Chegamos na escola todos juntos, rindo, conversando, e claro, comendo uma parte dos brownies que eu fiz. Nem foi preciso avisar para Miguel que eles existiam, ele mesmo descobriu com seu olfato sobre-humano que só ele tem.
Dei uma risadinha baixa lembrando de todas as vezes que ele fez o mesmo, conseguia saber que comi algo sem oferecer a ele apenas se aproximando de mim.
- Bom dia Agatha! É bom tê-la de volta. - Cumprimentou seu Antônio quando passei pelo portão. Não tinha notado como sentira sua falta até aquele momento em que o vi ali, na minha frente, com sua expressão gentil e sua gravata borboleta com estampa xadrez tão característica.
- Bom dia! É bom estar de volta também. - Respondi sorrindo.
- É melhor você ir, vai se atrasar! Depois conversamos melhor. - Ele retribuiu meu sorriso
Assenti com a cabeça e segui andando.
Estava olhando para frente quando percebi que Saori desacelerou o passo para andar do meu lado. Ela parecia agitada
- Preciso te avisar uma coisa. - Ela se aproximou do meu ouvido para dizer.
Senti uma certa apreensão com as palavras.
- O que? - Perguntei, com medo da resposta.
Agora nosso grupo estava bem mais a frente. Alguns alunos passavam e me lançavam olhares curiosos.
- Não sei como isso começou, de verdade. Mas as pessoas estão sabendo do que rolou. - Fiquei um pouco surpresa, afinal, não era nem um pouco popular na escola. Acho que um pouco disso veio incluso no pacote ao andar com Sá e os outros. Silenciei-me para que ela continuasse.- E fofoca vai, fofoca vem; os motivos foram mudando. Mas o que eu mais ouvi foi: homofobia. - Ela concluiu um pouco hesitante.
Arregalei o olho ao ouvir aquilo. Não era uma total mentira, mas se as pessoas estavam comentando, era questão de tempo até que chegasse nos ouvidos da minha mãe. E depois disso, era totalmente incerto. Saori percebeu meu pânico e me puxou pela mão para um banco, o mais afastado que conseguiu.
- Juro por todos os deuses que não contei nada para ninguém, fora Brisa, que nos beijamos. Você sabe como são as coisas aqui, as notícias voam sempre tem alguém que viu. - Se apressou a falar assim que nos sentamos.
- Acredito em você. - Consegui dizer, tentando não entrar em pânico.O rosto de Saori relaxou um pouco.
- O que me preocupa... - comecei a falar.
- É sua mãe saber - completou ela. - Também pensei nisso, você nunca mencionou, mas sei que não é assumida para ela.
Desabei com as costas na parede, passando a mão pelo cabelo, ainda nervosa.
- Não faço ideia de como ela vai reagir... tenho medo de algo ruim acontecer de novo. O Thomas... - Meus olhos embaçaram e meu peito apertou só de pensar na possibilidade de Tom sofrer novamente.
- Ei, ei - falou Saori me puxando para um abraço, acariciando meu cabelo e me puxando para mais perto. - Nada vai acontecer com vocês dois, eu não vou deixar, e muito menos os outros. Vai ficar tudo bem.
Vê-la citar nossos amigos me lembrou de quando por descuido chamei Thomas pelo seu nome e pronome corretos na frente deles. Paralisei de medo quando suas sobrancelhas franziram-se e me olhavam com estranhamento. Mas para minha surpresa, e de tom ( que já estava prestes a entrar em combustão no sofá) suas expressões suavizaram e todos começaram a apenas o chamar no masculino e pelo seu nome. Simples assim, não teve uma revelação enorme, apenas naturalidade. E consegui ver o alívio nos olhos de Tom. Foi um momento importante para mim e para ele. A lembrança me trouxe um pouquinho de conforto.
- Obrigado. - Falei, mais calma.
Sá sorriu em resposta, depois olhou em volta, me coagindo a repetir o movimento. Percebi que nossa conversa tomou mais tempo do que percebemos, os corredores estavam vazios. Quando retornei meu olhar de volta para ela, havia ternura em seu rosto. Saori levantou meu queixo com um gesto suave e encostou seus lábios nos meus, fazendo meu coração aquecer e minha mente apagar. Era um beijo afável e delicado, como se eu fosse feita de vidro e ela temesse me quebrar. Passei a mão em sua bochecha antes de nos separarmos, não era um local seguro, mesmo vazio. Já sentia falta daquilo novamente, beijar Saori me trazia uma sensação constante que eu não sabia a origem e nem sabia nomear.
- Preciso ir, vai começar meu horário de biologia. - Falou ela, meio triste.
Concordei desanimada e me levantei.
Antes de ir, Sá me deu mais um abraço apertado e então se afastou até sumir da minha vista. Era estranho sentir tantas coisas ao mesmo tempo, não sabia que um coração era capaz de sofrer e ao mesmo tempo estar em chamas.
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Estrelas ao meio dia.
De TodoAgatha sempre foi uma menina introvertida, vivendo em seu pequeno mundo coberto de livros, quadros e músicas que foram lançadas antes mesmo de ela sonhar em nascer. Mas quando uma garota punk de cabelo cruza seu caminho e a faz experimentar a rebel...