Capítulo Quarenta e Nove.

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      Era manhã, cerca de duas semanas desde que Saori e eu começamos a namorar. Era mais que comum sua presença aqui em casa, coisas dela sempre estavam pelo meu quarto, um delineado esquecido ou uma das pulseiras de spike que ela usava. Mas hoje em questão, minha mãe havia nos chamado por um motivo específico.     Estávamos reunidos na mesa, Amélia, Thomas, Saori e eu. Tomávamos café da manhã quando minha mãe disse para permanecermos na cozinha porque tinha um assunto para tratar conosco
— Aconteceu alguma coisa? — Pergunto aflita, empurrando um prato sujo de torrada para o lado.
— Sim, não... vai acontecer. — Minha mãe responde, nos deixando ainda mais confusos. — Tenho atualizações sobre o processo.
Agora ela tinha nossa total atenção. Tom que ainda comia seus ovos largou o garfo.
— O julgamento será daqui a cinco dias, nossa advogada está confiante! — Sorrimos, mais aliviados. — Mas tem mais uma coisa — Acrescenta. — Vocês três vão ter que depor. 
Agora sinto uma apreensão, já era algo que esperava, mas não tão cedo. Não era novo ter que contar a mesma história de novo e de novo, mas era a primeira vez que teriamos que fazer isso com os agressores na mesma sala.
— Tudo bem... não temos nada a esconder, certo? — Diz Thomas.
— Mais ou menos — Mamãe começa. — Saori também agrediu eles.
— Mas isso foi legítima defesa! — Exclama ela zangada.
— Eu sei! É isso que vamos alegar. — Ela tranquiliza. — E temos todos os documentos do hospital que mostram que você também deu entrada ferida. É apenas um argumento que não podemos descartar. — Saori engole seco e se encosta novamente na cadeira. Pego sua mão e acaricio a fim de confortá-la.— Também temos as imagens da câmera de segurança de uma casa que filmou toda ação, vamos ganhar, não precisam se preocupar. — Ela sorri e coloca a mão na perna de Thomas e na minha. — Estou mais preocupada com vocês terem que reviver tudo de novo ao testemunharem.
    Respiro fundo. Lembrar desse dia não é exatamente algo fácil de se fazer, mas minha terapeuta vem me ajudando a lidar melhor com tudo isso. Não sou uma pessoa muito verbal nesses quesitos, então o método do desenho que ela me passou vem funcionando. Não sei exatamente como mas sei que vou conseguir falar, tenho que conseguir.
— Faço o que for preciso para ver aqueles arrombados presos. — Digo.
— É uma merda — concorda Tom. — Mas também não vou ter problemas com isso, se o objetivo for fuder aqueles caras.
Minha mãe franziu o cenho repreendendo os palavrões, mas sorri em seguida.
— Eu estou mais que feliz em ajudar. — Comenta Saori. — Já acabei com eles uma vez, posso fazer isso de novo.
Damos uns aos outros um olhar de cumplicidade que nunca imaginei ver. Apesar das circunstâncias estou feliz.
— Tenho muito orgulho de vocês. — Fala Amélia. 
    É a primeira vez na vida que ouço isso vindo dela, então sinto vontade de chorar. Puxo minha mãe para um abraço, afundando minha cabeça em seu ombro. Só quando sinto o tecido de sua roupa umedecer é que percebo o quanto eu precisava daquilo. Anos sem sentir o aconchego do abraço da minha mãe. Saori e Thomas também se juntaram ao abraço, e pela primeira vez em muito tempo, me sinto em casa.

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