28° CAPÍTULO

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Ângelo Fontana

O lado sombrio de uma pessoa sempre seria visto quando ela estivesse diante de uma revelação de uma verdade cruel e sem escrúpulos. Quem mais poderia presentea-la com isso, se não eu? O assassino.

Uma verdade triste, amarga e que não dava mais para ser evitada. Eu não podia mais esconder isso e permitir que a Lavínia vivesse sem saber como e por quê eu cheguei até ela.

Eu não estou sendo um miserável por estar contando a ela que fui pago pelo seu próprio pai para mata-la, não estou me sentindo melhor por vê-la aos prantos sentada na poltrona daquela biblioteca, encolhida, amedrontada e apavorada.

Eu, que realmente queria e desejava mata-la sem questionar os motivos, não me vejo feliz com sua desgraça dançando tango diante dos meus olhos, na verdade, me sinto angustiado e umas pontadas fortes no lado esquerdo do peito, no coração que tinha costume de só se apresentar no quarto daquele hospital onde meu filho está em coma, no coração que agora parece ansiar por bater junto com o dela.

Eu me sinto mal a cada lágrima que pinga do seu rosto angelical na capa daquele maldito livro que ela recolheu do chão e pousava em suas pernas nua do meio da coxa para baixo. Sinto algo estranho no peito por me ver parado ali na porta, tragando meu cigarro e assistindo bem próxima a lareira queimando algo que não era o sofrimento que a corujinha dos olhos bonitos sentia. Nesse momento, sinto mais ódio do filho da puta do seu pai do que tudo nesse mundo só por vê-la desabar.

Mas eu não podia mais poupa-la desse sofrimento, que é a sua descorberta por perceber que por todo esse tempo ela estava diante de um inimigo a espreita, do seu algoz revirando a sua vida de ponta cabeça, do seu único e impiedoso carrasco. Eu, seu matador...

Por que? _Ela me olhou aflita, os olhos mortos e escuros mais que a noite do lado de fora. — Por que me matar?

Pigarreio, e solto a fumaça no ar.

— As leis daquele país te condenava. Seu pai, por dívidas de jogo, te prometeu como uma moeda de troca a um senhor importante. E por você ter "fugido" deixou a chacota para eles. Em um momento, achei que seu pai desistiria da sua morte, mas não, ele voltou a me procurar e veio sua sentença. Não houve perdão para uma moça perdida, sem virgindade e fugitiva. O castigo era a morte. Então colocaram cartazes nas fronteiras, nos aeroportos, nas cidades e em todos os bairros: "Lavínia-Predestinada a morte" e descobri hoje que estão dando reconpensa a quem levar sua cabeça. _Revelei de uma vez por todas e cauteloso vaguei em pequenos passos até o sofá em frente a poltrona que ela estava desabando, e a observei, buscando em mim a empatia que não fazia parte de mim, mas era necessário para ela.

— Não chora, Lavínia. _O matador 27 se agachava e recolhia suas mãos, beijando-as e atraindo seus olhos com tantas lágrimas.

— Eu estou... morta. _A voz dela escapou baixa e trêmula, dolorosa e consumida pela lamúria.

— Não! Ninguém vai chegar perto de você. Você é nossa menina protegida. _Ele tentava conforta-la e por mais que estivesse me corroendo vê-lo tocar nela, eu deixei por que ele podia sim ser mais delicado que eu. — Nós tentamos resolver as coisas quando o Ângelo foi pego e torturado. O Ângelo quis cuidar exclusivamente do seu caso e nos deu ordens para não tocar em você, como ele não aparecia e seu pai estava cobrando o serviço, mandamos um corpo no seu lugar para o seu pai, mas estou vendo que o velho foi esperto. _Confessou o matador e me olhou, demonstrando a frieza que usávamos para a matança.

Assinto para ele, entendendo seu olhar e impulsino meu corpo para apagar meu cigarro no centro e jogar a bituca no cinzeiro.

De repente, os outros dois matadores entraram na biblioteca. Um fechava a porta e o outro vinha ficar atrás da poltrona da Lavínia.

A MERETRIZ - Predestinada a morteOnde histórias criam vida. Descubra agora