Passei a noite inteira estudando para compensar meus inúmeros momentos de distração durante a aula de física. Acordei totalmente exausta, e sem vontade alguma de ir à escola. Talvez pudesse inventar uma gripe? Não seria muito difícil convencer minha mãe considerando o meu estado atual. Vesti a blusa da escola na versão branca, calça jeans na qual dobrei a barra, e um suéter rosa. Estava realmente muito frio naquela manhã.
Eu só queria minha cama — pensei.
Desci para tomar café e encontrei Isadora passando geleia em sua torrada.
— Bom dia! — Exclamou ela com um sorriso radiante assim que entrei na cozinha.
— Não tem nada de bom. — Respondi tentando soar o mais amarga que conseguia para deixar claro que não estava em um bom dia.
— Nossa, tá de mau humor?
— Não Isadora, estou radiante! Meu rosto está transbordando alegria, não vê? — Eu forço um sorriso propositalmente falso.
— Morde logo. — Murmurou ela.
— Porque você não-
Um grito interrompeu minha fala.
Isadora e eu nos entreolhamos confusas e um pouco assustadas. Mas antes que pudéssemos discutir o que foi aquilo e quem iria verificar, minha mãe entrou na cozinha correndo.
— Tem uma lagartixa no aquário! — Falou desesperada.
Respiramos aliviadas.
— Pelo amor de Deus mãe! Que escândalo!
— Bom, pelo menos agora nós temos um peixe! — Ironizou Isadora.
Mamãe e eu a encaramos com um olhar de “onde foi que eu errei?”
— Por que simplesmente não a tirou de lá? — Perguntei, ignorando o comentário da minha prima.
— Eu não vou chegar nem a meio metro daquele bicho! — respondeu minha mãe.
— Beleza, então eu tiro — disse Isadora num tom casual, largando sua torrada em um prato. Fomos as três juntas para o sótão onde estava o velho aquário. E Isadora estava certa, aquela lagartixa era o mais perto que tivemos de ter um peixe.
Aquele local foi onde deixamos todos os pertences do meu pai, não suportariamos jogar fora, mas não conseguiríamos deixá-los à vista, seria muito doloroso...
Tentei não olhar muito para o lugar, sabia que tudo ali me traria memórias das quais não gosto de relembrar. Mas pelo pouco que me permiti ver, estava mais empoeirado e cheirava a mofo.
— Está ali. — Disse minha mãe com uma voz ainda assustada, apontando para o fundo da sala.
— Não sei porque matar a coitadinha, ela não está fazendo mal a ninguém. — Protestei.
— Awn, que fofo Agatha! Pega ela pra criar então. — Alfinetou minha prima.
— Talvez eu pegue, pelo menos a lagartixa não é irritante e intrometida igual você. — Devolvi com um tom duas vezes mais irritante que o dela. Isa me mostrou o dedo no meio discretamente, o que me fez revirar os olhos.
— Vocês parecem duas crianças! Tirem logo esse bicho daqui antes que eu bote fogo nessa casa! — Esbravejou minha mãe sem paciência.
Isadora colocou as luvas, tirou a lagartixa com cuidado, e a levou para o lado de fora. Mamãe e eu seguimos logo atrás.
— Bom, já que está tudo certo, eu vou indo. — Falei assim que chegamos na sala, jogando minha mochila nas costas.
— Vocês querem carona? — Perguntou minha mãe.
Eu parei subitamente, esperando pela resposta de Isa e fugindo da minha própria.
— Não precisa pedir duas vezes! — Claro que respondeu Isadora imediatamente.
Minha sorriu para ela e se virou para mim.
— E você Agatha? Entendo se você não quiser, não vou te forçar. — Falou minha mãe, fazendo eu estranhar sua compreensão.
Ponderei por um tempo. Não queria dar falsas esperanças e nem fazê-la pensar que eu a perdoei e esqueci de tudo, mas em parte, eu estava morrendo de preguiça de andar até a escola. Então resolvi dar ouvidos a isadora, deixar o orgulho de lado e focar no lado das minhas pernas.
— Ok, mas só porque estou cansada demais para andar. — Concordei por fim. Mas com um tom indiferente.
Minha mãe abriu um sorriso e caminhou em direção ao carro.
A viagem foi tranquila, tranquila até demais. Isadora não encheu o saco para ir na frente, nem ficou me irritando. E minha mãe não forçou a barra para se aproximar de mim. Será que eu dormi e acordei em uma realidade paralela?
— Eu queria pedir uma coisa para as duas. — Disse minha mãe antes de isadora descer do carro.
— Tava demorando. — Isadora suspirou.
— Lá vem — falei em seguida.
— Podem pelo menos escutar? Não é nada absurdo. — Começou minha mãe. — Quero que voltem juntas pra casa.
— E por que? — perguntei.
— Quero que passem mais tempo juntas.
— Mas nós moramos literalmente na mesma casa? — Isadora tinha uma expressão confusa.
— Sei disso. Mas quero que passem um tempo como amigas, não como primas.
— Isso não faz o menor sentido. — Isa soltou uma risada irônica, me fazendo concordar com ela.
— Faço o que vocês quiserem para o jantar. — Minha mãe argumentou, o que foi o suficiente para convencer eu e Isadora.
— Beleza, vamos embora juntas. — Falei.
— Ótimo! — Disse minha mãe, parecendo bastante satisfeita consigo mesma.
Isadora saiu do carro e nós continuamos o caminho em silêncio, mas minha mãe continuava sorrindo como se tivesse visto um passarinho azul.
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Estrelas ao meio dia.
De TodoAgatha sempre foi uma menina introvertida, vivendo em seu pequeno mundo coberto de livros, quadros e músicas que foram lançadas antes mesmo de ela sonhar em nascer. Mas quando uma garota punk de cabelo cruza seu caminho e a faz experimentar a rebel...