco de folego e coragem. Mas ele se cala... Ele teve a chance de me contar o que quer que tenha acontecido com ele... Mas escolheu se calar.

- Por favor... - Sua voz embargada sai como um sussurro. - Não aceite ainda... Não se case com ele...

- Alex... - Sinto meu peito queimar. Minha garganta fecha a medida que as lágrimas teimam em surgir. Olho para cima, respiro algumas vezes antes de voltar a ele. Me ponho a seu lado, quase de joelhos, e seguro sua mão. - Alex... Eu não sei o que fazer...

- Não se case... por favor...

- Uma parte de mim quer te ouvir e acreditar que teremos um felizes para sempre... Outra me pede para ser sensata e entender de vez, que nunca seremos nada. Que você jamais terá coragem de assumir qualquer coisa comigo...

- Já disse... Luna a mídia...

- Eu não me importo, Alex. Nunca me importei... Me expus tanto para tirar o foco de você e do que você fez... Mas eu nunca me importei com o que é dito sobre mim por ai.

- Ainda assim não é fácil...

- Pode ser mais difícil do que isso? Eu me casando, você com outra... Ou viver com medo de sermos pegos... O mundo tem polêmicas todos os dias, não seriamos a última e nem a permanente.

O que estou fazendo? Estou tentando convencer o Alex a assumir um relacionamento comigo enquanto faço Henri esperar por uma resposta sobre se nos casarmos...?

- Tenho que ir... Já falei demais... - Me levanto, toco seu ombro e dou um beijo em sua cabeça. - Adeus, Alex...

Caminho até a porta sentindo meu peito explodir. Imaginando se este é o fim...

- Adeus é o caralho... - Alex me puxa pelo braço e me beija...