Capítulo Cinquenta e Quatro

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Alex Price

Mal chego em casa e me deparo com uma mensagem de Taylor. A localização é conhecida por todos os homens que se envolvem com os Price, sabem bem onde essa localização vai dar.

Coloco as malas dela em meu quarto. Ela parece animada, apesar de todo o estresse que acabamos de passar. Sorrio ao lembrar de como ela me defendeu. Forte e corajosa como sempre. Eu amo isso.

- Meu amor... - Digo com um sorriso nos lábios, sabendo como essas palavras ecoariam na cabeça dela por todo o dia. - Preciso resolver uma coisa, mas volto em breve. Tudo bem?

- Claro... Mas se for o que estou pensando, tome cuidado. - Esperta.

- Tomarei. - Seguro seu rosto entre minhas mãos e dou um beijo demorado em seus lábios. - Porque não aproveita para escolher as melhores casas? Mesmo que não seja nossa ainda. - Ela sorri. - E se achar a casa perfeita a venda, pode comprar.

- A ideia é ser perfeita para nós dois... - Ela parece chateada.

- Eu tenho você, já vai ser perfeito. - Um sorriso aparece em seus lábios, não resisto e o beijo mais uma vez. - Eu te amo.

O caminho curto não me deixa muito tempo para pensar no que dizer, embora ache que Taylor não estará muito afim de conversa. Encosto meu carro na porta e pego as bandagens no porta luva, as colocando enquanto passo pelo corredor mal iluminado.

A música, que antes estava baixa, se torna quase ensurdecedora quanto mais me aproximo da sala. Ao me ver, Taylor diminui o volume, se levanta e, sem esboçar emoção nenhuma, levanta o elástico para que eu entre no ringue com ele. Faço sem questionar.

- As regras são essas - ele começa -, apenas socos, garganta e estomago é proibido.

- Tay... lutar ao invés de conversar não é a decisão mais sábia. - Digo. - Não que eu esteja tentando evitar uma boa luta, mas não acho que a Luna vai ficar feliz se eu chegar em casa com hematomas... ainda mais porque ela sabe que estou aqui com você.

- Ela sabe como resolvemos as coisas. - Taylor dá de ombros. - Não fará diferença um roxo ou outro.

Balanço a cabeça em negativa, sorrindo. Ele não entenderia o quanto a filha odeia essas brigas, mesmo que ela dissesse aos prantos para ele. Taylor vê apenas o que quer.

- Tudo bem, mas façamos um acordo. Não vou bater em você, vou apenas tentar me defender. Você pode vir como quiser para cima de mim.

- Fácil assim? Em troca de que?

- Você não vai interferir no meu casamento. E vai procurar sua filha e dizer que a apoia em qualquer decisão que ela tomar.

- Para de palhaçada, Alex.

- Você não tem ideia do quanto a sua opinião importa para ela. Sou capaz de apostar que ela está chorando agora mesmo, com medo de o próprio pai não aceitar levar ela ao altar. - Digo tão convicto de minhas palavras, que tenho a impressão de que ele mesmo parou para refletir isso.

- Ainda que eu faça isso, sei que ela vai me odiar pelo estado que vou te deixar.

- Ela supera. - Dou de ombros mais uma vez. - Eu posso dizer que a escolha foi minha.

- Ainda pior, ela dirá que você se recusou a brigar e eu o espanquei mesmo assim.

- O que quer? Que eu soque a sua cara também? Posso fazer isso com o maior prazer. - Sorrio.

- Prefiro.

- Tudo bem, então...

Como sempre, resolvemos tudo o que temos para resolver, com uma boa luta. Mesmo que isso implique em me afastar dela por um tempo, até as feridas e os hematomas sumirem. Mas não dessa vez. Luna será minha esposa, quero estar ao lado dela em todos os momentos, sendo bons ou ruins.

- E então? Acordo feito?

- Feito.

Por mais que decidimos que os socos seriam mútuos, decido bater menos do que eu faria comumente. Me preparo para a força com que sei que ele virá.

