60° CAPÍTULO

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Ângelo Fontana

Na cafeteria do hospital eu sorvia o expresso, saboreando o café concentrato com puro prazer degustativo, tudo sobre o olhar vigilante e marejados da Sofia. A encontrei quando eu estava prestes a subir para o quarto para ver meu filho.

— Ela me proibiu de ver o meu sobrinho. Essa mulher é uma...

Eu a interrompo, descansando a xícara no pires.

— Não se atreva a ofender a minha mulher na minha frente, Sofia. Ou eu vou esmagar você nos próximos segundos que abrir a boca. Quer resolver algo? vamos conversar igual gente.

Seu olhar incrédulo escancarou para mim de forma imediata. Se ela tinha alguma dúvida de que eu a mataria, dissipou no instante em que pousei minha arma destravada sobre a mesa forrada numa toalha branca.

— Por eu ser mulher o mínimo que pode fazer por mim é me respeitar. Você não acha?

Sorrio com escárnio, encostando minhas costas no encosto da cadeira, esticando minhas pernas por baixo da mesa e cruzando meus pés ao esconder as mãos no bolso, a analisando e tentando entender o motivo de tanta petulância. Excesso de liberdade é uma merda.

— Você não é a minha mulher, consequentemente mantenha as ofensas a ela destiladas apenas em sua cabeça, eu ainda não consigo ouvir mentes, esse é seu trunfo perante a mim, caso contrário, seus miolos vão servir de decoração para esse lindo ambiente.

Ela engoliu em seco, encolhendo os ombros e afastando trêmula a sua xícara para longe.

— Você me mataria por ela? Por conta dela?

— Eu mataria qualquer pessoa pela Lavínia ou pelo meu filho.

Ela balançou a cabeça, em negação e franzindo a sobrancelha.

— Não entendo. Como se apaixonou perdidamente por ela enquanto eu estive aqui pra você esse tempo todo? Como nunca me notou? _Me olhou, se abraçando como se estivesse se defendendo das minhas próximas palavras. Então, uma única lágrima solitária pareceu queimar sua face e ela a barrou, nervosa, envergonhada. — Eu fui muito ingênua de acreditar que um dia você perceberia que eu... que eu o amava. _Balançou a cabeça novamente, atordoada e fitando os biscoitos sobre a mesa.

— Eu nunca fui ou poderei ser o cara certo para você.

— E por que pra ela sim, por que? _Chorou em desespero. Suas lágrimas pareciam ter se soltado das correntes que a prendiam. Eu me mantenho impassível, observando-a. — O que a Lavínia tem que eu não tenho? Por que eu preciso me humilhar para que você note o mínimo enquanto ela só respira e você a venera como a pessoa mais importante desse mundo?

— Eu sou o carrasco dela, e ela é o meu carrasco. Naturalmente nossos demônios nos uniram. A diaba que ela tem dentro de si seduziu o meu demônio. Eu a resgatei para que ela me resgatasse. A Lavínia é minha âncora. Minha força por muitas vezes tem vindo dela. É como se ela fosse os quatro elementos em uma só alma, a terra foi o percurso para chegar até ela, o fogo é o que a consome, o ar perto dela tem cheirinho de lírio e a água?... Sofia, você não sabe como é bom beber água daquela fonte.

Seus olhos eram indignados pela malícia carregada em minha voz.

— E as coisas que fiz só para que me notasse? Isso não importa, Ângelo?

— Eu nunca olhei para você com os olhos que você esperava. Até pouco tempo eu sequer reconhecia que você nutria esse tipo de sentimento por mim. _Sou sincero.

Ela se remexeu na cadeira.

— Talvez eu tenha demorado para te contar sobre o que eu sentia... talvez poderia ser diferente se a Lavínia não existisse.

A MERETRIZ - Predestinada a morteOnde histórias criam vida. Descubra agora