Capítulo Quarenta e Nove

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Mesmo com o passar dos dias, não consigo acreditar que não verei Henri novamente. Ainda tenho a sensação de ouvir sua voz me chamando; de sentir seu cheiro... Eu ainda o sinto aqui. Presente.

Minhas noites continuam a ser longas - mesmo com toda aquela quantidade de remédios para dormir. Na verdade, eu queria dormir. Eu queria vê-lo mais uma vez. Queria poder estar com ele mais uma vez... só mais uma vez...

Quero dizer que o amo. Que me casaria com ele naquele mesmo instante. Quero ser a esposa dele. A mãe do filho dele. Quero ser dele...

- Ei... tenta dormir um pouco. - Alex diz.

- Estou tentando... - Digo virando de um lado para o outro. - Você poderia...?

- Claro. Claro...

Alex deita na cama, ao meu lado. Seu braço se estica para ocupar o lugar do travesseiro e me abraçar. Me aninho em seu colo e apoio minha cabeça em seu peito. O bater do coração me acalma... é como uma sonata tranquila; uma melodia composta especialmente para mim, pelo mais talentoso e incrível dos compositores. Fecho os olhos e me concentro somente naquele som.

Em minha mente, os momentos que passei ao lado de Henri. Os olhos, marejados e inchados. Mesmo em silêncio, sinto que estou gritando por dentro.

Alex dormia tranquilamente a este ponto. As horas estão passando sem controle algum. Não sou capaz de distinguir sozinha a quanto tempo estou deitada, apenas ouvindo o som do coração que agora bate no peito de Alex.

TUM TUM... TUM TUM... TUM TUM...

É apenas isso que ouço.

Olho para cima e vejo as gotículas da medicação para dormir. Cada gota tem caído lentamente. Ao som de quatro batidas repetidas. Tum tum, tum tum, tum tum, tum tum... uma gota. E assim, repetidas vezes.

Decido então, baixar a rodinha que as controla. Abrindo a passagem para a medicação passar pelo cano fino, ligado a minha veia. A sensação fria corre pelo meu braço. Então, finalmente, consigo dormir.

***

- EI! - Grito e Henri se vira para mim. Os cabelos soltos, caídos em seus ombros. Os olhos brilhantes e o sorriso... - Henri!

Corro até ele o mais rápido que posso. O abraço com tanta força que tenho a sensação de que vou quebra-lo em pedaços. Ao olhar para ele, não posso evitar chorar. As lágrimas caem sozinhas.

- Meu amor. - Ele diz sorrindo. - Como? Como você está aqui?

- Eu vim te ver. Estou aqui por você.

Henri parece confuso e ligeiramente abalado. O que está acontecendo?

- Não está feliz em me ver? - Questiono.

- Eu... Claro.

- Eu queria tanto te ver... eu precisava... Tem tanta coisa que preciso te contar... Ah, meu amor. - O abraço e choro um pouco mais.

- Luna... como você chegou até aqui?

- A medicação para dormir... me deram no hospital. - Sinto um pouco de medo de dizer a ele que aumentei a velocidade por conta própria. - Eu... eu...

- Adormeceu ouvindo o som do meu coração?7

- Sim... - As lágrimas tornam a voltar. - Eu sinto muito. Meu amor, como eu queria que você estivesse comigo. Como eu queria que pudéssemos nos casar, criar nosso filho juntos...

- Fi-filho?

- Sim... Henri, eu... a Rory... - Porque não consigo falar? - Eu não sabia...

- Mudaria alguma coisa se soubesse? - Esta é uma das poucas vezes que vi Henri irritado.

- Eu não teria ido até ela, para começar. Eu não colocaria nosso bebê em risco...

- Mas se colocou em risco...

- E coloquei vocês... e você... você... MERDA! - Grito.

- Ei, calma... - Ele se aproxima. - Não foi sua culpa. Eu fiz aquilo porque quis. Eu te protegi porque não suportaria viver em um mundo sem você.

- E eu? EU não estou suportando, Henri...

- Está sim... Você tem seus pais... Tem o Alex... E tem a mim... Posso não estar fisicamente, mas eu estou lá, com você.

- Não é a mesma coisa...

- Eu sei... Eu sei...

Henri me abraça. Tento guardar esta sensação na memória o quanto for possível. O calor. O conforto.

Mas logo... logo seu abraço se afrouxa. Olho para ele, mas ele está desaparecendo... O que está acontecendo? Chamo seu nome repetidas vezes, tentando trazê-lo para perto. Mas não funciona. Henri continua a se desaparecer... gradativamente.

***

- NÃO! - Grito ao acordar. - NÃO! PORQUE ME ACORDARAM? PORQUE ME TIRARAM DE PERTO DELE?

Olho ao redor. Minha mãe está abraçada com meu pai, chorando em um canto da sala. Alex segura minha mão, tremendo e com o rosto molhado por lágrimas. Estou confusa... Alex chorando?

- Eu não posso perder você... - Ele diz. - Luna, eu não posso perder você...

- Me... perder? - Tento raciocinar, enquanto um médico direciona uma luz forte em meus olhos e outro checa minha pressão. - Que merda, Alex. Eu só queria dormir. Só queria estar ao lado dele mais um pouco. Vê-lo mais um pouco...

- Você tem ideia do que fez? - Minha mãe altera a voz em meio a lágrimas. - Você morreu. VOCÊ SE MATOU POR ALGUNS MINUTOS. Nós quase perdemos você...

- Não... Eu não morri... eu só dormi. Eu só queria dormir.

- A dosagem... você deixou uma dosagem altíssima entrar na sua corrente sanguínea de uma vez...

- ISSO AQUI, - Minha mãe grita, segurando a rodinha que controla a velocidade do medicamento. - ISSO EXISTE POR UM MOTIVO, LUNA. NÃO É ENFEITE! PORRA!

- Ei, calma... - Meu pai a tira de perto. - Isso não vai ajudar em nada agora.

- Mãe... - Meus olhos tornam a marejar. - Me desculpa... Eu não queria, eu juro. Eu não conseguia dormir... Eu precisava dormir...

Ela não respondeu. Apenas pegou sua bolsa, seu casaco e saiu... Ela, simplesmente... saiu.

Minha mãe nunca me deixou assim. Nunca virou as costas para mim, mesmo nas piores horas. E agora, ela saiu... E não posso fazer nada. Não posso ir atrás dela, abraça-la e dizer que sinto muito. Que estou bem. Que não foi de propósito...

Como eu poderia saber? Eu... eu só faço merda... Primeiro Henri... Alex... Meu filho...
E agora, consegui magoar e afastar a única pessoa que nunca se afastou de mim.

PARABÉNS, LUNA PRICE!

Permita-Me Sonhar - Livro IIIOnde histórias criam vida. Descubra agora