22° CAPÍTULO

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Ângelo Fontana


Meu foco principal ao entrar de volta no carro era voltar para a mansão, mas como eu estava predestinado a mostrar ainda essa noite de um tudo para a Lavínia, desde como trabalho, como assusto, até como mato na unha quem tenta achar que pode ser melhor que eu, me vi levando-a agora a um cemitério.

Esse era o nosso último destino nessa noite.

Eu tive que ir a sede por que precisava encaixar o nome da Lavínia no topo da lista de proteção de todos os clãs. E ela só poderia ser protegida de fato se viesse a se tornar um membro de nós, sabendo que a corujinha dos olhos bonitos precisaria do triplo de proteção agora, e também por que a droga da cafetina deixou propositalmente escapar que tem gente grande conjurado com seus negócios ilícitos, precisei agir rápido. Então fiz, sem essa baboseira toda de apresentações.

— Quem era aquele ruivo? _Ela perguntou curiosa, voltando toda sua atenção para mim.

Eu respiro, jogando a bituca de cigarro no cinzeiro do carro e voltando a atenção para a estrada deserta, sem quase nenhum movimento. Observo o vidro e percebo que gotículas de água quase imperceptíveis, ocasionada pelo alto grau de umidade do ar denunciava que iria chover em algumas horas.

— Um matador. _Respondo-a sem ânimo algum para perder meu tempo falando desse infeliz.

— Isso ficou óbvio. Quero entender a tensão entre vocês dois e o motivo de dizer aquela merda de que sou líder do clã da Suiça e os cacetes.

Incomodado, eu entrego minha atenção a ela.

— Está falando muito palavrão, você não acha? _Reprovo.

— Fiquei com a boca meio porca depois que passei a andar com um podre como você.

Aperto os dedos no volante, controlando-me. Ela perturba o juízo...

Se ela soubesse que estou a caminho de um cemitério talvez mantesse essa linguinha afiada paradinha nessa boca linda, pois tem muita cova aberta esperando um novo cadáver. Eu a olho e engoli em seco, vendo a fenda do seu vestido revelando suas pernas alvas e lisinhas cruzadas no banco. Ah não, não quero parasitas usufruindo do corpo dela quando tiver em decomposição.

Limpo a garganta, olhar fixando na estrada molhada.

— O nome dele é Rael, nos conhecemos quando eu precisei ser preso para matar uma pessoa que achou que poderia escapar da morte. _Revelo e por poucos segundos me encontro a olhando de novo, numa ânsia terrível por contemplar seu rosto bonito e impecável, interessado no que saia da minha boca. — A tensão que viu hoje é por que ele guarda um minúsculo ressentimento da minha pessoa. _Sorrio.

— Minúsculo... sei. O que você fez?

— Eu só fudi a mulher dele. Mas eles continuam casados e são felizes.

O som que saiu da sua boca foi de pura descrença.

— Cara, sério! Você ultrapassa os limites. _A corujinha se indignou.

— Até o rei Davi fez isso, por que eu não posso? _Me defendo.

— Aquele cara vai acabar te matando. _ Isso seria algum sinal de que ela se importa?

Claro... que não. A Lavínia quer me ver no lugar onde estou a levando, a sete palmos do chão.

— Sim, as vezes sinto isso. Mas ai ele vai ter que pegar senha. Tem muita gente antes dele. É um absurdo cortar fila, você não acha?

— Eu acho que você tem problemas mentais, é isso que eu acho. E esse negócio de que sou líder e o escambau?

— É só para eles te protegerem, agora você faz parte disso e precisa ter proteção. _Explico, enxergando do espelho meus seguranças nos seguindo em dois SUV, mantendo a distância necessária que ordenei que mantesse.

A MERETRIZ - Predestinada a morteOnde histórias criam vida. Descubra agora