Capítulo Vinte e Quatro.

20 2 0
                                    


- Conta essa porra direito Agatha! - Miguel me chacoalhou freneticamente.
- Sabia que as coisas podem explodir do nada? - Ameaçou Thomas.
Já era o dia seguinte. Depois do beijo Saori e eu ficamos fuçando as coisas do sótão por mais um tempo. Achamos bottons antigos do meu pai. Um deles era azul, da banda "ratos de porão". Que coincidentemente era a banda punk nacional favorita de Saori, então a presenteei com ele. Ela vibrou de felicidade e me deu um selinho em agradecimento. Tudo aquilo era mágico e inacreditável pra mim. Nos resolvemos também sobre o dia em sua casa, cada uma colocando seu ponto na mesa. E surpreendentemente, ocorreu tudo bem. Menos um peso em minhas costas.
Mas voltando ao presente, a ficha ainda não tinha caído direito que euzinha, beijei saori Nobayashi.
- Se me matar não vão saber de nada! - Alfinetei.
- Novo acordo, sem homicídios até o final da história. - Falou Thomas dramaticamente e Miguel assentiu.
- Gente foi perfeito! A gente dançou Paul Anka - Enfatizei. -, agarradinhas! E eu com meus dois fiapos de coragem, beijei ela!
-Meu deus, parece que vocês saíram de um filme de comédia romântica! - falou Miguel empolgado. Thomas bateu palmas acompanhando.
- Tá mas e agora? - Perguntou Tom, quando nossos ânimos acalmaram. - Vocês tão tipo, namorando?
Arregalei o olho. Não tinha parado pra pensar nas consequências do beijo. Que diabos Saori e eu somos agora? Conseguia sentir o nervosismo tomar conta. Nunca tinha namorado ou ficado com alguém. Minhas experiências amorosas são baseadas unicamente em livros e séries. E olha, acho que enemies to lovers que incluem facas no pescoço não são exatamente o tipo de exemplo ideal para se seguir.
- Eu não faço ideia. - Confessei. - Nós somos ficantes agora? Isso quer dizer que ela tecnicamente é solteira, não é? Então eu sou solteira? Logo não posso me apegar, né? Ai meu Deus e se eu já me apeguei! - Bombardeava os dois com perguntas, me atropelando com as palavras por conta do nervosismo.
- Minha filha, se acalma! - Miguel segurou minha mão tentando me acalmar. - Foi só um beijo, não dá pra rotular nada. Deixa tudo acontecer no seu tempo, o que for para ser, será.

- Deixa acontecer naturalmente... - cantou Thomas fazendo um batuque na mesa, roubando nossa atenção e nos fazendo rir.
Era em momentos assim que eu lembrava como era feliz com aqueles dois, Tom e Miguel eram minha cola de volta para realidade, me impedindo de cair quando o chão desmoronava por mais pequena que fosse a rachadura.
- Do que estão falando? - Perguntou minha mãe, entrando na cozinha e abrindo a garrafa de café.
O clima ficou um pouco mais pesado, e a áurea automática de: Cuidado com o que fala, que todos nós compartilhamos, voltou. Não tinha parado para pensar também que se meu lance com Saori evoluísse, eu teria que contar para minha mãe. Ela era claramente assumida para o pai, e com certeza não era do tipo que queria esconder as coisas. A hipótese fazia minha boca amargar um pouco, não sabia se poderia oferecer a liberdade que Saori tanto prezava.
- Nada demais, só um filme besta que vimos. - Me apressei em dizer, com um gesto banal.
- Bacana. - Disse minha mãe. - Meu amores, eu volto para o trabalho hoje. Agatha, tem certeza que pode se virar?
- Tá tranquilo, consigo ajudar To- - consegui me frear. Quase, quase. - Isa, durante o dia.
Era estranho dizer aquele nome agora que sabia o seu verdadeiro. Olhei para Tom, dava para notar um desconforto em seu olhar. Meu coração apertou, lembrando do que dissera quando me contou, que seus ouvidos pareciam prestes a sangrar quando escutava aquele nome. Eu odiava isso, e odiava ainda mais ter sido uma das causadoras de tal sofrimento a ele, por mais que eu não soubesse.
- Certo, então até mais tarde, - Minha mãe deu um beijo em cada um de nós. - E se comportem!
Assim que a porta se fechou olhei para meu primo novamente. - Desculpa, sabe que eu não fiz para te magoar, né?
Ele sacudiu a cabeça e suspirou.- Tá tudo bem Agatha, a situação pedia por isso. E é melhor que ela não saiba por agora mesmo, não fazemos ideia de como vai reagir.
Concordei em silêncio. Por que as coisas tinham que ser tão difíceis?
Estava acreditando fielmente em Claudius agora, "Quando as tristezas vêm, elas não veem em espiões isolados, mas em batalhões."

Estrelas ao meio dia. Onde histórias criam vida. Descubra agora