Capitulo Um

319 71 28
                                    

Rory têm se tornado uma presença constante nos jantares em família e também nos passeios com Alex. Eu a odiava imensamente por isso.
Meu tio sempre foi único e exclusivamente meu. Meu melhor amigo, meu companheiro de viagens, meu instrutor... não quero e nem vou aceitar dividi-lo com outra. Nem mesmo se esta outra tiver um grande fascínio pela aviação, ou uma grande coleção de medalhas do exército aeronáutico.

Ele é demais para ela, como não percebe isso? Ela é muito velha para ele, não tem nem mesmo os seios no lugar. Para uma mulher sem filhos, o mínimo era ter um corpo bem cuidado. Meu tio, apesar de ter seus trinta e sete anos, ainda aparenta estar na casa dos vinte. Rory, por sua vez, aparenta estar na casa dos cinqüenta com alguns botox na cara. E não é exagero.
Ele parece gostar ainda mais do fato de ela ser, como ele diz, mais "experiente". Não gosto disso nem um pouco.

- Ela tem mesmo que vir?

- E porquê não viria?

- Porque nao fazemos mais nada só nós. Tudo inclui ela. Vamos tomar sorvete? Rory também vai. Vamos viajar para algum lugar histórico? Rory também vai. Vamos conseguir a nova miniatura que recebi da aeroplanet? Legal, Rory adora miniaturas e é muito boa em montá-las.

- Você precisa parar de implicar com ela. - Diz ele como quem não ouviu uma palavra se quer. - Rory faz parte da minha vida agora. E a menos que você não queira mais fazer parte dela, recomendo que passe a aceita-la e ser muito simpática. - Ele diz sério.

Evito olhar para ele. A raiva sobe por minha garganta e sinto vontade de gritar com ele, mas me contenho. Uma briga não nos seria nada bom agora. Ao invés disso, me silencio.
Rory logo aparece com um sorriso nos lábios, o trocando logo por um bico que encontra o de Alex em seguida. Em seguida, me olha de relance e diz oi.

- Do que querem?

- O que? - Digo aérea.

- O sorvete. Não foi para isso que viemos? - Ela diz e eu a fuzilo com o olhar.

- O de sempre. - Digo olhando ainda para ela.

- Certo. - Alex diz e se retira. Por mais que pareça uma afronta, não foi minha intenção. Me pego olhando fixamente em seus olhos.

- Uma foto duraria muito mais. - Ela diz. - O que é?

- Nada. Só estou tentando descobrir o que ele viu em você.

- Você não se enxerga, né?

- Como? - Olho para a direção onde Alex está e em seguida, pego meu celular, abrindo o gravador de áudio.

- Acha que não sei o que está fazendo?

- O que estou fazendo? - Digo o mais calma que pude.

- Está tentando nos separar. Desde o dia em que a conheci, você tenta nos afastar.

- Eu? - Pergunto com o maior cinismo.  Sorrindo em seguida. - Rory, não sei o que se passa contigo, mas eu não tenho feito nada para separá- los.

- Você sempre tenta que ele a encontre sozinho, mesmo nos fins de semana, quando temos finalmente tempo de estarmos juntos.

- Eu querer passar um dia com meu tio, como sempre fizemos desde meus dez anos, é querer separar vocês? Olha, se eu fosse você, procuraria ajuda, porque a paranóia está grande.

- Eu não vou deixar que uma criança nos afaste. Não importa o quão amigos vocês eram no passado... mas agora, Alex é meu noivo, e em breve será meu marido.

- Que bom para você. - Digo me contendo novamente. - Mas te digo uma coisa. O que o Alex e eu temos, é grande. Algo que você não será capaz de destruir.

- Como você sabe? - Diz ela sorrindo.

- Ele me disse que nem você e nem ninguém nos separaria. Meu tio e eu somos muito próximos, Rory. Não vou entrar numa discussão com você por ele.

