9° CAPÍTULO

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Lavínia Fadel


Eu nunca pensei que chegaria o dia em que eu finalmente respiraria em paz e estaria com o coração mais tranqüilo.

Falar com o meu irmãozinho Faruk me deixava tão leve, tão cheia de esperança. Tentei captar tudo através da sua voz enquanto não vinha as chamadas de vídeo, por que segundo a cafetina ainda não era o momento certo, pois precisava de mais segurança da minha parte para saber se eu manteria meu acordo de ser a melhor prostituda da casa. Eu seria... eu estava sendo...

Consegui notar na voz do meu irmão animação ao falar dos novos coleguinhas, senti alegria por falar comigo mais uma vez em duas semanas, percebi que ele estava empolgado para me ver, a voz estava limpa, não havia tremedeira ou certo resquícios de que poderia está sendo obrigado a falar aquilo por alguém, por que sim, eu ainda não estava crente por completo de que aquilo é real. É estranho...

Mas é uma felicidade para mim sentir que meu irmãozinho estava bem e sendo cuidado e respeitado. E eu continuaria dando o meu melhor nesse lugar para que ele vivesse bem, com saúde e não passado pelo que eu passo aqui nesse lugar. Eu daria uma vida boa, ainda que fosse somente para ele.

Feliz, em paz como a muito tempo eu não ficava, me deitei na cama abraçada ao meu celular. Sim, eu poderia ter um celular, mesmo que fosse confiscado e programado para fazer ligações apenas ao internato do Faruk, era meu e eu não precisava ir até a cafetina Margaret pedir perdição. Eu apenas esperava o sábado chegar e ligava no horário combinado e eu podia falar o quanto eu quisesse e ele pudesse ouvir.

Sorrio, cheia de lágrimas nos olhos.

O Faruk disse que o cabelo dele está grande, eu fico imaginando meu irmão com uma juba de Leão, por ele ter o rosto gordinho e as bochechas inchadas deve está muito fofinho. Eu vou apertar tanto quando chegar o dia de nos ver e vai chegar. Disso eu tenho certeza.

— Pelo visto a vadia está tocando as nuvens.

Com tudo, sentei na cama.

— Sai do meu quarto. _ Exigi raivosa.

A vagabunda que me pegou para Cristo nesse lugar entrou no meu quarto e começou a caminhar, observando e tocando em tudo, verificando nas pontas dos dedos se havia pó.

— Como uma sonsa e chorona conseguiu dá a volta por cima e se tornar tão desejada? _Me encarou, parecia odiosa ao arrastar os olhos invejosos pelo meu corpo.

Fico de pé.

— Já pensou na possibilidade de eu fazer o meu trabalho bem feito ao invés de querer puxar o tapete das outras?

Ela riu e foi até minha penteadeira, abrindo a gaveta e pegando meu iluminador. Eu faço careta.

— Cheguei aqui antes de você e vim por conta própria. Não entendo como uma vadia que resmungava e chorava a cada homem que entrava na buceta pode passar a amar o que faz de um dia para o outro. _Ela abriu a embalagem e com a ponta do dedo passou ilumidor acima das suas maçãs do rosto.

Balancei a cabeça, descrente que até na vida promíscua poderiam te invejar.

Nervosa por ela está enchendo o meu saco logo cedo, me apressei ate ela e a empurrei.

— Sai do meu quarto. Você não é bem vinda. _Segurei firme em seu braço e a olhei olho por olho e dente por dente. — Você não vai me querer como inimiga.

— Tem tanto poder assim para ter essa coragem de me ameaçar? _Tentou se desvencilhar do meu aperto em seu braço fino, mas não conseguiu. Eu a espremi na lateral da minha penteadeira e usei o meu antebraço da outra mão para tocar seu pescoço.

A MERETRIZ - Predestinada a morteOnde histórias criam vida. Descubra agora