De última hora, Lucas e eu inventamos de sairmos todos juntos. Ninguém estava esperando o convite, então não tínhamos nenhum plano em mente; mas todos compartilhamos do mesmo desejo de apenas sair de casa. Neste momento estou no banco do passageiro do carro de Brisa, enquanto Miguel e Thomas pulam freneticamente no banco de trás, cantando (ou berrando) a música que toca no rádio.
— O que caralho vocês comeram hoje?! — Questiono, olhando para trás.
— Só dez sacos daquele pirulito que tem um pó doce. — Thomas diz sorrindo.
— Agatha, seu filho vai explodir de tanta açúcar! — Brisa esbraveja, sem tirar os olhos da estrada.
— A culpa é sua por ter presenteado eles com esse negócio! — Rebato, fazendo Bri e eu entrarmos numa discussão sobre quem é a responsável pelos meninos parecerem o papa léguas depois de beber energético com café. Não era uma briga de verdade, mas era engraçado como pareciamos aqueles pais divorciados.
Passamos na casa de todos e é só quando chegamos na de Evandro, é que notamos que o carro está entupido de gente.
— Ok... quem se voluntaria para ir no porta malas?! — Saori diz, como se estivesse propondo uma brincadeira para um grupo de crianças.
— E amassar todo o meu Black? Nem morto! — Evandro ajeita seu cabelo com as mãos. — E em defesa da minha irmã aqui — ele passa o braço pelo meu ombro — Ela também não vai, gêmeos de black se apoiam.
Sorrio com as palavras, e abraço o torso de Evandro. Evan era aquele tipo de pessoa gostosa de abraçar, que afunda você em uma avalanche de carinho. Estava feliz de saber que o teria comigo quando fosse pro Rio.
— O Thomas é compacto, então ele vai. — Miguel fala, apontando.
— Compacto é essa sua cabeça de avestruz! — Indigna-se Tom, de um jeito que faz Saori e Lucas lutarem para segurar a risada.
— Como é que é?! — Miguel está prestes a rebater, quando entro no meio deles.
— Epa, epa! Vamos respirar? Vamos respirar... — digo para acalmar os ânimos. — Que tal fazermos assim: Evandro no banco da frente já que tem o cabelo mais volumoso; Como são mais altos, Lucas e Miguel nas janelas. Saori e eu no meio e Thomas no meu colo. Pronto. — Todos concordamos? — Pergunto e ouço afirmações em seguida.
— Eu não. — Thomas cruza os braços. Óbvio que não concorda. — Se eu ficar no seu colo, no meio, Bri não vai conseguir ver atrás.
Solto um suspiro cansada.
Depois de muita briga, concordamos em Thomas ir no colo de Miguel, a decisão ocasionou em duas quadras inteiras de discussões, já que ambos se atracavam no banco como cão e gato. Era engraçado de ver, tinha que admitir.
— A última vez que alguém brigou tão perto da janela, um filme de terror começou! ENTÃO PAREM! — Saori repreendeu, nos fazendo rir de um jeito mórbido; lembrando do quão pesada era a cena que ela referenciou.
Começamos a rodar a cidade sem ter um rumo certo. A noite iluminada cobria o cenário visível pelas janelas, e as fontes de água espalhadas pela cidade ganhavam luzes coloridas que nos encantavam. ‘’Pictures of Girls’’ estourava no som do carro, Brisa abre o teto solar de seu carro e aponta com um sorriso no rosto. Nos esprememos para caberem todos naquele quadrado e colocar metade do corpo para fora.
— Música de túnel! — Não posso deixar de referenciar.
— Eu sempre quis fazer isso! — Thomas diz, sem conter a empolgação.
Cantávamos a música a plenos pulmões para toda a capital, nos atrapalhando entre rir e fechar os olhos para sentir o vento forte bater no rosto. Eu não me importava com o fato do meu cabelo estar bagunçado, ou com o frio que me arrepiava. Eu amava cada segundo daquele momento com meus amigos e era isso que importava.
— Tá bom arruaceiros, voltem pra baixo, a polícia pode nos parar! — Brisa ordena.
Obedecemos aos risos, ainda com o finalzinho da música passando.
— Meu rosto congelou! — Digo, tocando minha própria bochecha.
— Meu Deus está quase uma pedra! — Saori toca seu próprio rosto e depois o meu para comparar. Sinto um arrepio correr meu corpo. O gesto contagia os outros a repetirem o mesmo, trocando toques acompanhados de exclamações pelo frio. Juro, que por poucos segundos, consegui ver o cenho de Brisa vacilar em um sorriso sem jeito quando Lucas toca seu rosto levemente com os dedos. Ele demora um pouco mais para afastar sua mão, mas ela não faz nada para impedir. Dou uma olhada para Miguel, conferindo se ele notou, a resposta é uma careta imitando a cara de bobo de Lucas. Tenho que disfarçar a risada.