O primeiro soco, acerta minha costela. A dor é imediata e me faz tossir um pouco. Mas vou aguentar, por ela, vou aguentar. O segundo, acerta meu rosto em cheio. Por ela... por ela...

Taylor percebe e da um tempo para que eu me recomponha. Quando, por fim, estou em pé, ele vem mais uma vez. Decido me defender. Cada golpe que ele tenta acertar, uma frase é grita.

"Você não a merece" - Eu sei - "Não é bom o bastante para ela" - Também sei disso - "Você é idiota?" - Um pouco, acho.

- Taylor, - Digo segurando sua mão, antes que acertasse mais uma vez. - eu a amo.

Dizer em voz alta para alguém além dela, é reconfortante na mesma medida que é assustador. Piora quando se é dito para o pai dela. Meu ex cunhado e agora sogro.

- Eu entendo o que você está sentindo. Ela é a sua filhinha... E juro que se eu não tivesse certeza do que sinto por ela, jamais arriscaria tudo dessa forma.

- Cumpra o acordo, Price!

Baixo a guarda e deixo com que me acerte. Um soco no rosto, outro no braço, na costela e no peito... nessa hora, uma dor dilacerante me consome... Ao perceber o que fez, Taylor xinga alto e me segura, antes que minha visão escureça.

Abro os olhos pouco depois, com a cabeça latejando a cada "bip" que o medidor cardíaco soava. Reconheceria esse barulho mesmo que não tivesse sido a primeira coisa que eu tenha visto ao recobrar a consciência. Olho ao redor, esperando ver Luna desesperada aos pés da cama, mas ali estava Taylor. Jhenny sequer estava junto. Ele não deve ter contado nada a ela.

- Não se mexa. - Ele praticamente ordenou, não que eu tivesse condições de tentar fazer isso no momento.

Uma enfermeira entra, examina o monitor e se volta para mim, fazendo várias perguntas. Respondo com o máximo de sinceridade que sou capaz, menos quando ela perguntou o que ocasionou a dor.

- Eu estava estressado e resolvi treinar um pouco... Devo ter pego pesado demais.

Era nítido em sua cara, que não acreditava em uma palavra sequer. Mas não questionou. Chamou o médico e passou tudo para ele, antes de se retirar.

- Tem muita sorte, rapaz. Não vejo muitos transplantados entrarem em brigas, levar uma pancada forte no local do transplante e ainda sair vivo. - Sua voz tinha um "quê" de ironia. Ele disse olhando mais para Taylor que para mim. - Valeu a pena o risco?

- Se eu estiver certo... sim. - Dou de ombros e sorrio para ele. - Teria feito mais ainda pelo que quero.

Taylor apenas observava, esfregando os nós de seus dedos, que, apesar das bandagens, mostravam um esfolamento. Quieto e concentrado, ouvia atentamente o médico dizendo que se quisesse sobreviver, eu teria que evitar as brigas. O que concordei, dizendo que não pretendia mais entrar em nenhuma, com os olhos ainda nas mãos de Taylor.

- Vou assinar sua alta hospitalar, mas não a médica. Qualquer que seja a dor, não hesite em me ligar ou voltar ao hospital. - Concordo e ele se retira.

- Porque não se defendeu?

- Acho que você sabe tanto quanto eu. Você precisava disso.

- Você poderia ter morrido. - Sua voz parece vacilar, mas ele disfarça bem.

- Faria novamente se isso o fizer aceitar nós dois. - Sou sincero em cada palavra. - Sou capaz de dar a vida por ela, Taylor.

Ele não responde. Seus lábios se apertam e seu olhar se fixa no chão. Taylor levanta, abre a carteira e puxa um cartão. Olhando para ele por alguns instantes antes de me entregar.

- Esse advogado já nos ajudou com alguns documentos para algumas pessoas que... bom, não vem ao caso. Ele pode ajudar com a condição da Jhenny.

- Obrigado, sogro. - O provoco.

- Não abusa. - Ele diz sério e sai da sala.

Permita-Me Sonhar - Livro IIIOnde histórias criam vida. Descubra agora