44° CAPÍTULO

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Lavínia Fadel




Lavínia Fadel
(18 anos)

Está pensativa, minha linda. Você se arrependeu de ter se entregado a mim?

Neguei um pouco envergonhada pelo que acabamos de fazer, meu coração estava batendo enlouquecido e parecia gelado, meu ventre também parecia ter uma porção de borboletas voando, eu estava eufórica e contente. É estranhamente perfeita a sensação de primeiro amor.

Meu riso fica largo e descubro ao cheirar sua pele no peito o quanto eu amaria apoiar o rosto ali nele até o fim dos meus dias. Eu queria morrer ao seu lado. Amava ouvir seu coração bater em meu ouvido. Era a pele dele, eu amava tocar sua pele, amava esse contato com a ponta dos meus dedos. Nós dois havíamos acabado de ficarmos juntos, estávamos nus e finalmente eu conhecia sua pele, seu corpo, e ele conhecia o meu corpo e a minha alma.

— Estou tão feliz. Feliz que agora eu sou sua e ninguém mais vai nos separar. _Ergui a cabeça, tocando seus lábios com a ponta dos dedos e o beijando timidamente. — Papai não poderar mais me entregar a outro homem, eu sou sua. Só sua. _Cochicho, querendo tanto chorar.

— Obrigado, Lavínia. Por essa alegria tão grande. Nós vamos nos casar e seremos muito felizes. Eu te amo, pequena flor. Meus olhinhos de sol. _Ele beijou amorosamente a minha testa e recitou o poema que eu mais amava, era um lindo poema de uma Poetisa brasileira que ele traduziu para nossa língua e me apresentou, tudo isso após termos feito amor. — Não te deixes destruir...
Ajuntando novas pedras
e construindo novos poemas.
Recria tua vida, sempre, sempre.
Remove pedras e planta roseiras e faz doces. Recomeça.
Faz de tua vida mesquinha
um poema.
E viverás no coração dos jovens
e na memória das gerações que hão de vir.
Esta fonte é para uso de todos os sedentos.
Toma a tua parte.
Vem a estas páginas
e não entraves seu uso
aos que têm sede.

Sorrio com lágrimas nos olhos e acaricio seu peito, me aconchegando em seu corpo e apertando meus olhos para aproveitar o momento só nosso.

Eu nunca havia o dito que o amava e estava guardando o EU TE AMO para os meus votos de casamento. Eu tinha fé que um dia haveria de chegar e eu seria dele para sempre.



Tendo um sobressalto, despertei naquela tarde e sentei-me depressa. Olhei para os lados e procurei minha vida antiga e não encontrei nada, tudo o que vi foi cheiro de lavanda e muito luxo em volta. Eu estava numa grandiosa cama e coberta por lençóis cheirosos e de vários fios, e segurando firme nos lençóis não demorou para que eu apertasse os dedos neles com força e as lágrimas escapassem ao lembrar do que fizeram comigo, do que eu havia feito, do que eu havia me tornado.

Sem fôlego, coberta de suor, e percebendo que eu estava numa situação degradante, não aguentei ficar na cama e fui cambaleando até o banheiro, tocando nas paredes e com a visão turva pela dor que me sucumbia até os ossos. Eu me sentia fraca, com a mente enevoada devido ao sonho de um momento bom meu e que me foi tirado, arrancado, roubado. Dentro do maldito banheiro e com uma dor desconhecida por mim, segurei na pia e abri o espelho e consegui passar a mão sobre os vidrinhos de remédios, derrubando alguns vidro dentro da pia, procurando alguma droga mais forte para acabar de vez com o que estou sentindo. Não encontrando, cogitei tomar todo um vidro de calmante e estava prestes a fazer isso quando alguém surgiu repentinamente e puxou o vidrinho da minha mão, espantando-me por jogar tão forte dentro da pia de mármore que os vidros estilhaçou.

A MERETRIZ - Predestinada a morteOnde histórias criam vida. Descubra agora