Capítulo Quinze.

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    Na manhã seguinte minha cabeça dilatava. Sentia que meus olhos iam pular das órbitas a qualquer momento. É o que eu chamo de "ressaca de choro". Como uma ressaca de bebida só que com um plus de nariz entupido e uma dor infernal nas têmporas. Um combo muito agradável. 
Minha mãe ainda não está falando direito comigo, ela não parece com raiva ou me trata mal, só, simplesmente finge que nada aconteceu. É difícil explicar mas me sinto como uma colega de trabalho que ela brigou mas é obrigada a ter uma relação profissional. Desde que me entendo por gente minha mãe se esquiva de conflitos, essa mania dela de jogar as coisas pra debaixo do tapete é uma das coisas que mais me fazem surtar. Mas vou entrar na encenação dela, também não faço questão de conversar se ela não quiser. Não sou a errada aqui.

                          ☆☆☆

  — De que bueiro você saiu? — Disse Miguel, com uma cara assustada e confusa assim que abri a porta. 
— Do mesmo que a sua mãe. — Respondi ríspida, voltando para meu caixão, mais conhecido como sofá da sala.  
Miguel deu risada e fechou a porta atrás de si. Gosto como ele nunca leva a sério nossos xingamentos.
— Agatha é sério, você está péssima! Que diabo aconteceu de ontem pra hoje?
Suspirei cansada só de lembrar de toda a briga de ontem. 
— Foi sua mãe, né? — Ela senta ao meu lado, cruzando as pernas em uma posição de meditação como sempre faz. 
— Tá tão na cara assim? — Respondi. 
— Ok, nós temos…— falou ele dando uma pausa para olhar a hora no celular. — 20 minutos para te transformar de volta em um ser humano possível de conviver em sociedade e você me contar o que rolou. 
Dessa vez fui eu que sorri. Sempre fui grata por Miguel arrumar um jeito de jogar uma corda pra me arrastar pra fora do poço toda vez que preciso. Ou quando a situação está muito feia, se sentar lá comigo e levar um café. 

                         ☆☆☆

   — E agora ela tá fazendo a egípcia e não disse uma palavra sobre. — Finalizei depois de contar tudo que aconteceu ontem. 
— Nossa, eu achei que ela tinha melhorado um pouco, a algumas semanas ela parecia estar se esforçando. — Comentou Miguel, enquanto puxava uma mecha do meu cabelo e se afastava  para ver o coque que ele fez. 
— E até que estava, mas sei lá, não sei o que sentir sobre isso. Eu fiz escândalo atoa? — Perguntei desabando na minha cama. 
— Número um: — Ele levanta o dedo indicador. — Levanta dessa cama, agora. Você vai estragar meu penteado. Meu braço tá doendo até agora por causa disso! — Disse sério, mas logo desmanchando a expressão e colocando as duas mãos no meu rosto, delicadamente. — E dois: Te conheço bem Agatha, não precisa se sentir culpada por algo que ela fez. Foi mancada sim, não ter buscado a Isa. Mas sua explosão não foi por causa disso e ela também sabe. Era um sentimento que tá guardado aí a muito tempo, uma hora ia acontecer.
Fiz que sim com a cabeça e sorri.
— Obrigada Guél. — Respondi com um sorriso. 
Ele faz uma expressão de nojo e solta meu rosto.
— Esse você tirou do fundo do baú! Como ainda lembra desse apelido?!— Falou com uma risada incrédula. 
— Como eu ia esquecer? — Eu zombei com um sorriso. 
— Fofo, mas nem pense em sequer pronunciar isso perto do Evandro, eu imploro!
— Me irrita e você já sabe. — Provoquei, fazendo o exato movimento de sobrancelha que ele fez no dia que conheceu Saori. 
— VOCÊ NÃO É NEM LOUCA! — Ele diz apavorado.
Gargalhei com isso.  

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