Capítulo Trinta.

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     Depois de três horas de bebedeira ninguém ali estava raciocinando direito, então qualquer ideia, por mais péssima que fosse, parecia viável.
— Beleza, que tal um jogo? — Sugeriu Saori.
— Que tipo de jogo? — Perguntei com a voz meio embolada. Ah é, com certeza eu estava bêbada. 
E é claro que ela propôs o jogo que qualquer grupo de adolescentes joga quando está entediado em uma festa.
— Verdade ou desafio! — Revelou ela. — Só que, — Sá fez uma pausa. Até ela estava com dificuldade pra falar, era até fofo. — Se alguém não quiser responder uma pergunta ou fazer um desafio, é shot pra dentro. Eai, o que acham? 
    Ponderamos por um tempo, não sei por quanto, parecia que minha noção estava afetada. Porra, tinha esquecido como era estar bêbada. A última vez tinha sido com Miguel no meu aniversário de 17 anos. Bebemos tanto que dormimos no quintal de casa por falta de forças para entrar em casa. Ri lembrando daquilo.
— Eu topo. — Lucas foi o primeiro a se pronunciar. 
— Por mim também. — Concordou Evandro. 
— Já que todo mundo vai — anunciei.
Brisa e Miguel fizeram sinais com a mão para sinalizar o sim, ambos mal conseguiam formular uma frase sem se atrapalhar nas vogais. 
   Saori pulou ficando de pé e quase caindo em cima de mim. 
— Desculpa linda — falou ela, acariciando rapidamente meu rosto. Me encolhi um pouco com o toque. Não entendi muito bem o que acabara de sentir. Sá franziu a sobrancelha confusa pela minha reação, mas se recompôs, se virando para pegar uma das garrafas vazias e colocar no meio da roda. — Eu começo, Ok...— disse antes de girar a garrafa. A coisa rodou rápido no chão por alguns segundos, e durante esse tempo me senti ansiosa com a possibilidade de parar em mim. Então ela finalmente parou. — Brisa pergunta pro Evandro! 
Suspirei aliviada. 
— Verdade ou desafio Evan? — Perguntou Bri, de maneira provocativa. 
— Hum — ele analisou. — Já que estamos no começo, vamos devagar. Verdade. 
Brisa ponderou um pouco e nos fitou em busca de sugestões, não demos nenhuma dica. 
— Com quem da roda você ficaria? — Indagou ela, sorrindo de lado. 
Evandro soltou uma risada leve. 
— Vocês são todos lindos. — Ele respondeu. 

   Procurei o olhar de Miguel, por sorte ele estava me encarando. Soltei uma gargalhada só de olhar. "Vai se fuder" ele disse sem usar a voz, me fazendo rir mais ainda. Mas também notei uma indecisão em sua expressão. Como se não soubesse se queria ou não saber a resposta. 
— Não foi isso que eu perguntei.  — Indignou-se Bri. 
— Pode dizer que sou eu, Evan. Tudo bem, um homem lindo desse, até eu me beijaria. — Lucas jogou um beijo para Evandro, que pegou no ar e colocou no coração, em um gesto convencido, nos fazendo rir.  
— Miguel. Eu pegaria o Miguel. — Revelou ele, dando uma piscadinha.
Arregalei o olho e virei rápido para meu amigo. Miguel tossiu em seguida, cuspindo um pouco da bebida. 
— Você fez o menino engasgar! — Zombou Saori, em meio a risadas que nos contagiaram. Evandro parecia um pouco envergonhado.
— Eu tô bem! — Conseguiu dizer Miguel, ainda tossindo. 
— Como assim você não me pegaria? — Lucas indagou com uma falsa expressão de descrença.
— Ai Narciso, supera. — Provocou brisa. Eu estava amando cada segundo daquilo. — Gira, Evan — Sugeriu. 
   Evandro se inclinou e girou a garrafa. E o processo de ansiedade se repetiu. A garrafa parou, e meu coração também. Porra.
— Ri agora, Agatha! — Gritou Miguel, feliz como se tivesse ganhado na loteria. 
— Miguel pra Agatha. — Instruiu Evan. 
— Verdade ou desafio, bebê? — Perguntou ele. 
Talvez fosse o álcool falando, mas decidi entrar na provocação. 
— Desafio. — Soltei, cheia de mim mesma. Péssima escolha.
— Eita! — Disseram Lucas e Brisa ao mesmo tempo. 
— A vingança é um prato que se come frio. — Miguel sorria feito um diabo. — 7 minutos no paraíso com a Saori. Não, 15, por me irritar. 
Minha coragem desapareceu.
— Finalmente algo interessante! — Comemorou Evandro. 
Respirei fundo e fingi naturalidade. 
— Tudo bem por você? — Me virei para Sá. 
— Eu nunca fugi de um desafio. — Ela sorriu. 

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