39° CAPÍTULO

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Ângelo Fontana


Ouvindo o ranger da porta, imediatamente fechei a camisa que eu usava.

Tio Ângelo?

Sorrio largo, vendo o pequeno Faruk abrir a porta do meu quarto.

— Oi garotão. _Desencosto minhas costas da cabeceira da cama e me sento para dar atenção ao garoto. Não sei, a presença desse menino me deixa leve, desde que o salvei tenho nutrido um carinho muito grande por ele. Gosto de ter um garotinho na casa, alguém que pode ser ensinado e ter um aprendizado do modo certo. As vezes me questiono se isso é o mais próximo que terei de um filho... alguém que na verdade nem é meu filho. — Venha para perto. _O chamo e ele encosta a porta e vem até mim em passos curtos, se acomodando ao meu lado na beirada da cama e parecia ter tanta dúvida e um certo amedrontamento no comportamento tímido. — Tudo bem? _Pergunto querendo ajuda-lo de fato.

— Eu tive um pesadelo com o meu pai. _Revelou e eu enxerguei medo no semblante do garoto. Então ficou triste e cabisbaixo. — Não quero que ele nos encontre, tio Ângelo.

Sua irmã já está pronta para mata-lo, Faruk.

É o que penso em dizer com toda a frieza possível, mas me mantenho firme em demonstrar meu lado humano para o garoto, apenas toco seu ombro e ele me olha.

— Ele não vai encostar em você, Faruk. Nunca mais. Eu prometo.

— Várias vezes ele me levou em um lugar que as mulheres ficavam peladas e elas me tocaram. _Ele mostrava com as mãos onde era o toque já que alisava o peito, notei isso por que criança era muito transparente com essas coisas e precisávamos está em alerta, o mal pode está na nossa casa e não sabemos, como era meu caso quando um menino.

Acabo pigarreando e fico de pé, o dando as costas, não querendo, mas lembrando da minha mãe e dos abusos que sofri e deixou sequelas na minha mente. É uma droga perceber que essas coisas nunca somem, nunca se apagam, não são descartadas, que tudo ainda vive a atormentar-me, que qualquer coisa, a menor que seja nos faz lembrar. Hoje sei que tive que ser muito forte para encontrar um meio de destrair a mente e concentrar minha energia em algo e não se entregar ao câncer que era ter sido abusado pela minha própria mãe quando pequeno. Ninguém melhor que eu saberia mensurar o estrago na alma que o trauma de um abuso dessa dimensão grotesca poderia acarretar, me mata por dentro reconhecer que pessoas doentes sempre vão nos mais vulneráveis, a maioria dos escolhidos para sofrer assim sempre são as crianças.

Preocupado com o Faruk e com a possibilidade dele ter passado por uma merda dessas, viro-me e sigo até ele, erguendo o tecido da minha calça para me agachar e recolher suas mãos.

— Além de te tocar, fizeram mais algo com você?

Ele negou e eu respirei em alívio.

— Só me deram bebida em todas as vezes que meu pai me levava nesse lugar. Eu via tudo embaçado e tive vontade de vomitar.

O puxo para um abraço, mas ficando muito intrigado com o local onde esse velho do caralho frequentava na Síria e levava o garoto. O velho já tinha contato com bordéis?

— Eu e a Lavínia não vamos permitir que mais nada assim aconteça com você. _O solto, apertando seu ombro com leveza. — Está ansioso para começar as aulas? _Mudo de assunto e um sorriso em seu rosto se faz presente.

— Estou nervoso e com um frio na barriga. O senhor já falou com a minha irmã? Será que ela vai deixar que venham me dar aula nesse casarão do senhor?

— Sua irmã quer o seu melhor. E não é meu casarão. Essa é a nossa casa, minha, sua, da sua irmã e de todos que moram aqui.

— Nunca tivemos uma casa tão grande assim. A nossa lá na Síria era pequena e eu dormia no quarto da Lavínia. É até estranho ter um quarto tão bonito, com tantos brinquedos e videogames tio, com um montão de jogos. _Ele caminhou pelo meu quarto e eu o vi com tamanha felicidade pontuando tudo que não tinha e passou a ter aqui na mansão. Meu coração ficava tão quente por proporcionar isso a ele, por velo feliz.

A MERETRIZ - Predestinada a morteOnde histórias criam vida. Descubra agora