Capítulo Cinquenta e Três

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Haveriam gritos, ameaças e muita opressão. Tive medo. Por um instante, tive certeza de que tudo isso aconteceria, então, fiz o que eu jamais pensei que faria.

- Não abre ainda. - Pedi.

- Acha que vai impedi-la de entrar aqui por que está trancada?

- Não. Mas eu sei o que está por vir. - Respirei fundo me lembrando de tudo o que passou pela minha cabeça nesse último minuto.

- Vamos passar por isso juntos. Não vou te abandonar outra vez.

- Nós vamos, mas não aqui. - Abri meu armário e peguei uma mala pequena. - O essencial, só preciso disso.

Peguei todos os meus documentos, algumas roupas e o anel que Henri havia me dado. Não precisava de nada além disso para ir embora daqui. Tenho minha casa. As casas que Noah deixou em meu nome - assim como fez com todos os outros sobrinhos. Ainda... tenho a casa do Henri... o que me lembra que preciso procurar a familia dele.

Olho para Alex, que parece preocupado, mesmo que mantenha uma expressão tranquila. Sorrio para ele, na esperança de acalmar a nós dois. Não vai ser fácil, mas estamos juntos.

- Luna! - Minha mãe grita, batendo na porta pela décima vez. Abri. - Aleluia.

- Mãe. - Gesticulo para que ela se sente. - A conversa agora vai ser bem séria, então peço que sente-se. - Ela nos olha confusa, primeiro para mim, depois para o Alex, e voltando para mim. E então, se senta. - Vai, pai...

Eu não precisava vê-lo para saber que ele estava atrás da porta, pronto para ouvir tudo o que seria dito dentro do quarto. E se falaria com um, porque não com os dois? Cabisbaixo, um pouco envergonhado por ter sido pego, ele entrou e seguiu minha mãe até a cama.

- Entao. Antes de tudo, já aviso que o assunto é sério. E que não me importo com a opinião de vocês quanto a decisão que tomei... Ou melhor, tomamos. E adianto que, não vão poder me manter presa aqui a vida toda - encarei diretamente meu pai - e que, se quiserem manter meu respeito e que eu continue o chamando de pais, terão que aceitar a minha decisão. Gritar, xingar e proibir não vai adiantar.

Meu pai se mexe na cama, visivelmente desconfortavel. Minha mãe, parece analizar cada movimento que Alex faz, a fim de descobrir algo sobre o que esta acontecendo. Ela é rápida, olha para minha mão, para a mala e para o cabelo vnitidamente bagunçado de Alex, que parece mais um menino indefeso, que um homem agora. Então, com os olhos arregalados, passa o braço pelo do meu pai.

- Alex e eu sempre fomos próximos e isso vocês dois já sabem. Mas essa aproximidade, não parecia completamente normal. Eu me sentia mal por muito tempo, por não conseguir conter quando sentia ciúme dele. Por chorar sempre que ele ia embora e só sentir meu mundo verdadeiramente completo, apenas com ele ao meu lado. - Olhei para ele, que sorria, olhando apenas para mim. - Eu me sentia culpada por ama-lo. E, para minha surpresa, era reciproco.

Esperei um segundo para que houvessem a chance de digerir toda a informação; mas voltei logo, após tomar uma grande quantidade de ar.

- Desde a nossa ida ao Brasil, as coisas estiveram... diferentes. Estavamos cada vez mais perto, cada vez mais conectados e com os sentimentos ainda mais aflorados. Nós lutamos contra isso, com aa Rory e o Henri, por exemplo... Mas nada adiantou, nada foi o suficiente e, tudo o que conseguimos com isso foi um inocente morrendo por minha culpa.

Vendo que minha mãe iria me defender, levantei o dedo para que esperasse. Não podia perder a linha de raciocinio e a coragem. Não agora.

- Somente o que nos impedia de ter qualquer tipo de relacionamento, era porque eu achava que haviam laços sanguíneos nos unindo, e agora, sabemos que não é verdade. Não somos parentes além de um papel que diz que somos. Nada mais nos impede... Então, a partir de hoje, estou indo embora de casa. Me mudarei para alguma das casas que estão em meu nome ou no dele, e que decidirei com Alex qual será. - Com uma pausa e, pensando bem em quais palavras usar, continuei. - É fundamental que ele escolha comigo, pois moraremos lá depois que nos casarmos.

Mal pude concluir, quando meu pai se levantou, puxando minha mãe com ele, que o segurava com toda força que podia. Antes que ele chegasse em mim, Alex se colocou a minha frente, me protegendo. Mas eu não tinha medo, não precisava da proteção dele.

- Encoste um dedo nela e eu garanto que te denuncio. - Alex ameaçou.

- Encoste um dedo nele e eu garanto que a mim, você não poderá mais chamar de filha. Você ja interferiu na minha vida vezes demais... - Disse me colocando a frente de Alex mais uma vez.

- Se encostar em qualquer um dos dois... - Minha mãe avisa, baixinho. - Eu juro que não vai ser só ela que você vai perder.

Com os punhos cerrados e pronto para bater em alguém, meu pai encara minha mãe, quase sem ar. Seus olhos estão marejados e, a medida que ela tira seus braços dos dele, uma lágrima solitária escorre por sua bochecha. Eu não havia visto minha mãe chorar muitas vezes. Ela sempre se colocou forte diante de tudo. Mas ultimamente, ela tem estado bem sensível.

- Não estou brincando, Taylor. - Sua voz estava estranhamente calma.

Meu pai recua. A unica coisa capaz de amedronta-lo é perder minha mãe e ela sabia. Seu unico ponto fraco. Sem dizer nenhuma palavra, ele sai do quarto, xingando tudo a sua volta com todos os palavões possiveis. Minha mãe, volta para a cama e falha em segurar o choro.

Tento me aproximar dela, mas ela me impede. Alex me puxa para perto de si e me abraça. A vontade de chorar toma conta de mim, mas tento me manter forte.

- Alex! - Sua voz sai tão baixa que é quase dificil de ouvir. - Eu juro pela minha vida, que se você pisar na bola com ela... Uma vez que seja... Eu mato você.

- Não pretendo fazer isso. - Ele responde baixo.

- Me escute bem... Eu não estou brincando. Se querem mesmo fazer isso, eu não vou impedir e nem ser contra... Mas você vai o quanto antes, entrar com um processo para desvincular o seu nome com o meu. Vocês fazem questão de dizer que não são parentes e por isso podem se casar, diante disso, façam questão de que seja tudo direito. Morar junto apenas após o casamento. Resolvam tudo o que tiverem que resolver antes disso.

- Eu não me importo de fazer isso, Jhen... - Eu só quero estar com ela.

- Pro seu bem... que isso seja verdade. Agora, saiam daqui.

A última frase não saiu com tom de grosseria. Ela estava calma e até mesmo, com um leve sorriso em meio as lágrimas. Antes de sair, ela veio até mim, me abraçou com força, beijou o topo da minha cabeça e disse que me ama. E assim, deixei para trás tudo o que pudesse me impedir de ser quem sou e fazer o que quero... mesmo que implicasse em deixar minha mãe lá dentro...

Permita-Me Sonhar - Livro IIIOnde histórias criam vida. Descubra agora