- Por pouco tempo.

- Pouco tempo? Do que está falando?

- América do sul... - Ela diz e brinca com as unhas. - Seu tio não te contou? Depois do casamento, vamos nos mudar para o Brasil.

- Não, ele não me disse.

- Então já não são tão próximos assim. - Desligo o gravador do celular e me levanto. Coloco as mãos na mesa e olho para ela.

- Escuta aqui. Não sei que merda você fez para que ele caísse de quatro por você. Mas eu não vou deixar que você estrague a minha relação com ele, me entendeu?

- Garotinha tola. Não posso estragar o que não existe.

- Se continuar no meu caminho, transformo sua vida em um inferno. E acredite, eu tenho meios de fazer isso acontecer. - Ela sorri. - Não se mete comigo ou garanto que esse relacionamento não passará de mais uma historia que ele terá para contar de seus fracassos amorosos.

- Isso é o que vamos ver. - Ela sorri novamente.

Ergo meu corpo e faço minha melhor cara de coitada, olhando na direção onde Alex vinha. Dou passos para trás aos poucos e antes que ele chegasse até nós, corro para longe da mesa.

- Luna! -  Ouço-o gritar. Continuo a correr sentindo a bile ainda no peito. Eu estava muito zangada com ele por não me contar sobre a viagem. E mais ainda com ela, por estar tirando meu melhor amigo de mim.

Pode parecer infantil de minha parte entrar numa guerra com Rory pelo Alex. Mas juro não ser em vão.
Essa mulher tenta constantemente me afastar dele, e não é paranóia.
Eles passam dias juntos e estou com ele, ela só faz afasta-lo de mim.

"ALEX! VEM VER ISSO."
"ALEX, EU TAMBÉM ESTOU AQUI."
"AI, ALEX. FICA COMIGO."
"ALEX VEM, VAMOS TIRAR UMA FOTO ALI."
"ALEX, ME LEVA PARA TAL LUGAR."
"ALEX, ESTOU CANSADA. VAMOS PARA CASA."

Todas, todas as malditas semanas em que esta mulher aparece, arruma uma maneira de afasta-lo do meu lado. Todos os nossos passeios, ou duram pouco, ou acabo ficando totalmente sozinha. Meu tio, tadinho, mal percebe o quão manipuladora ela está sendo e ainda tenta agradar a nós duas. Eu não suporto ter que dividir atenção dele com essa mulherzinha.

Alex corre atrás de mim e logo me alcança. Ele ainda tem muita Boa forma e corre rapidamente.

- Luna, espera. O que houve?

- Essa... essa... ela! - Digo apontando para a direção atrás dele.

- Rory? Denovo isso?

- Porquê não me disse que vai se mudar para o Brasil? E aquela história de que nem ela e nem ninguém nos separaria? E aquela conversa de "nossa amizade resistirá a tudo"? Você mentiu para mim.

- Eu não menti para você. Não há nada certo ainda.

- NÃO FOI  ISSO O QUE OUVI DELA! - Grito. A esta altura, começo a chorar, cada vez mais nervosa.

- O que disse a ela? - Alex se vira para a morena que está séria.

- Eu não disse nada...

- Contou a ela sobre a mudança.

- Saiu do nada. Desculpe.

- Para de mentir! - Digo. - Você me disse claramente que nossa amizade não duraria muito tempo porque vocês se mudariam para América do Sul. Ainda disse que não somos tão próximos quanto eu pensava e que não seria uma "criança" que te impediria de ficar com ele.

- Você está louca. Eu não disse nada disso.

- CHEGA! - Alex grita. - Vamos embora. Nós conversamos em casa. - Ele diz olhando para ela.

Era só o que me faltava. Além de querer me afastar dele, ainda faz eu me passar por mentirosa. Ah querida, este jogo eu também sei jogar. E muito bem.

Permita-Me Sonhar - Livro IIIOnde histórias criam vida. Descubra agora