Capítulo Seis.

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     Acordei mais cedo para garantir que não iria me atrasar. Olhei para o relógio, 5 da manhã?! Ok, talvez eu esteja um pouco ansiosa para contar a Miguel o que aconteceu ontem e talvez mais ansiosa ainda para encontrar Saori na escola. 
Decidi começar a me arrumar. Normalmente eu não perco tanto tempo escolhendo roupa, mas especialmente hoje quero estar mais "apresentável" digamos, não que eu queira impressionar Saori, longe disso, apenas quero me arrumar mais, para mim é claro.
    Depois de trinta minutos finalmente escolhi uma roupa, suéter nude por cima da blusa branca(e sem graça) da escola, saia combinando e um tênis branco. 
   Desci para tomar café e modéstia a parte, o bolo que fiz ontem estava maravilhoso. Separei algumas fatias para levar para seu Antônio e outras para Miguel, se ele soubesse que fiz bolo e não dei nem um pouco para ele com certeza me mataria. 
Sentei na varanda, coloquei minha playlist de músicas calmas e fiquei admirando os pássaros que começavam a se levantar; a brisa fria que batia contra as árvores fazendo com que suas folhas caíssem de maneira lenta, era relaxante. Esse mesmo vento soprava contra minha pele e me arrepiava. 
  — O que está fazendo aqui fora? — Chamou uma voz.
Olhei para a porta, e lá estava minha prima, usando seu roupão de estrelas que está com ela a mais tempo do que posso me lembrar. 
— Queria acordar cedo para garantir que não iria me atrasar, mas acho que exagerei. — Falei.
— Posso? — Perguntou Isadora, apontando para o espaço vazio ao meu lado. 
— A vontade. — Fiz um gesto banal com a mão.
Ficamos alguns minutos apenas em silêncio, olhando os poucos passarinhos que voavam e depois pousavam na grama húmida. 
— Você está bem? — Perguntei, ainda sem a encarar. 
— Sinceramente? Não faço ideia. — Disse Isadora, com um suspiro enquanto observava o céu. 
— Aconteceu algo? 
— Não, é só que... eu venho questionando muitas coisas sobre mim, e cheguei a conclusão que não sei quem sou, e nem o propósito disso tudo. Sei lá… tipo, eu sempre estive preocupada com o futuro desde que me entendo por gente, e acho que essa preocupação fez com que eu esquecesse de viver o presente, sabe?
— Você ficou tão focada em quem queria ser que não prestou atenção em quem é agora — falei casualmente, dessa vez olhando em direção a ela. 
— É! Isso! Achei que estava ficando louco. 
— Tudo bem se sentir meio perdido às vezes, se questionar sobre quem é ou quem virá a ser. A vida é feita de descobertas, essa é a graça não é? — Me assustei com o quão natural aquelas palavras saíram de mim, porque eu mesma não fazia ideia de quem era ou o que iria fazer.
— Acho que sim.. — disse Isa se virando para mim — Você é uma ótima conselheira, onde aprendeu isso? 
— Livros — falei. — Existe um mundo inteiro de aprendizagem e histórias em cada um deles. É como aquela peça que li para você, se lembra?
 Antes que eu possa dizer, Isa me interrompe e recita por si só:
— ‘’Livros, com sua própria defesa, sem medo falam de grandes e pequenos feitos em todas as épocas.’’ — Ela finaliza e sorri. 
— Você lembra mesmo.. — Digo com ternura. 
— Claro que me lembro, você me disse isso quando me deu meu primeiro livro de aniversário. 
Tentei não pular nos braços da minha prima, Isa não gostava de contato físico.
— Bem, eu ainda me lembro do nome da constelação que está no teto do seu quarto. — Confesso. — A fênix. 
Ela ri da minha resposta. 
— Acho que temos boa memória quando o assunto é as obsessões uma da outra.
concordo com a cabeça e deixo uma risada nasal sair. Meu nariz arde um pouco pelo ar congelante daquela manhã, é quase demais para esta época do ano.
— Vamos entrar, cara de lua, está frio. Eu sei bem como você fica rabugenta quando está gripada.   
   Entrei para dentro junto com Isadora, me sentei no sofá e ela subiu para se arrumar. Uma hora depois ouço alguém bater na porta, provavelmente Miguel. Me levantei e atendi. 
— Oi! — Cumprimentou ele com um sorriso enquanto me abraçava. 
— Não.. Sinto meu braços.. — falei com dificuldade.
— Desculpa, eu sempre esqueço disso. — Disse envergonhado.
Dei risada porque aquilo era verdade. Miguel sempre teve essa mania de me abraçar com toda força, como se eu fosse escapar de alguma maneira. E tenho certeza que ele faz de propósito. 
— Nossa, como você tá bonita. — Disse ele, me olhando de cima a baixo. — Espera, isso é maquiagem?! Por isso que choveu de madrugada.
— Ah, cala boca. — Falei  rindo, empurrando seu rosto com a mão. — Entra, só vou arrumar umas coisas e saímos.
Miguel subiu as escadas comigo, mas foi direto para o quarto de Isadora. Eles sempre se deram muito bem apesar da maneira carinhosa de Miguel entrar em conflito com a cheia de "não me toques" de Isa. Rapidamente peguei minha mochila e fui para a cozinha pegar os pedaços de bolo que tinha separado. Miguel desceu logo depois.
— Tchau, cara de lua!— Gritei para Isadora.
— Até, moranguinho — Respondeu ela.

                                              
                                                            ☆☆☆

   — Tá, mas o que você queria me contar?! — Perguntou Miguel afobado, assim que viramos a esquina. 
— hummm será que eu conto? — Eu fingi pensar com a mão no queixo.
— Agatha Vasconcellos, Você não tem o direito de me fazer esperar desse jeito e no final não me dizer! Anda logo desembucha! — Esbravejou.
— Tá, tá! — Falei rindo, porque ver Miguel desesperado e curioso daquele jeito é uma das minhas pequenas satisfações da vida. 
— Eu matei aula ontem.
— Ok, primeiro a roupa, depois a maquiagem, e agora matando aula? Quem é você e o que fez com a Agatha? 
Revirei os olhos. 
— Calma, não é só isso, — falei — eu fui com uma pessoa....
— Meu Deus, minha amiga já está namorando, elas crescem tão rápido! — Disse fingindo enxugar uma lágrima.
— Deixa de ser bobo, não tem nada de namoro nisso!
— Tá bom, parei. — Ele levanta as mãos em rendição. — Mas por favor, me conta quem é de uma vez.
— Isso você só vai descobrir na escola. — Eu falo e saio andando, como um personagem de filme de ação que joga uma bomba, e sai andando lentamente deixando o caos acontecer atrás de si.
— O QUÊ?! PELO AMOR DE DEUS AGATHA EU SOU CARDÍACO! NÃO FAZ ISSO COMIGO! — Miguel corre e me agarra pelo braço. 
— Sugiro tomar uma água então.— Eu dou um sorriso sarcástico para ele. — E você não é cardíaco, eu fui com você fazer os exames.
— Eu te odeio! 
— Também te amo — Falei dando um tapinha em seu ombro. 

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