8° CAPÍTULO

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Ângelo Fontana

5 MESES ANTES

No primeiro passo que dei ao sair do carro meu celular tocou. Pelo toque específico que escolhi para aquela ligação eu sabia perfeitamente do que se tratava. Assombrando e com um nó na garganta, me apressei e voltei para dentro do carro, batendo a porta e arrancando imediatamente o meu celular do bolso da calça.

— Estou aqui. O que aconteceu? _Pergunto aflito.

— Ângelo, por favor... começou. _Ouço seu choro e é inevitável não sentir minhas lágrimas também desvencilhando dos meus olhos. — Vem, precisamos de você, antes que seja tarde.

— Pegarei o primeiro vôo ainda hoje. _Digo decidido e encosto minha testa no volante do carro, sentindo uma dor terrível em meu peito.

— Nós sabíamos que uma hora aconteceria, Ângelo... Por favor! Eu sei qual a sua forma de lidar com tudo isso... Não faça nenhuma besteira.

As lágrimas grossam pingam no volante e eu quero gritar o mais alto que eu puder, mas não faço. Eu me controlo, por ela, pelo momento, pelo inferno que eu começaria a viver.

— Não farei nada. Irei limpo e sem matar ninguém no meio do caminho. Acredite em mim. _Confesso em tom baixo pelo choro que engulo a cada palavra que parece amarga ao soltar da minha boca.

— Obrigada, Ângelo. Deus queira que dê tempo de você chegar.

A ligação foi finalizada e tudo que me lembro após a ligação foi da minha mão em carne viva anestesiada por eu ter socado o volante até desprende-lo do veículo.

Por que?

Por que isso estava acontecendo?

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Italia - Génova

HOJE

Só havia uma pessoa no mundo que me provocaria algum sentimento de repulsa ou medo. E essa pessoa estava bem na minha frente esquentando sua faca na brasa já que o fogo havia diminuído de tanto que aquele infeliz usava para alaranjar a lâmina daquela faca e fuder o meu corpo.

A dor em meu ser era tão insuportável que me vi abraçando-a como se estivesse encontrando estilhaços de ruínas. Eu estava completamente nu, sem forças nenhuma nas pernas e suspenso por correntes e argolas em meus pulsos, sendo torturado vivo há mais de 4 meses.

Eu devia adivinhar que retornar ao meu país ele me pegaria e mais uma vez me torturaria até não aguentar mais.

Há mais de 4 meses eu pousei aqui na Itália, na cidade de Génova e fui até onde parte da minha vida e um pedaço do meu coração estava. No hospital...

Bastou um momento em que sai do hospital para tomar algum ar e desabar sem que ninguém vesse minha dor por que eu não aguentava mais tanto sofrimento, ver tanto sofrimento e não poder fazer mais nada, só segurar as lágrimas e esperar pelo pior. Bastou esse meu momento de vulnerabilidade para que eu percebesse algo estranho, vi homens cercando o hospital e então, sabendo de quem se tratavam tive que fugir. Eu pulei o muro do hospital, rasguei meus joelhos no ato e quase fui atropelado, mas não consegui obter sucesso, eu fui capturado na esquina e estou em um calabouço desde então.

Sentindo a ponta da lâmina da faca em brasa perfurar minhas costas, trinquei os dentes, sentindo dor na gengiva por fazer esse gesto constantemente, e fechei os punhos cortados pela argola presa em volta, meu corpo arfou para frente e meu coração palpitava pelo choque da faca quente queimar e rasgar a minha pele.

— 120. _Ouvi sua voz maldita contar mais um corte, demonstrando no tom embevecimento e puro êxtase. Durante 4 meses ele me mantêm preso aqui e todo santo dia ele descia para riscar um único risco em linha reta em minhas costas com a ponta da faca em brasa. — O cheiro da sua pele derretendo queimada é muito agradável para mim, meu filho. _Ele suspirou a fumaça que vinha de mim como se eu fosse um porco, enquanto eu não tinha mais lágrimas nos olhos, eu estava seco por dentro até mesmo para chorar.

