Capítulo Dezoito

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Levei ao menos quarenta minutos para chegar ao teatro, que, obviamente, estava fechado. O cara que fica no guichê de informações não queria me deixar entrar de maneira alguma, então tive que ser o mais filha da puta possivel, e fazer o que nunca faço, usar o meu sobrenome.

- Acho que quem ainda não entendeu foi você! Não tem ideia de quem eu sou, ne?! Se eu quiser, compro tudo isso daqui e te demito em dois segundos.

Parecendo não ligar para minha ameaça, o cara sem noção a minha frente, pega o telefone, disca algum número e depois de falar que havia alguém causando problemas na portaria, ele desliga, olha para mim com a maior cara de "tanto faz" e diz que posso entrar.

Passo pelo grande corretor que leva ao camarim, dando ds cara com ele vazio. Da porta lateral a mim, um barulho de vozes me chama a atenção. Cheguei no momento perfeito!
Abro a cortina que sucede a porta e observo. Tem muita gente ali. Diversos atores de diversas idades e etnias. É incrível ver quanta gente tenta ser ator hoje em dia.

Não demora muito para o ensaio dar um tempo. Apareço detrás das cortinas, chamando a atenção de uma duzia de pessoas.
Imediatamente sinto meu rosto queimar e tenho certeza de que estou vermelha, mas não posso dar para trás agora, preciso me lembrar do motivo pelo qual estou aqui. Pelo Alex! Por nós.

- E-eu... - tento começar.

-  Já vimos que têm panico de palco. -  Uma menina diz e todo mundo ri.

- Não vim para atuar... vim procurar um ator.

- Alguém específico?

- Não... quer dizer, procuro um ator com um perfil específico.

O silêncio sucede e chega a ser incômodo.

- Procuro um homem, na casa dos trinta anos, que não seja casado ou namore e esteja disposto a atuar em um papel grande.

Depois de um breve silêncio, três pessoas ergueram suas mãos. Um era alto, com longos cabelos pretos.
O segundo era um pouco mais baixo, com cabelos igualmente negros e o corpo bem esbelto. O terceiro, loiro, dos olhos claros e um físico digno de Hollywood. Olho para cada um deles, cada um com sua beleza singular.

Qual deles minha mãe acreditaria mais? Procuro analizar bem para saber qual deles eu mais gosto e qual se parece mais com Alex. Decido então pelo de cabelos longos. O chamo para conversar e digo que não levará muito tempo.

- Oi... - Digo sem jeito para o homem a minha frente.

- Oi. - Ele repete.

- Porque, bom... não me fala sobre você?

- Meu nome é Henri, tenho trinta e dois anos, embora não pareça. Nasci em Reims na França e vim para cá para tentar carreira no teatro.

- Henrry...

-  Não. Henri. - Notando minha confusão, ele sorri e tenta explicar. - Tenta falar assim: An-rri.

- An... rri... - Tento falhando miseravelmente por pelo menos três vezes antes de acertar. Mas logo que consigo, sorrimos juntos e acabo notando o quão bonito ele é.

- Então... para que é o papel?

- Para o meu namorado. - Digo e ele logo sorri. Mas não aquele sorriso contente, aquele debochado mesmo. - Não é o que você está pensando.

- E o que é?

- Eu tenho um namorado. Um cara que tem mais ou menos a sua idade. Mas não posso apresentar ele a minha familia. É um caso bem complicado.

- E porque um cara com mais de trinta?

- Porque, em uma conversa com minha mãe, contei algumas coisas... mas não disse nomes e nem quem era.

- E... quantos anos você tem mesmo?

- Dezoito. - Ele da um passo para trás. - Você não precisa se preocupa com isso. Minha familia é bem... influente. Nada vai te acontecer.

- Influente... como?

- Meu nome é Luna Price. Aliás, muito prazer.

- Price? Da empresa de marketing, de moda, de segurança...?

- E em breve, uma companhia aérea também. - Digo sorrindo.

- Nossa! - Ele diz passando a mão pelos cabelos. - E... quanto ao cache?

- Não posso te pagar muito ainda, porque, como eu disse, tenho alguns planos para construir o meu negócio. Mas, você terá suas despesas pagas e um salario de mil dólares livre.

- Eu moro com um colega de cena. Fico na casa dele até que consiga um emprego e um lugar melhor.

- Eu posso conseguir isso para você. Temos casas no nosso nome, inclusive uma no meu nome. Você não terá que pagar nada. Só terá que fingir ser meu namorado para meus pais.

- Nossa. É muita coisa para digerir.

- Com o tempo, talvez possamos te colocar na midia e fazer com que você ganhe mais visibilidade.

- Quanto tempo?

- Isso não posso te prometer. Minha familia só age depois que pega confiança. O que não vai demorar se você fizer tudo certo.

Henri parece pensar muito em tudo o que eu disse antes de finalmente condordar. Eu não sei se gostaria de nenhum dos outros caras como meu namorado. Henri parece descolado ao mesmo tempo sério. Parece alguém que sabe fazer bem o que tem que fazer... me inspira um pouco de confiança.

Fico no teatro mais um pouco para vê-lo atuando e para passar tudo para ele no final. Até porquê, ele ainda tem suas obrigações. Demora um pouco para que o ensaio acabe, quando todo mundo vai embora, menos nós.

Ficamos pelo menos mais duas horas ensaiando e ensinando a ele sobre minha familia. E claro, preparando ele para as possíveis perguntas do meu pai e a possivel indiferença do Alex. E claro que, contei a ele sobre o que acontece entre o Alex e eu. O que não foi nada fácil.

- Bom. Chega por hoje.

Digo e finalmente paramos. Henri pega suas coisas e vamos ainda em silêncio para a porta do teatro. Já em cima de sua moto, que por sinal estava em péssimas condições, nos despedimos.

- Quando nos vemos denovo? - Ele diz.

- Amanhã. Vamos colocar tudo em prática.

- Pouco tempo... um desafio e tanto.

- É... - Digo sorrindo um pouco sem graça. - Amanhã começo a resolver as coisas para você. Mas provavelmente, só terei pronto na próxima semana.

- Sem problema. - Ele me puxa para perto dele e sussurra no meu ouvido. -  Tem um cara com uma câmera apontada para nós atrás de um carro.

- Gordo, com óculos quadrados e cabelo grisalho?

- Sim.

- Então sorria e me abrace. Ele é o detetive que minha familia sempre contrata para descobrir as coisas. Minha mãe deve ter mandado me seguir para saber com quem eu estava.

- Um pouco de exagero, não? - Nos afastamos um pouco, mas ainda estou em seus braços.

- Não quando se é uma Price.

- Entendo. Bom, então, até amanhã, la belle.

Henri deixa um leve beijo um pouco mais demorado que o esperado em meus lábios e depois coloca o capacete e vai embora, me deixando confusa e ansiosa para o dia seguinte.

Permita-Me Sonhar - Livro IIIOnde histórias criam vida. Descubra agora