38° CAPÍTULO

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Lavínia Fadel


Numa sala da sede exclusiva e que reservei apenas para mim e o meu clã por essa tarde, ordenei que apagassem a luz e eu passava as fotos na tela de projeção com o controle remoto.

Bastou fincar o olhar no telão, no rosto dele, para que lembranças cruéis da minha vida me assombrasse.


Lavínia Fadel
(18 Anos)

O sangue do homem que eu estava apaixonada manchava todo o meu vestido de pano grosseiro que o meu pai me obrigava a usar para não marcar minhas curvas, segundo ele chamaria a atenção dos homens do bairro, e ele preferia a morte a ter uma filha mal falada. Era um abutre. Ele amava tragédia... amava tirar proveito de tudo e todos. Mamãe morreu tentando muda-lo e nunca conseguiu. Nada tira da minha cabeça que ela morreu de desgosto, de tristeza, de amargura, de tentativas falhas de restruturar nossa família que desmembrou com o vício incontrolável do meu pai pelo jogo.

Meu pai era um homem sem caráter e desviado. Na frente de todos, se mostrava ser um bom pai, um bom marido, um bom homem, um bom cristã, mas dentro de casa era um verdadeiro desumano. Ele não me batia, o Faruk era quem mais sofria nas mãos dele, por ser um homem como ele, meu pai já o levava desde cedo a lugares imarais, apresentava jogos e bebidas, queria o meu irmão de 5 anos sendo a sua imagem e semelhança.

No entanto, comigo, ele me exigia está sempre impecável e limpa, príncipalmente quando levava seus amigos de jogo do bicho para nossa casa, sempre os amigos que tinham grana, exibindo-me para eles como um troféu, falando de dotes e o quanto eu poderia gerar muitos filhos saudáveis por ser jovem e que eu só precisava "ganhar mais uns quilinhos para segurar os bebês no ventre" e que "estava me alimentando como se eu fosse uma boa vaca parideira".

Segurando o corpo baleado do meu amado contra o meu peito, eu chorava aos prantos, o abraçando com força e me perguntando a Deus o por que? Ele já havia me tirado minha mãe, por que tirar também o homem que eu queria me casar? Que eu escolhi. Por que?

Sem resposta, trêmula, toquei a face dele, nos seus lábios ainda morno, toquei as marcas de expressão na sua testa causada pelo trabalho árduo e insalubre aqui nessa maldita indústria. Nós dois havíamos combinados de nos ver aqui onde ele trabalhava, ele me ligou mais cedo e marcamos, estávamos tão animados para nos vermos, eu apaixonada sai as escondidas de casa sem pensar em nada, conduzida apenas pelo coração, eu só não contava com meu pai me seguindo e estando agora com a arma apontada para minha cabeça após matar o homem que eu era apaixonada.

— POR QUE?... POR QUE, PAPAI? _Gritei, abraçando o corpo sem vida e desejando a Deus que o animasse, que o desse o sopro da vida novamente, pois ele não merecia aquilo, era um bom homem, um bom filho, trabalhador e tão jovem... eram sonhos escorrendo pelo sangue escapando da sua boca e no peito acertado por tiros.

Deslizei a mão sobre seu peito e o coração onde ele dizia que eu estava dentro, não batia mais. Agoniada, encarei o céu escuro.

Ele se foi, meu Deus... foi-se para sempre. Onde agora e com quem estará a minha esperança?

— Negócios querida. Esse homem não tem onde cair morto. Você sabe muito bem, eu nunca quis uma filha mulher. Você ter nascido foi a maior prova de que Deus me odeia. Então preciso lucrar com você de alguma forma. O meu sêmen que te deu a vida tem que valer de alguma coisa.

A MERETRIZ - Predestinada a morteOnde histórias criam vida. Descubra agora