Sim, não era ninguém menos do que o meu próprio pai ali me torturando vivo. Ele, o maior traficante da Itália, o miserável que fornecia droga para as máfias do mundo inteiro podia ser benevolente com todo mundo, menos com o próprio filho, sangue do seu sangue.

Meu problema maior sempre foi com o meu pai.

Eu reconhecia o motivo de cada vez que ele me torturou e todas essas vezes não houve um segundo em que não desejei a minha morte. Aquilo me colocava em posição, de que por mais que eu não fosse culpado, começava a me questionar se realmente eu não era.

Meu pai, um homem que me ensinou a ser perverso e desprezível pela dor, me torturava desde muito pequeno, com 7 anos, por não aguentar mais consegui fugir em um dos seus caminhões que transportava drogas para outro estado, foi nessa época em que vivi nas ruas e pedia esmola para ter ao mínimo o que colocar na boca e assanhar as tripas, isso quando pessoas não se compadeciam com um garotinho naquela situação e davam algum bicoito e água para beber.

Sobrevivi nessas condições de medo de ser encontrado pelo meu pai e ter que depender dos outros até os 15 anos, nessa idade eu limpava vidros dos carros no farol, vendia bala e água, mas já não era somente para comer, foi nesse tempo em que entrei de cabeça no mundo das drogas, eu cheirava tanta cocaína que tive umas 7 overdoses, 7 que eu lembro de ter contado, sem perspectiva nenhuma e fugindo do doente do meu pai, me vi numa situação onde precisei fazer certas atrocidades para não morrer.

As ruas não era lugar para morar, as ruas era lugar para ensinar sobre resistência. Foi o julgamento do outro e a humilhação que depois disso me fez ter certeza que eu sairia daquele inferno.

Uma noite de chuva, cheirado e descalço, eu passava pela rua e avistei uma briga de dois homens, o que se entendia era que um havia roubado o outro, como uma vontade sempre encontra uma oportunidade, eu entrei naquela briga e matei o ladrão com uma pedrada e o outro me pagou muitas notas quando fugimos para não sermos pego. Ali começou o trabalho que executo hoje, eliminando as dores de cabeça dos meus clientes.

Aos 18 fiz meu nome como matador de aluguel, aos 20 eu já tinha pessoas trabalhando para mim, aos 24 me envolvi com uma moça e precisei dar um tempo do trabalho por conta de uma situação que era necessário eu e ela inteiro. Voltei a matar aos 27 e não parei até hoje, aos 29.

E agora fui capturado pelo homem que fugi por todos esses anos. Aliás, é por conta dele que sinto pavor que toquem em meu abdômen, eu odeio com toda as minhas forças que sintam as cicatrizes que ganhei aos 7 anos de idade, elas me lembram o que passei com ele e o que me transformei depois. Sinceramente, não sei o que será de mim agora que minhas costas tem mais 120 riscos.

E definitivamente, eu vejo a minha morte se aproximando, por que eu olho para todos os lados com os olhos inchados e doloridos dos socos, sinto o cheiro forte de urina e fezes no local, tenho sangue escorrendo pelo chão como se eu fosse uma bolsa de sangue humana, vejo tudo isso, mas não vejo minha saída.

Talvez fosse um bom destino a minha morte. Isso daria descanso a todas as almas que encomendei.

E eu não poderia mais matar a Lavínia como faria se não tivesse recebido aquela ligação e viesse a esse país. Pois o pai dela havia dado a ordem...

Lavínia deveria morrer.






CONTINUA...

Santo Jesus Cristo.

Ela desejou que ele queimasse no inferno no capítulo anterior e o cara ta queimando mesmo 😭

A MERETRIZ - Predestinada a morteOnde histórias criam vida. Descubra agora