Capitulo Quinze

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O inicio da tarde contou com uma temperatura mais agradável. A manhã que nos cercou pós temporal, deixou tudo gelado e com uma neblina insuportável, nos fazendo perder horas do que poderia - ou não - ser uma boa busca. Alex e eu decidimos então, que dormiríamos no avião a partir de agora, e como o previsto, ele não tinha ideia de onde estava o dele.

Caminhamos por longas horas gritando por Rory onde quer que íamos. Eu sabia que ela não estaria aqui, que nem se quer responderia por simplesmente estar bem e viva longe daqui. O campo de busca que temos, não é uma área de puro matagal, ou seja, não haveria como ela ou o avião dela estarem escondidos pelas arvores e pelo mato. A unica forma, seria se ela caísse no mar, o que provavelmente teria a matado. E não foi nem próximo de onde o último sinal foi visto. Tudo isso esta me cheirando muito mal.

O céu logo estava totalmente escuro e Alex e eu ainda não tínhamos se quer uma pista de onde Rory deva estar. Eu estava faminta, há horas sem comer e sentindo meu estômago arder em minhas costas. Precisamos voltar para o avião o quanto antes para que possamos nos alimentar ao invés de desmaiar por falta de alimento.

Durante todo o caminho em que voltávamos para o avião, pensava em formas de convencer Alex a sair daqui deste fim de mundo. De fazer vê-lo que nós dois não podemos fazer nada para salvá-la. Se é que realmente Rory está em perigo.

Sabendo que não seria nada fácil convencer meu... tio... nossa, como isso soa estranho agora, apelo para o mais complicado e perigoso dos meios de tirá-lo deste lugar. Espero anoitecer, tento cansá-lo da melhor forma possível - isso está virando um vício? - e o deixo dormir no assento da cabine. O prendo no cinto de segurança com o mair cuidado possível para não o machucar e nem acordar. Coloco os fones de ouvido nele com o máximo de cuidado possível e ligo o avião. Como o esperado, o barulho é alto demais e Alex acorda.

- O que porra você pensa que está fazendo? - Ele grita.

- Tirando você daqui. Não é óbvio?  - Digo para que ele me ouça em seus fones. 

- Para já com isso, Luna. Eu estou falando sério. 

- Eu também estou, porra. Não vou dar minha vida por causa de uma vadia que eu sei que não está em perigo porcaria nenhuma. Grave bem minhas palavras, Alex: A RORY NÃO ESTÁ AQUI E NÃO ESTÁ EM PERIGO. 

- Você não tem como ter certeza disso. 

- Não, porra. Eu não tenho. Minha única certeza é de que eu não vou morrer aqui e muito menos te deixar morrer por causa de uma sociopata que está obcecada por você e não suporta a ideia de que possa perdê-lo para mim.

- Talvez ela tenha razão, não é? Ter tanto ciúme assim de você.

- Ela é DOENTE! - Eu grito. -  Desde o primeiro momento em que viu que eramos próximos, a primeira coisa que fez foi tentar te afastar de mim. Ela vivia te fazendo dar a atenção toda a ela e quando você estava comigo, ela ficava emburrada. Quantas vezes nesses meses todos em que estavam juntos, você deixou de me ver para estar com ela? Deixou de voar comigo para estar com ela? Saia comigo mas com a Rory ao seu lado te puxando para todo o lado que ela queria ir. E eu suportei tudo calada Alex. Cada momento de esquecimento e desprezo, eu sentia no peito a dor de ser rejeitada por você, de estar te perdendo lentamente, eu senti tudo calada. Então não me culpe por querer passar o máximo de tempo em que estivermos vivos, ao seu lado. Porque eu não sei quando quando esse sentimento começou, não sei quando foi que me apaixonei por você. Se foi antes ou depois de Rory entrar na sua vida, mas sei que, mesmo antes dela, a possibilidade de te perder e te ver indo embora para sempre, era a morte para mim.

Enquanto eu desabafava, as lágrimas rolavam pelo meu rosto, tornando tudo mais difícil ainda. O céu escuro, o horizonte negro a minha frente e a vista embaçada. Tudo conspirava a favor do desastre. Nós poderíamos simplesmente morrer agora, enquanto estávamos no meio de uma busca pela ex do cara que amo, depois de uma discussão que sucedeu uma deliciosa transa de fim de tarde. Poderia facilmente ser nossa ultima conversa, mas eu não estava pronta e não aceitava terminar isso - o que quer que seja que temos -  desta maneira. Somos jovens ainda. Por mais que Alex seja muito mais velho que eu, ele ainda é novo demais para morrer e tudo isso está nas minhas mãos - e na eficiência do radar.

O clima tenso durou por mais de duas horas, quando então, conseguimos sair da área de risco, pousando no aeroporto próximo ao hotel em que estávamos hospedados antes. Ainda temos mais dois dias de viagem e hospedagem pagas. Embora duvide muito de que ele queira ir embora com a chance da Rory estar por aqui em algum lugar.

Quando chegamos ao hotel, subo direto para o quarto precisando urgente de um banho. Quando abro a porta, dou de cara com uma Jhenny como nunca vi antes, sem seus saltos, com os cabelos bagunçados - para o padrão dela -  com a maquiagem borrada e os olhos inchados. Ela não dormiu desde que sai? Será que passou a noite chorando? Claro que sim. Ela é minha mãe, o que mais eu poderia esperar de uma mãe super protetora? Eu saí  as escondidas em uma aeronave para procurar meu tio que também estava perdido  e procurando uma mulher que pode ter sofrido um acidente de aeronave. 

- Luna! - Ela grita. - Graças a Deus! - Me abraçando forte, ela chora em meus ombros. Alex entra pela porta pouco depois de mim e a reação dela e a mesma que comigo. O puxa para perto de nós duas e o abraça da mesma forma. Neste momento, percebo que fui egoísta pensando somente em me beneficio ao "salvar" Alex. Nossa família sentiria muito a perda dele tanto - se não mais - do que eu. Me colocar em risco e talvez, fazer com que minha mãe perca a filha e o irmão ao mesmo tempo, foi imprudente e cruel com ela. 

Me permito, momentaneamente, desligar estes pensamentos e aproveitar o conforto do abraço de mãe e então, poder consola-la e aproveitar o fato de que apesar da loucura, eu consegui. Trouxe Alex para perto de nós novamente, e ainda por cima, bem e vivo. 

Permita-Me Sonhar - Livro IIIOnde histórias criam vida. Descubra agora