— Ah caralho! Temos que ir nesse negócio! — Saori exclamou animada, quase colocando a cabeça pela janela.
O que ela se refere, é um parquinho infantil localizado em meio às árvores e a grama húmida.
— Mas é claro que a gente vai, né?! — Evandro chacoalha Brisa a irritando para que ela pare o carro. Ela obedece, mas aperta o freio de um jeito brusco de repente, nos fazendo quase voar no para-brisa do carro.
— Cinto de segurança é importante. — Ela diz calmamente, enquanto solta o seu próprio e sai de forma graciosa, nos deixando amassados nos bancos.
Saltamos do carro reclamando pela grosseria, mas raiva se esvai quando temos uma visão melhor do parquinho, agora que ele está mais próximo. Brinquedos de metal como balanços, escorregadores, gangorras e um gira-gira enorme. Tudo muito colorido, em amarelo, azul e vermelho. Ficamos imediatamente animados e nem meio segundos depois, já estávamos pendurados em barras de ferro e em brinquedos que não foram feitos para serem usados assim.
— Vamos ver quem balança mais alto? — Lucas sugere. — Me preparo para sentar em um dos balanços quando ele me interrompe. — Não, assim é sem graça demais. Vamos em pé.
— O que?! — Exclamo. — A gente vai cair!
— Só tem areia embaixo da gente, não vamos morrer. — Argumenta.
O restante do grupo se entreolha, mas naquela altura aceitamos qualquer coisa. Subimos, ficando de pé e nos segurando com as mãos na corrente.
— Um...dois...três... Vai! — Saori dá a largada.
Tento me balançar para frente e para trás, usando meu corpo como impulso. Lucas usa muita força então acaba fazendo seu balanço girar desgovernado, batendo em Brisa e Evandro. Os três caem no chão, um por um, como uma pilha de dominós enfileirados.
— Caralho Lu! — Brisa diz com raiva. — Você tem a coordenação motora pior que a de um bebê!
Nem ele nem ninguém consegue responder, estamos ocupados demais rindo igual hienas. Lucas tenta se levantar, mas está rindo tanto que acaba caindo de novo. Miguel e Thomas se rendem ao riso e param seu balanço sem conseguir respirar e com os olhos lacrimejando. Somos só Saori e eu agora.
— Minha meta é fazer esse balanço girar tão alto, que vai dar uma volta em 360° completa! — Saori fala convencida. — Ainda dá tempo de desistir sem se machucar, boneca.
— Boneca? Vai sonhando, só saio daqui quando sentir o cheiro da sua derrota! — A desafio.
Saori me lança um sorriso travesso que abala minhas estruturas. Adoro quando ela está prestes a fazer algo imprudente.
— Preparadas? — Brisa pergunta. — Vai!
Mais uma vez tento me balançar com pressa, usando toda a força que tenho. Saori passa na minha frente, indo bem mais alto que eu. Analiso o que diabos estou fazendo errado, até que reparo em como ela se balança. Não é acelerado, é calmo mas constante, jogando seu corpo a frente e depois o recolhendo quando volta para trás. Repito o movimento, rapidamente pego velocidade, e eventualmente a alcanço. Mas eu quero mais, não está alto o bastante. Coloco mais força, mais e mais.
— O quê... — Consigo a ouvir dizer, seus olhos arregalados e a boca entre a aberta, numa mistura de paixão e preocupação. Então num lampejo, tão rápido quanto um raio. Meu balanço dá a volta completa na barra de ferro que ele está pendurado. Por poucos segundos, o mundo fica de cabeça para baixo e uma pressão toma minha cabeça. Ouço palavrões de admiração antes que no final da volta, eu pulo do brinquedo, aterrissando na areia. E então sou engolida por sorrisos e tapinhas nas costas.
— Puta que pariu Agatha! — Thomas diz.
— Você tem que me ensinar a fazer isso! — Lucas implora empolgado.
— Isso foi incrível! — Evandro sorri, me sacudindo.
— Como você não se estatelou no chão, garota?! — Brisa fala, chocada.
Saori apenas me observa, com as pupilas dilatadas, sem nem piscar.
— Saiam da frente! É a minha melhor amiga! — Miguel, num movimento rápido, me joga em suas costas e com isso saímos comemorando até o carro.
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Estrelas ao meio dia.
CasualeAgatha sempre foi uma menina introvertida, vivendo em seu pequeno mundo coberto de livros, quadros e músicas que foram lançadas antes mesmo de ela sonhar em nascer. Mas quando uma garota punk de cabelo cruza seu caminho e a faz experimentar a rebel...