59° CAPÍTULO

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Lavínia Fadel


Após a jornada árdua de exercícios físicos na academia, em um cansaço excessivo eu me joguei no chão e deitei-me, grudando minhas costas pingando suor no piso vinilico amarronzado e gelado. Meu peito disparava e meu fôlego rareava.

— Você pega muito pesado, Lavínia. Toma, beba água. _A Zaia se agachou e me entregou minha garrafinha d'água.

Eu sorrio para ela, um tanto sem ar nenhum e aceito a garrafinha.

— Todos eles pegam pesado. _Comentou a Aurora, saindo da esteira e vindo para perto, arrumando os seios e olhando disfarçadamente para os matadores treinando sem camisa.

— Por que vocês treinam tanto? _A Zaia perguntou para mim, sentando-se no chão e arrumando o vestido longo para cobrir as pernas. Eu olho para a Aurora, que me jogava uma toalhinha e me encarava como se me desafiasse a dizer a Zaia o que todos nós éramos. — Eu vi você lutando igual uma lutadora de mma com eles, e você é muito boa. Sério.

Com sede, sento-me e bebo água, raspando os dedos entre o top esportivo que uso, limpando o suor morno escorrendo.

— Nós precisamos ter o físico e a mente preparados para fazer o que fazemos. _Sou sucinta, evitando responde-la. Tenho medo de assusta-la e ela surtar.

O olhar da Zaia ficou mais curioso.

— E o que todos fazem? O que você faz?

— Eu sou líder de um clã.

— Clã de que?

— Clã... de... _Torno a beber água e a Aurora rir, espremendo os lábios. — Matadores. _Confidencio de uma vez, dane-se, não dava para ocultar essa merda a vida toda.

— Matadores de que? _Com sua pergunta, a olho de cenho franzido e então ela tem um sobressalto e engole em seco, olhando para os matadores treinando pesado, lutando, tirando sangue um da boca do outro, parecendo mais se odiarem do que qualquer coisa. Com tudo, ela voltou a me encarar de olhos esbugalhados. — Todo mundo mata pessoas aqui? _Sussurrou medonha como se tivesse com medo das paredes ouvi-la e a amaldiçoar, ou condena-la a uma morte horrenda.

— Todos uma vírgula. Eu não! Deus me livre! _A Aurora sentou ao meu lado. — A Lavínia que entrou de cabeça nisso.

A Zaia me olhou com tristeza e veio para mais perto, colhendo minhas mãos.

— Nunca passou pela minha cabeça que você pudesse vir a se tornar uma...

Eu a interrompo, apertando suas mãos com gentileza.

— Não se preocupe e muito menos fique triste. É uma vida que eu escolhi. Eu precisei entrar nisso antes que pessoas piores que nós nos destruíssem. Me fizeram muito mal, Zaia. Eu vivi meses intermináveis longe do meu irmãozinho, sofri o pão que o diabo amassou por uma mísera ligação de dois minutos dele, por que minha vida era saber que o Faruk estava bem. Eu suportei um inferno que só não tenho marcas no corpo para te provar por que o Ângelo mandou apagar por que nele também dói o que passei, mas eu tenho marcas na alma... eu fui obrigada a fazer tanta merda, Zaia... coisas tão sujas que matar pessoas ruins parecem até uma lavagem muito limpa, ainda que muito sangue viscoso esteja manchando tudo, minhas mãos principalmente. _Suspiro forte, não me permitindo chorar por lembrar dos meses de prostituição, das vezes em que tive que dormir com mais homens do que eu pudesse contar, dos castigos, das vezes que dormi com fome, das vezes em que me batiam por que não achavam camisinhas usadas que garantissem que o cliente estava satisfeito, dos estupros que o Ângelo me fez perceber que realmente eu passava por eu está ali sendo obrigada a entregar tudo o que eu tinha, meu corpo. Ai meu Deus! Aquilo foi um inferno...

A MERETRIZ - Predestinada a morteOnde histórias criam vida. Descubra agora