14° CAPÍTULO

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Ângelo Fontana


Vendo-a conversando entretida com os rapazes, desci após o banho e fui para a cozinha.

— Você vai dividir?

Ouço ao retirar uma garrafa d'água da geladeira. Viro-me e o encaro.

— Dividir o que? _Não tenho muita paciência e esse infeliz sabe.

— A Lavínia. Não foi pra isso que você a trouxe?

O olhei de cima abaixo com resquícios de desprezo.

— O que te faz pensar que eu trouxe ela para dividir com vocês? _Questiono, seguindo para encher meu copo d'água.

— Você sempre compartilha. _O 27 preparava a mesa. Todos tinham nome, mas no clã era denominado pelo número. — Lembra quando nós 4 fudemos uma mulher com uma cobra... usando o rabo da cobra? _Ele recordou de uma tortura há mais de um ano e parecia maravilhado.

— Sabe muito bem que não era para sentir prazer naquele dia.

— Foi inevitável. Eu gosto dessas coisas meio invulgar. Não viu como fiquei duro na época? _Falou e parou para pensar, mergulhando nas lembranças daquele dia. — A mulher era uma desalmada, ela havia molestado o filho ainda bebê. Nada mais justo que enfiar uma cobra viva na buceta daquela infeliz.

— E eu sou o doente. _Ironizo, bebendo minha água e molhando minha garganta seca.

— Então não a trouxe para dividir com a gente?

— Eu teria que morrer para que algum de vocês tocasse indecentemente num fio de cabelo da Lavínia.

O 27 riu e balançou a cabeça.

— Ela é linda. Muito melhor do que na foto.

— Sim, ela é.

— Encontrou o garoto?

— Ainda não. Mas é só questão de tempo.

— Quando a vi pensei que já havia a sequestrado. Mas ai lembrei que você nunca a traria para a mansão e sim para a floresta.

— Que bom que você me conhece tão bem.

— Por que ela está aqui? _Questionou.

— Hoje a noite vai umas pessoas estranhas no bordel, suspeito que tenha investigador no meio. _Revelo.

— Será que o velho descobriu que o corpo não era da filha dele?

— Saberemos em alguns dias. Enquanto isso vou ter que está de olho nela.

— Por que não matamos logo ele?

— Por que não ia ter graça se fosse tudo muito rápido. _Sorrio com escárnio.

— O 1 deve tá explanando tudo. _Comentou, alertando-me.

— Ele sabe bem o que dizer ou não dizer. Eu não me importo dela saber o que sou e o que somos. _Observei o corredor. É bom que ela saiba mesmo quem sou, assim vai manter aquela língua atrevida e afiada dentro da boca.

***

É óbvio que eu não confiava em nenhum homem perto da Lavínia e por isso estava discretamente atento aos três conversando com ela. Aqui todos sabem o que ela é e acredite, por mais que evitemos imaginar ela de forma libidinosa é impossível esquecer que a Lavínia é uma meretriz, ainda que ela tenha sido obrigada pelas circunstâncias a se tornar uma.

Como homem digo que sei o que se passa na cabeça de outro que está diante de uma mulher bonita que ganha a vida trepando. No entanto, fico até mais tranquilo por os três estarem agindo como se ela fosse uma convidada e a fazendo sorrir na mesa.

A MERETRIZ - Predestinada a morteOnde histórias criam vida. Descubra agora