Capítulo Doze

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Alex passou a noite fora e eu, a noite inteirinha em claro. Andando de um lado para o outro, minha mãe me deixava ainda mais aflita. Telefonando para ele durante toda a noite e ele não atendeu uma vez se quer. Não nos enviou uma mensagem se quer.

Peguei o mapa conforme ele me pediu, liguei o notebook que o hotel nos "emprestou" e comecei a fazer minha busca. Próximo á última localização do avião da Rory existem pelo menos três cavernas acessíveis. Uma busca pelas três, levariam pelo menos seis horas. Isso se fossem em equipes de três. Um homem sozinho poderia levar dias.

Pesquisei o clima atual e recente próximo as cavernas, as altitudes de cada uma para reduzir em possibilidades onde ele poderia ter se abrigado em caso de escuridão ou tempestade. Somente uma delas é perto o suficiente para uma busca matinal, com água e árvores frutíferas ao redor. Só preciso que minha mãe durma para que eu possa agir. Vou atrás dele e ninguém vai me impedir.

Me deito na cama, sentindo exausta e com uma vontade incontrolável de chorar. Minha mãe, como sempre, me abraça e me consola como pode. Ouvir de alguém que tudo vai ficar bem, é reconfortante em certo ponto. Manter o controle durante muito tempo, não tem sido meu forte. Queria eu ser como minha mãe; ela nunca chora, nunca perde a calma ou o controle. Não sei como ela consegue.

Não demora muito para que ela caia no sono abraçada a mim. Me livro de seus braços devagar, visto minhas roupas e pego uma bolsa com o máximo de comida que posso, assim como cobertores e água. Seja lá o que formos encontrar, duvido muito que Alex esteja preparado.

Saio apressada temendo que ela acorde e me impressa de ir em busca de socorrer Alex - se é que ele está realmente precisando de socorro.

A imagem dele com Rory juntos, abraçados e a salvo me dói o peito. Não que eu não queira a segurança dele, mas prefiro que esteja seguro sem ela. Imaginar que ela é o motivo e a causa da nossa distância agora, é demais para mim. Tivemos uma noite confusa e maravilhosa, que acredito ter significado algo para ele também e não vou deixar com que ela estrague tudo com esse "acidente". Eu tenho certeza de que ela está bem. Não sei como ou porque, mas sei que ela está bem.

Subo ao heliporto e me certifico que tudo está em ordem para a decolagem. Alex como o bom protetor que é, deixou tudo mais do que pronto para quando eu resolvesse subir ao ar novamente. Me sentono banco, coloco meus fones e o cinto de segurança e subo voo antes mesmo de avisar a qualquer torre do que estou prestes a fazer. Já no ar, cumpro com meu dever, mesmo sabendo que minha mãe obviamente seria alertada, surtaria e que seria arriscado demais eu ir sozinha a uma busca. Mas, Alex foi, não foi?

Pensar que ele pode estar precisando de mim neste momento, ou, mesmo que somente de uma garrafa de água límpida, me faz ter a força e a coragem necessária para ir atrás dele.
Minha aeronave ainda está conectada a dele, o que facilita a minha busca em mil por cento. Sei exatamente onde seu avião pousou e é exatamente para lá que eu vou.

Respira Luna. Você consegue. É uma viagem de meia hora. Você voou por seis horas e conseguiu. Meia hora não é nada perto disso. Você consegue!

***

Não demora nada para que eu chegue ao local donde ele pousou, em volta, somente montes e árvores, nem sinal de Alex e/ou Rory. Pego meu celular e constato que aqui não há uma barra que seja de sinal. Estamos completamente inconectaveis. O que me traz um estranho alívio em saber que ele não evitou me dar notícias, simplesmente não pode.

Talvez sem um mapa, Alex também tenha se perdido e não saiba onde deixou seu avião. Olho no radar e marco em meu mapa um círculo vermelho onde deixei o meu avião, para caso eu esteja certa e ele não saiba como voltar. Afinal, conhecer o Rio de Janeiro é totalmente diferente de uma mata desconhecida.

No mesmo mapa, marquei onde Alex possivelmente estaria abrigado a essa altura. Coloco minha mochila nas costas com duas cobertas, água e um pouco de comida. Racionando o que tenho aqui, daria para um dia e umas duas noites, mas sei que vamos voltar para o avião antes mesmo disso então deixei mais comida e água para trás.  É um verdadeiro teste de sobrevivência. Com a lanterna e minha bússola em mãos, abro o mapa novamente e sigo em uma longa caminhada até onde acho que Alex está.

Não levo mais do que duas horas para chegar a caverna e, pelas frutas e galhos secos aqui, sei que Alex está planejando passar a noite aqui novamente. Bom, espero que ele tenha passado a noite aqui.
Preciso agora encontrar uma forma de localizar ele. Alguma marcação, padrão, qualquer coisa. Ele é esperto o suficiente para fazer isso?

Pelo mapa, o rio mais próximo fica ao noroeste, é arriscado pensar que ele está lá e ir sozinha. Principalmente por eu não saber qual tipo de animais podem estar escondidos aqui, mas preciso me arriscar mesmo assim.
Marquei no mapa em vermelho todo o trajeto que fiz do avião para o abrigo, agora, faço em azul o trajeto que estou fazendo até o rio, assim não me perco e sei exatamente como voltar. Além disso, marco com meus pés uma grande pisada funda para saber por onde andei, desta forma, tenho duas maneiras de me localizar caso me perca.

E, mesmo com um tiro no escuro, encontro Alex a beira do rio, com uma folha verde grande, pegando água e se lavavando. Ele está com uma cara péssima. Me aproximo dele, que ouve o barulho e se vira para mim assustado.  O que aconteceu com ele?

-  O que está fazendo aqui? - ele diz.

Permita-Me Sonhar - Livro IIIOnde histórias criam vida. Descubra agora