46° CAPÍTULO

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Lavínia Fadel

— A falta que a gente sente quando não voltam para nos cortar no outro dia.

Com essa declaração sórdida do Ângelo martelando em minha cabeça, eu apertava em meu peito o potinho gelado com neve que ganhei dele após ele falar sobre esperança e que deixei no frigobar do meu quarto para não derreter, e andava entre um lado e outro dentro do escritório aguardando notícias.

— Ele está sendo cortado... ele tá sendo mutilado vivo. _Narro a visão dolorosa que invade minha mente, onde o Ângelo estava preso por correntes velhas, em um lugar que a luz era apenas tochas de fogo suspensa em paredes de pedras. E aquela maldita faca que já vi e que pertence ao pai dele, cortava seu corpo inteiro, braços, pescoço e acima das cicatrizes que ele já tinha, a calça social dele preta estava coberta do seu sangue que deslizava dos cortes profundos. E o maldito do pai dele ria largo e vitorioso ao submeter o Ângelo àquilo.

Com lágrimas nos olhos, corri até a porta pronta para vasculhar cada canto dessa terra, mover a porra do céu e do inferno se preciso for para encontra-lo, mas a droga de um dos matadores que ficou na mansão comigo me segurou com força, impedindo-me de ir atrás do Ângelo.

— Precisamos aguardar mais um pouco. _O matador 27 me olhava nos olhos, dava para ver o seu desespero em cada célula do seu corpo. Eu vi que eles desacreditavam que o chefe deles, um cara completamente centrado estivesse se entregado assim, de mão beijada ao capeta do pai.

Eu choro, perturbada por imaginar o Ângelo sofrendo ao ser cortado vivo. As lágrimas queimavam minhas bochechas, eu me sentia a pior mulher do mundo e ninguém precisava me dizer isso. Por minha culpa, eu despertei nele esse desumano desejo doentio de na primeira dor correr para ter mais.

O que eu fiz, meu Deus?

Droga! Por que eu fui falar aquela merda?

Aperto os dedos no potinho de neve que esquentava com a temperatura do meu corpo e é inevitável não recordar do dia em que eu descobri um pouquinho da sua história e o que ele passou nas ruas por fugir do proprio pai, é inevitável não lembrar que nesse mesmo dia ele simplesmente tinha colhido neve das ruas da Suíça numa noite de inverno e me deu de presente por que aquilo representava algo pra ele.

— Não é só neve. É esperança, Lavínia.

Como não percebi que ele me amava de verdade?

Encaro o matador que me segura, tento me desvencilhar e não consigo. Eu preciso fazer alguma coisa. Não posso ficar de braços cruzados... eu provoquei isso... eu fiz merda. Eu não imaginava o quão importante eu era para sua vida.

— Esperar até ele morrer?... Até aquele desgraçado o matar? _Gritei furiosa e encorajada por uma força animalesca, o empurrei possessa. — Você não vai me parar e nem ninguém. Eu vou trazer o Ângelo de volta, nem que eu tenha que fazer um pacto com diabo.

Abro a porta com tanta brusquidão que bateu fortemente na parede, e saí as pressas do escritório. Na sala, percebi que os matadores do clã da Suiça e que eu ordenei que vasculhassem a cidade toda em busca do paradeiro do Ângelo havia chego. Paralisei por terem voltado tão rápido, já que eu não tinha noção nenhuma do tempo desde que soube da idiotice do Ângelo de se entregar ao seu pai. Observei a expressão dos homens e alguns balançaram a cabeça me olhando tão impotente, negando ter respostas e aquilo me matou drasticamente. Não sabiam de nada... Não o encontraram...

O PopKov aproximava, seu semblante era de preocupação e nervosismo. Todos nós estávamos fora de controle.

— O velho não está no bordel. Procurei a tal Aurora e também não a encontrei. As câmeras de segurança dos locais mais próximos do bordel para que eu tentasse rastrear o carro do infeliz estavam desligadas e não capturou porra nenhuma, Lavínia. Ali estamos as cegas. Dois dos matadores que você colocou para cuidar dessa Aurora dentro do bordel disse que não a ver desde ontem, eles falaram que acham que pegaram um helicóptero. Procurei saber da viação privada para descobrir se teve algum vôo desde que o Ângelo desapareceu e nada, nenhum jato, avião ou helicóptero saiu da Suíça. E eu tenho certeza que o velho não pegaria um vôo econômico para não levantar suspeitas...

A MERETRIZ - Predestinada a morteOnde histórias criam vida. Descubra agora