Capítulo Vinte e Cinco.

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- Esse tipo de coisa só acontece quando preciso dormir cedo, é incrível! - Esbravejou Thomas, largando o celular na mesa.
Estávamos terminando de tomar café. Meu primo reclamava sobre um tal eclipse lunar que aconteceria amanhã de madrugada e ele não conseguiria vê.
- Vai ter outra oportunidade. - Tranquilizei.
- Duvido muito que conseguirei enxergar quando estiver 100 anos; mas obrigada por tentar me animar. - Ironizou Tom e demasiadamente bebericou seu café, que a essa altura já estava frio devido ao falatório por tantos minutos. Não consegui evitar meu coração aquecer com aquela cena. Era quase aliviante vê-lo se preocupando com suas paixões normais de sempre.
Seis semanas haviam se passado desde tudo. Nem eu, nem Thomas, usava mais gesso; era até um pouco estranho poder mexer o braço livremente. Tom ainda continuava na fisioterapia por seus ferimentos terem sido mais sérios. Já eu, estava totalmente recuperada. Minha mãe continuava incansavelmente tentando descobrir os autores do crime, mas nenhum de nós falou para ela que já sabíamos quem eles eram. Afinal, se dissemos, o assunto sobre Thomas ser um menino trans com certeza viria à tona e ninguém aqui sabia ao certo o quão tolerante mamãe seria com isso. Concordamos em evitar o assunto e deixar em segredo por enquanto. Era horrível não ter liberdade de ser quem somos em casa, mas também não queríamos ser expulsos, por exemplo. Às vezes, o secreto salva vidas.

☆☆☆

Ouvi a campainha tocar. Chutei que seria Miguel, comentei que fiz um brownie ontem por mensagem e duvido muito que ele deixaria de aparecer aqui em casa depois de uma notícia dessas.
Saí da cozinha e corri até a porta.
- Surpresa! - Gritaram várias vozes. Mal conseguia raciocinar o que estava acontecendo. Estavam todos lá. Saori, Miguel, Brisa, Lucas e Evandro. Miguel segurava um cartaz feito a mão enquanto sorria de orelha a orelha.

 Miguel segurava um cartaz feito a mão enquanto sorria de orelha a orelha

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- Gente... caramba... vocês não precisavam... - consegui falar, a voz embargada enquanto eu tentava processar tudo.
- Precisávamos sim, você é especial pra gente, queríamos fazer algo legal. - Disse Saori, com uma doçura que derreteu meu coração.
- Se a letra estiver feia, culpe o Lucas. - Acusou Brisa de brincadeira.
- Feia sua cara! - Ele franziu as sobrancelhas com raiva. - Você sabe como é difícil escrever com um canetão?! - Rebateu ele.
- Pra quem não conseguia colocar uma pulseira deve ser mesmo. - Acrescentou Brisa com um sorriso de lado, que fez as bochechas de Lucas ficarem vermelhas igual um pimentão. Não aguentamos e começamos a rir. - É brincadeira, Lulu. Sua letra é bonitinha. - Bri se desculpou, abraçando seu tronco. E deuses, podia jurar que aquele menino ia explodir ali mesmo.
Rimos de novo.
- Muito obrigada, de verdade. Vocês não sabem o quanto isso significa pra mim.
Todos se aproximaram para um abraço em grupo, quase me esmagando; Mas eu me sentia esmagada de amor, então não me importei. Era a primeira vez que tinha um grupo de amigos que se importava comigo de verdade. A sensação de pertencimento era incrível e diferente de tudo que já experimentei, como se, depois de tantos anos, eu não fosse mais uma forasteira em um mundo desconhecido e apavorante que contava com apenas duas ancoras que me impediam de afundar. Amizades são a família que nós escolhemos, deve ser por isso que o universo me enviou tantas, para preencher a falta da que não escolhi.








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